terça-feira, 8 de outubro de 2019


Santa Dulce dos Pobres
Padre João Medeiros Filho


A notícia de sua canonização divulgada, no dia 01 de julho passado, trouxe alegria aos brasileiros, em especial aos católicos baianos. Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes era o seu nome civil. Nasceu em Salvador, aos 26 de maio de 1914, ali faleceu, em 13 de março de 1992. No entanto, é mais conhecida como Irmã Dulce ou Bem-aventurada Dulce dos Pobres, denominada, também, de forma grata e carinhosa pelos soteropolitanos, “o Anjo bom da Bahia”. Foi beatificada em 2011 e, no próximo dia 13, será canonizada pelo Papa Francisco. Trata-se da primeira brasileira nata (não mártir) a ser declarada santa pelo catolicismo. Sabe-se que entre as vítimas dos massacres de Cunhaú e Uruaçu, havia mulheres. Irmã Dulce era de saúde frágil, sofria de problemas respiratórios e dormia sentada.
O Papa Francisco afirma frequentemente que “a santidade é a face mais bela da Igreja”. O testemunho de vida dos santos é o seu maior patrimônio. Como diz a Carta aos Hebreus, estamos “envolvidos por uma nuvem de testemunhas [exemplos]” (Hb 12,1), servindo de estímulo para trilhar o caminho da justiça e do amor. O processo canônico para a Igreja reconhecer oficialmente a santidade de um cristão consta de três momentos: “Vox Populi, Vox Ecclesiae e Vox Dei” (a voz do povo, a da Igreja e a de Deus). De fato, a santidade é vivida no cotidiano da existência humana, na maioria das vezes, na simplicidade de uma vida de seguimento a Cristo e ao Evangelho (normalmente, de forma discreta e sem notoriedade). O primeiro passo é o reconhecimento de uma vida humana e cristã exemplar, ou seja, a fama de santidade verificada pelo povo (“Vox Populi”). Isto já era corrente, quando Irmã Dulce vivia aqui na terra. Desde jovem, foi movida pela misericórdia e ternura com os pobres e desvalidos. Com o consentimento da família, ainda jovem, foi transformando sua residência num centro de atendimento aos necessitados. Sua casa era conhecida como “a portaria de São Francisco”. Dentre tantas outras iniciativas, destaca-se a fundação, em 1959, das Obras Sociais Irmã Dulce.
A voz do povo, confirmada pelo testemunho de sua vida, é o núcleo da santidade. O reconhecimento da Igreja (“Vox Ecclesiae”) passa pela aceitação de dois milagres (“Vox Dei”) que são atribuídos pela sua intercessão. O ato miraculoso para a canonização de Irmã Dulce aconteceu com José Maurício Bragança Moreira, músico, natural de Salvador. Estava cego de ambos os olhos. Em meio a uma crise inflamatória ocular, tomou a imagem da Beata Dulce e a levou até os olhos, suplicando com muita fé que ela aliviasse o seu sofrimento. Algumas horas depois, voltou a enxergar. Recebera mais do que havia pedido. Rezou apenas pelo alívio das dores. Mas, a generosidade da santa o fez voltar a ver. O milagre atesta a voz de Deus, testemunhando que a santidade é, acima de tudo, fruto da graça divina. É assim que a Igreja proclama solenemente a santidade de um cristão.
No prefácio da missa da festa de um santo, rezam-se estas palavras: “Nos vossos santos ofereceis um exemplo para a nossa vida, a comunhão que nos une, a intercessão que nos ajuda”. São estes elementos fundamentais da presença dos eleitos de Deus em nossa vida de fé. Quando a Igreja eleva aos altares um batizado é para que sirva de testemunho de vida, pois pelo caminho por ele trilhado, deixa sinais, incentivando-nos a buscar também a santidade. Pela canonização, a Igreja manifesta igualmente a comunhão da fé que nos torna uma única família, em Cristo Jesus. Aqueles que aqui peregrinam, estão unidos aos que já vivem na glória da Eternidade e continuarão a fazer o bem, intercedendo por nós, confirmando a comunhão em Cristo, nosso verdadeiro mediador junto do Pai. É importante que nossa devoção a um santo, seja sempre fundamentada no seu testemunho de vida. “A vontade de Deus é que sejais santos” (1Ts 4, 3). Ou ainda, como diz o apóstolo Pedro: “Como aquele que vos chamou, tornai-vos santos, em todo o vosso proceder” (1Pd 1, 15).

Nenhum comentário:

Postar um comentário