Já se disse muita coisa acerca do Brasil – tanto por aqui como por aí afora. País do futuro, nação em desenvolvimento, país emergente, futura potência mundial, etc, etc. Lamentavelmente, tudo isso está ficando para trás. Ultimamente, por aqui, o que se percebe em expansão é o pessimismo em galope solto tomando conta dos corações e mentes dos brasileiros – diante de uma repetitiva e dolorosa rotina. É lamentável, não resta dúvida, o que vem ocorrendo no e com o Brasil. Tendo o escândalo da Petrobrás como carro chefe, outros exemplos de mau caratismo se avolumam, atingindo todos os poderes. O Executivo, há muito tempo, deixou de ser levado à sério; pelo Judiciário ninguém mais põe a mão no fogo; e o Legislativo se transformou em casa mal assombrada pelos sucessivos exemplos de práticas condenáveis. Agora, da Petrobrás, emerge um nauseante mar de lama.
À medida que o tempo passa mais se cristaliza nas pessoas a inclinação de que não há vantagem nenhuma em permanecer por estas latitudes numa posição de honestidade. E muito menos no cultivo de um caráter reto, firme, voltado para a defesa de valores e princípios que norteiem o bom proceder. A realidade que se vê, por onde se anda, é a presunção, assumida de forma acintosa, na grande maioria das pessoas, de que o negócio é levar vantagem – não importam os meios, os instrumentos, as condições. Haverá exceções? É a grande esperança que nos resta. De que um remanescente, mesmo que uma diminuta semente brasileira, segure, mantenha, preserve a bandeira da dignidade, da moralidade, da honestidade, da nobreza de caráter, enfim. E de onde virá tal contingente? De qual extrato social surgirão esses defensores da implantação de novos hábitos, de novas práticas, de novos costumes?
Olhando-se hoje para os Olimpos nacionais, onde vicejam e transitam o que se convencionou denominar de lideranças, a coisa está feia. Pois é das tais lideranças – quer sejam políticas, governamentais, empresariais, judiciais, policiais e mais outros ais que não me lembro agora – de onde surgem e prosperam os piores exemplos de corrução, indignidade, desfaçatez, desonestidade, hipocrisia, roubo e outros “predicados” semelhantes. Aí está, portanto, o grande dilema nacional: para quem olhar, a quem recorrer. Pois em qualquer ajuntamento civilizado, nos momentos das piores crises, sempre há que se buscar exemplos em pessoas que exalem confiança, que transmitam dignidade, que impregnem o ambiente nacional com o halo de sua sabedoria, com a firmeza de seu caráter. Agora me responda sinceramente: no Brasil atual em quem nos mirar? Há quem seguir? Há quem ouvir? Em quem confiar?
Na qualidade de brasileiro, me vejo assim em situação bastante desvantajosa em relação a habitantes de outros países. Não que, com isso, eu queira dizer que tudo lá fora é bom e que por aqui nada presta. Não é isso. Mas vejo, por exemplo, o caso de um Primeiro Ministro inglês renunciar ao cargo em função de medidas, por ele adotadas, em desacordo com o povo, relacionadas à guerra do Iraque. Já por aqui... Por aqui o Presidente do Senado Federal, flagrado em convivência escandalosa com a tesouraria de uma empreiteira, permanece ancorado na sua cadeira por conta de uma vergonhosa operação de blindagem executada pela maioria de seus pares. Será que terei de concluir, então, que brasileiro é brasileiro e que inglês é inglês, espécimes, portanto, de origens e escopos diferentes? Recuso-me a aceitar isso. Prefiro sonhar com um horizonte diferente. Será que me darão, pelo menos, direito a isso?
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