A presença do Filho de Deus
Padre João Medeiros Filho
Regalos, mimos e lembrancinhas foram comprados, adornando as árvores natalinas. Serão abertos na noite santa. As crianças tornam-se ansiosas e felizes. Pais e avós ficam emocionados, ao ver a alegria ingênua de seus filhos e netos. Talvez, lembrem-se de sua infância e imaginam, como o poeta Guilhermino César: “Quem me dera voltar a ser criança outra vez!” Procura-se ornamentar a cidade, mesmo persistindo a pandemia. Brilham luzes coloridas. Parecem dias de encantamento, envolvendo todos. Afloram sentimentos positivos naqueles que creem e até nos incrédulos. Por alguns dias, a bondade e a solidariedade pairam no ar. Trocam-se mensagens de paz e felicidade, braços abertos para o encontro. Serve-se a ceia de natal com fartura de alimentos, nessa noite. Alguns ignoram seus reais motivos e simbolismo.
Difícil encontrar quem não goste do Natal, um período marcado de esperança e alegria. Mas, passa rápido. O que se celebra mesmo nesse dia? Parece relegar-se a um segundo plano o verdadeiro sentido do nascimento de Jesus, o qual deu origem ao cristianismo. Ocorreu há mais de dois mil anos, na Judéia, quando o Império Romano dominava aqueles povos. E, por ser quem Ele é, não se festeja apenas um aniversário, mas comemora-se o evento mais importante da história da humanidade. Na Criança, nascida da Virgem Maria, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade veio à terra. “O Verbo divino se fez carne e habitou entre nós.” (Jo 1, 14). O Eterno entra no tempo. O Infinito faz-se finito. O Todo-Poderoso quis ser pequeno e frágil. Nele contemplamos o rosto humano de Deus e a face divina do homem. Cristo é solidário. Assume nossa pequenez para nos comunicar uma dignidade sublime. Chama-se “Emmanuel”: Deus conosco, Salvador e Redentor da humanidade. Eis o que os cristãos afirmam e acreditam a respeito Dele. Assim, devemos festejar a sua vinda!
Talvez alguém diga: impossível, inconcebível um Deus se tornar humano, sem deixar de ser divino! Isso não faz o menor sentido, dizem alguns! A própria Mãe de Jesus quis saber como seria tal realidade. “Como se dará isto”? (Lc 1, 34) E muitos, depois dela, duvidaram e continuam a dizer: “Não é possível; não pode ser!” É preciso entender as palavras do anjo: “É obra divina, não do homem. Não tenhas medo, Maria. Para Deus, nada é impossível” (Lc 1, 37). A beleza do Natal convida-nos também a esquecer as divergências, sobretudo as agressões e polêmicas ideológicas, oriundas de um radicalismo reinante no Brasil hodierno. Infelizmente, as convicções político-partidárias importam mais que o bem-estar do povo. Natal é um apelo para afastar tudo aquilo que causa divisões, contendas, contradições e hipocrisias na vida social e pública. Urge encontrar Aquele que será capaz de unir, disseminar a paz, nutrir o diálogo e espírito de concórdia, advindos do Verbo encarnado. A reconciliação e o perdão serão consequências da presença de Cristo entre nós.
Vale lembrar o Livro da Sabedoria, que profetizava o nascimento de Jesus: Palavra divina e Luz infinita. A Ternura celeste quis armar a sua tenda entre nós. “Quando a noite ia ao meio do seu curso e um silêncio profundo envolvia o universo, a tua palavra doce, serena, mansa e todo-poderosa desceu do seu trono real para a terra” (Sab 18, 14- 15). O Natal comemora a clemência divina, que se inclina para o homem. O Altíssimo fez-se criança, no meio de nós, para enriquecer-nos com sua grandeza. O homem não pode chegar sozinho a Deus. Mas, não é impensável para o Onipotente aproximar-se do ser humano. Por que Ele deveria ficar atrelado a nossos limites e critérios? Não podemos impor restrições ao amor infinito de nosso Criador. Jesus encarnou-se para que pudéssemos conhecer a magnitude da graça, da misericórdia e do perdão. “Ó surpresa celestial, maravilha divina e inefável. Alvíssaras para o homem!” Assim, exclamou Santo Agostinho. Nada perde o Criador, ao unir-se à criatura, a qual ganha tudo, deixando-se envolver pelo amor surpreendente e inefável de Deus! Feliz Natal para todos e que Cristo habite no coração de cada um!
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