quinta-feira, 19 de agosto de 2021

A urgência da credibilidade

Padre João Medeiros Filho

Atualmente, uma das perguntas frequentes é a seguinte: “Em quem posso acreditar?” Oxalá, houvesse a mesma certeza do apóstolo Paulo, quando se dirigiu a seu discípulo Timóteo: “Sei em quem acreditei.” (2Tm 1, 12). Diante de tantas notícias veiculadas nas redes sociais e na mídia tradicional, é cada vez mais difícil identificar palavras credíveis. No entanto, trata-se de uma urgência, diante de inúmeras inverdades que circulam em vários setores da sociedade brasileira contemporânea. É raro ter conhecimento de relatos que inspirem credibilidade, sem embustes. Necessita-se de pronunciamentos que efetivamente sejam alicerçados na confiabilidade. Deve-se nutrir a sociedade com debates verdadeiros, indispensáveis à recomposição do tecido sociopolítico. Não basta somente dizer o que se pensa, nem opinar a partir de visões parciais, atreladas a grupos e ideologias. É imprescindível revitalizar o protagonismo de discursos críveis. Isto é uma obrigação cidadã e um dever cristão, impreteríveis para que se possa responder a opiniões polarizadas e falas que desagregam. Uma cidadania verdadeiramente qualificada sabe reconhecer a coerência e veracidade do que é propagado. Portanto, representa uma necessidade para o autêntico diálogo, capaz de edificar uma nação.

Infelizmente, há um entendimento equivocado por parte de certos políticos e dignitários brasileiros, impondo cerceamento e distorções, subjugando e atrasando inadiáveis transformações civilizatórias. Tais imposições são fortalecidas por equívocos partidários e contextos ideológicos. Estes são responsáveis pela inadequada concepção do bem-estar social e vêm neutralizando a configuração de uma cidadania propiciadora de novos rumos ao Brasil. É mister que tal aconteça, desde o âmbito da representatividade parlamentar e governamental à consciência participativa dos cidadãos, necessária ao bem coletivo. Urge reconstruir a civilização, a partir do impostergável compromisso de se promover a credibilidade.

Na Encíclica “Fratelli tutti”, o Papa Francisco insiste sobre a urgência da inegociável cultura do encontro para superar dialéticas que resultam em desavenças, inimizades e divisões. Note-se que no Brasil de hoje certos líderes políticos e autoridades dos diferentes poderes agem como promotores de polarizações, bloqueando e anulando possíveis avanços que dependem da capacidade de diálogo. Por isso mesmo, é necessário priorizar a confiabilidade, “deixando de lado toda mentira e dizendo somente a verdade”, como recomenda o apostolo Paulo (cf. Ef 4, 25). Por mais que se fale hoje em direitos, liberdade, democracia, diversidade e pluralidade, a prática e os resultados sociais mostram-se cada vez mais unilaterais, desrespeitosos, impositivos e radicais. Deseja-se um estilo de vida, em que as autênticas diferenças humanas possam conviver integradas, iluminadas e enriquecidas reciprocamente. A fragmentação da sociedade é altamente deletéria.

No Brasil hodierno, contaminado por tantos arrogantes e presunçosos, pressiona-se o trânsito da mentira ou meia verdade. Há os que deliram, como se deuses fossem, ditando normas e regras, à base de sofismas e equívocos. A consequência é o descrédito e a recusa. E não falta quem lute para impingir o falso como verdade, o desonesto ou “jeitinho”, como padrão ético. Torna-se urgente uma cultura renovada, fruto de dinâmicas oriundas de diálogos autênticos. Estes devem buscar alternativas e respostas inovadoras, qualificando escolhas. Importa renunciar à sede de querer impor ideias e opiniões obsoletas. Estas resultam, não raro, de cristalizações subjetivas ou interesses balizados na mesquinhez e ganância. Nesse importante processo de reconstrução social, necessita-se de posturas confiáveis, capazes de promover a paz, superando radicalismos delineados em contendas partidárias com interesses escusos.

Certa feita, ouvimos do senador Affonso Arinos, falando à comunidade do Colégio Santo Inácio de Loyola (RJ): “Se os partidos políticos carregarem em suas entranhas interesses mesquinhos, as campanhas eleitorais tornar-se-ão falaciosas e patranheiros ou ilusórios serão os parlamentos e governos.”  As manifestações sinceras e transparentes são indissociáveis da capacidade de dialogar. Deve-se exigir no trato social a confiabilidade e a verdade, bem diferentes dos discursos populistas e manipuladores. Vale ainda lembrar o eminente acadêmico pernambucano, Dom José Pereira Alves, terceiro bispo diocesano de Natal, em sermão proferido, na antiga catedral, perorando com estas palavras: “Usemos as armas do diálogo e da verdade. Se somos discípulos de Cristo – e Ele é a Verdade – nosso caminho de cristãos consiste em ser verdadeiros e probos!”

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário