Santa Dulce dos Pobres
Padre João Medeiros Filho
A notícia
de sua canonização divulgada, no dia 01 de julho passado, trouxe
alegria aos brasileiros, em especial aos católicos baianos. Maria Rita
de Sousa Brito Lopes Pontes era o seu nome civil. Nasceu em Salvador,
aos 26 de maio de 1914, ali faleceu, em 13 de março de 1992. No entanto,
é mais conhecida como Irmã Dulce ou Bem-aventurada Dulce dos Pobres,
denominada, também, de forma grata e carinhosa pelos soteropolitanos ,
“o Anjo bom da Bahia”. Foi beatificada em 2011 e, no próximo dia 13,
será canonizada pelo Papa Francisco. Trata-se da primeira brasileira
nata (não mártir) a ser declarada santa pelo catolicismo. Sabe-se que
entre as vítimas dos massacres de Cunhaú e Uruaçu, havia mulheres. Irmã
Dulce era de saúde frágil, sofria de problemas respiratórios e dormia
sentada.
O Papa Francisco afirma frequentemente que “a santidade é a
face mais bela da Igreja”. O testemunho de vida dos santos é o seu
maior patrimônio. Como diz a Carta aos Hebreus, estamos “envolvidos por
uma nuvem de testemunhas [exemplos]” (Hb 12,1), servindo de estímulo
para trilhar o caminho da justiça e do amor. O processo canônico para a
Igreja reconhecer oficialmente a santidade de um cristão consta de três
momentos: “Vox Populi, Vox Ecclesiae e Vox Dei” (a voz do povo, a da
Igreja e a de Deus). De fato, a santidade é vivida no cotidiano da
existência humana, na maioria das vezes, na simplicidade de uma vida de
seguimento a Cristo e ao Evangelho (normalmente, de forma discreta e sem
notoriedade). O primeiro passo é o reconhecimento de uma vida humana e
cristã exemplar, ou seja, a fama de santidade verificada pelo povo (“Vox
Populi”). Isto já era corrente, quando Irmã Dulce vivia aqui na terra.
Desde jovem, foi movida pela misericórdia e ternura com os pobres e
desvalidos. Com o consentimento da família, ainda jovem, foi
transformando sua residência num centro de atendimento aos necessitados.
Sua casa era conhecida como “a portaria de São Francisco”. Dentre
tantas outras iniciativas, destaca-se a fundação, em 1959, das Obras
Sociais Irmã Dulce.
A voz do povo, confirmada pelo testemunho de sua
vida, é o núcleo da santidade. O reconhecimento da Igreja (“Vox
Ecclesiae”) passa pela aceitação de dois milagres (“Vox Dei”) que são
atribuídos pela sua intercessão. O ato miraculoso para a canonização de
Irmã Dulce aconteceu com José Maurício Bragança Moreira, músico, natural
de Salvador. Estava cego de ambos os olhos. Em meio a uma crise
inflamatória ocular, tomou a imagem da Beata Dulce e a levou até os
olhos, suplicando com muita fé que ela aliviasse o seu sofrimento.
Algumas horas depois, voltou a enxergar. Recebera mais do que havia
pedido. Rezou apenas pelo alívio das dores. Mas, a generosidade da santa
o fez voltar a ver. O milagre atesta a voz de Deus, testemunhando que a
santidade é, acima de tudo, fruto da graça divina. É assim que a Igreja
proclama solenemente a santidade de um cristão.
No prefácio
da missa da festa de um santo, rezam-se estas palavras: “Nos vossos
santos ofereceis um exemplo para a nossa vida, a comunhão que nos une, a
intercessão que nos ajuda”. São estes elementos fundamentais da
presença dos eleitos de Deus em nossa vida de fé. Quando a Igreja eleva
aos altares um batizado é para que sirva de testemunho de vida, pois
pelo caminho por ele trilhado, deixa sinais, incentivando-no s
a buscar também a santidade. Pela canonização, a Igreja manifesta
igualmente a comunhão da fé que nos torna uma única família, em Cristo
Jesus. Aqueles que aqui peregrinam, estão unidos aos que já vivem na
glória da Eternidade e continuarão a fazer o bem, intercedendo por nós,
confirmando a comunhão em Cristo, nosso verdadeiro mediador junto do
Pai. É importante que nossa devoção a um santo, seja sempre fundamentada
no seu testemunho de vida. “A vontade de Deus é que sejais santos” (1Ts
4, 3). Ou ainda, como diz o apóstolo Pedro: “Como aquele que vos
chamou, tornai-vos santos, em todo o vosso proceder” (1Pd 1, 15).
Nenhum comentário:
Postar um comentário