EQUÍVOCOS HOMÉRICOS
Valério Mesquita*
Mesquita.valerio@gmail.com
Nos anos noventa, o deputado
Leonardo Arruda encabeçou um oportuno movimento na Assembleia Legislativa com o
objetivo de tornar sem efeito o título de cidadão honorário norte-rio-grandense
concedido a José Carlos Fragoso Pires. Léo, como advogado e regimentalista,
procurou amparo legal para convalidar a iniciativa que teve o apoio da grande
maioria dos parlamentares. Mas, o título foi entregue
solenemente no plenário da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, com
reservas. O então deputado e atual governador, proferiu o discurso de praxe
repleto de esperança e de visões desenvolvimentistas. De Macau, por terra e
mar, desembarcaram delegações oficiais e privadas, todos entoando o hino da
barrilha. No seu discurso, para justificar a honraria, falou que retomaria
imediatamente o projeto de reabertura da Alcanorte. Todavia, noticias sinistras
pairavam sobre o projeto. Comentou-se que o grupo empresarial estava dividido.
Ou concentrava somente seus investimentos no Rio de Janeiro e não na Alcanorte,
em Macau. A dúvida penalizou o Rio Grande do Norte. Não foi isso que ouvimos
quando votamos o título honorífico. E a Alcanorte foi para o beleleu.
Para quem não se
lembra, Fragoso Pires foi o empresário carioca/paulista que implodiu o projeto
da Alcanorte. Dizem que lá em Macau o vigário ministrou até a extrema unção da polêmica
iniciativa. Relembro os primeiros trovadores que cantaram a adolescente
Alcanorte em verso e prosa: Antonio Florêncio, Tarcísio Maia para não citar
outros. A alcanorte foi mulher de muitos homens. Explorada em muitas cartas e
discursos circunstanciais, ocasionais, para depois de seduzida ser logo
abandonada. Hoje, virou carcaça na periferia de Macau, igual a tantas mulheres que
ganhavam a vida com o suor de suas nádegas. O seu último caso foi com o
industrial Fragoso Pires que a pediu em “casamento” e levou o seu dote de quinze
anos de isenção de ICMS. Logo deixou de ser pública para ser privada. Mas o
casamento não deu certo. O volúvel Fragoso, era homem de muitos casamentos e só
no Rio de Janeiro tornou-se sócio de quinze empreendimentos diferentes. Enciumada,
alquebrada, esquelética, a Alcanorte é tristemente lembrada na comiseração
pública, através das frases carpideiras e lamuriosas dos seus amantes. Depois,
falou-se no Pólo-Gás-Sal. Sim, o gás é nosso! Disseram que não poderia nascer
morto no ventre como nasceu a refinaria de petróleo. Mas, ainda restava uma
esperança. Ai entrou em cena o Pólo-Gás-Sal que se transformou num “bufa-gás”,
aquele orfeônico equipamento inventado pelos cientistas de plantão lá do
Planejamento do Estado.
Sentido-se enganada
na sua boa fé e ultrajada, a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte buscou
uma sanção moral, um ressarcimento ou uma punição que fizesse delir da galeria
honorífica dos grandes cidadãos do Rio Grande do Norte essa figura despicienda e
de tão mau agouro. A intenção não logrou resultado.
E
aí? Tudo virou naufrágio! Uma aventura na qual só um grupo levou vantagem. Nem
Alcanorte, nem barrilha, nem porra nenhuma! Tá lembrado? É a mesma história da
ZPE, da Algimar do conde de Sternberg ou senhor Carlos Raposo, Cerâmica Beatriz
de Bernard Benayon e falam que vai aparecer agora um novo projeto: O “CAVACO
CHINÊS”.
Rio
Grande do Norte sem sorte onde o maior investidor é a Previdência Social. A
paranoia do lucro fácil continua presidindo as ações. Não existe criatividade.
Apenas, a infusão do medo, do ódio, do pesadelo. Não existe um líder que dê de
si, sem trair a si, eis toda questão do senso político. Sem paranoia, sem
passionalismo. O tempo só respeita o que constrói e não o que persegue.
(*) Escritor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário