domingo, 10 de julho de 2011

TRÊS GERAÇÕES DE POETISAS POTIGUARES




BEM-TE-VI

Palmyra Wanderley

Todas as tardes, sempre à mesma hora,
vem visitar-me um passarinho amigo...
canta cantigas que eu cantava outrora,
canta coisas que eu sinto, mas não digo.
De onde ele vem, não sei; nem onde mora;
se lembranças me traz, guarda-as consigo.
Sinto, no entanto, quando vai-se embora,
que a minha alma não quer ficar comigo.
Hoje tardou... Há chuva nos caminhos,
mas chuva não faz mal aos passarinhos
e ele há de vir, a tarde festejando...
Lá vem ele, ligeiro como um sonho...
canta coisas tão minhas, que eu suponho
ser o meu coração que vem cantando.



ONDE

Zila Mamede

Entre a ânsia
e a distância
onde me ocultar?
Entre o medo
e o multiapego
onde me atirar?
Entre a querência
e a clarausência
onde me morrer?
Entre a razão
e tal paixão
onde me cumprir?



CERTAS MULHERES

Diva Cunha

Certas mulheres catam coisas pequeninas
conchas, feijões, letras

outras distraem-se nos espelhos
contam rugas

algumas contam nuvens
criam cachorros e gatos como crianças

certas mulheres guardam mágoas
ressentimentos, botões, elásticos

algumas são como certos homens
não contam nada
ocupadas com coisas incontáveis.

Nenhum comentário:

Postar um comentário