quarta-feira, 8 de abril de 2020

O MEU CATIVEIRO
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes


      Das publicações na rede social e na imprensa, notadamente a coluna do amigo jornalista Vicente Serejo, sobre a pandemia do coronavírus, uma delas foi enviada diretamente para mim, por conta da amizade e do talento de Horácio Paiva, que abaixo transcrevo:

A HORA RASA

não há mais onde abrigar-se
o quarto é um símbolo mudo
e a calmaria
sinal de perigo

os odres estão vazios
e muita cautela é preciso ao pisar
as nuvens de silêncios inflamáveis

outrora havia rumor de tambores
que anunciavam a chuva
mas os ventiladores pararam

o quarto está despido
sem sombras e sem luz
sem qualquer movimento de espera
exceto a expectativa
de que uma porta se abra
e exponha o jazigo                       
à exterioridade dos ruídos

(Horácio Paiva)


      Parece que o poeta ouviu o meu sentir cotidiano, no símbolo mudo do meu quarto, a cujo poema eu acrescento: e para quem já não conta com o seu amor permanente, com o qual poderia amenizar os dias intermináveis desta condenação.
      A solidão e o silêncio trazem THEREZA para mim em todos acontecimentos da natureza e da vida. Hoje seria o dia dela "lua cheia", onde nunca deixou de curtir comigo nas cadeiras do nosso jardim, carinhosamente criado por ela para aliviar as tensões da existência.
      Também sinto a falta do abraço de todos os meus netos, do banho diário de piscina com Guilherme onde fazia todo tipo de peripécia, enquanto eu o caçava imitando um tubarão e com isso fazia os meus exercícios necessários. 
      Hoje o meu exercício é sozinho, silencioso, onde fico a rezar ou orar, tanto faz, pedindo ao Criador que salve este mundo velho de tanta desgraça, não bastasse o castigo de conviver com pessoas que comandam os Entes Públicos sem a competência indispensável a melhorar a qualidade de vida do povo, destinatário da existência dos seus representantes.
      Nos momentos dos meus banhos de solo o local invariavelmente escolhido é o jardim da minha querida companheira, buscando as orquídeas que tanto apreciava.
      E o que dizer da Semana Santa, neste momento acompanhada pelo meio virtual, sem o sentir sobrenatural das Catedrais ou das simples Igrejinhas.
      É difícil viver numa masmorra, aliviada pela introspecção a que nos submetemos para orientar os que estão de fora a tomarem iniciativas que ajudem de alguma forma os que sofrem e cumpram as obrigações das quais estou privado de providenciar pessoalmente.
      Também aliviam os meus tormentos e preocupações, os telefonemas e "Zaps" dos muitos amigos, com os quais divido a esperava da salvação.
       A propósito, vejam o que recebi da amiga Magda Botelho, a propósito de acontecimento inusitado ocorrido num hospital no Recife, quando um grupo fazia orações - a imagem fala mais do que eu poderia fizer.




UM ABRAÇO VIRTUAL AOS MEUS LEITORES. QUE DEUS SEJA SEMPRE LOUVADO.

2 comentários:

  1. É sempre muito prazeroso ler os seus textos, caro amigo. E este ainda nos trás o brinde do belo poema de Horácio Paiva !
    Só tenho a agradecer-lhe.
    Um saudoso abraço !

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  2. Querido mestre, vc fala pela alma. Muito ricas suas imagens, um debulhar de emoções, com palavras simples e ternas.

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