NEY LOPES DE SOUZA
segunda-feira, 1 de setembro de 2025
terça-feira, 26 de agosto de 2025
Modismos e redundâncias
Padre João Medeiros Filho
A pedido de leitores, volto ao tema. Está em moda citar “todos e todas”, “irmãos e irmãs” etc. Uma redundância desnecessária. A duplicidade de termos nada acrescenta à natureza ou personalidade dos indivíduos. Pelo princípio gramatical, em português, o masculino plural abrange o feminino. Por outro lado, nosso idioma pátrio não herdou a figura do gênero neutro latino. A reação equivocada de certos falantes a esse dado histórico e estrutural de nossa língua deu azo a neologismos e modismos. Por outro lado, segue-se a onda do “politicamente correto”, que invadiu discursos e falas nas últimas décadas. Seus adeptos encarregaram-se de divulgar tais ideias, tentando mudar a linguagem para minorar a exclusão social, um dos problemas não solucionados pelo poder público. E há quem se empenhe, a todo custo, para incluir a linguagem neutra. Algumas propostas de neologismos afogaram-se na própria ridicularidade. Por exemplo, chamar os carecas de “capilarmente diferenciados” é uma dessas tolices. Outras invadiram o nosso vocabulário e o modo de pensar ou falar. Por vezes, nem sequer se dão conta desse contrassenso. Por exemplo, o substantivo velhice começou a ceder espaço ao eufemismo “terceira idade”, que, em seguida, viu-se substituído por uma formulação apatetada de “melhor idade”. É inegável que alguns termos e expressões contêm carga depreciativa, laivos de racismo ou preconceito. “Quem se descuida do falar, causa a própria ruína” (Pr 13,3). De volta à questão de irmãos e irmãs, todos e todas, brasileiros e brasileiras (como José Sarney iniciava seus pronunciamentos presidenciais e programas radiofônicos), o modismo adquiriu o status de “linguagem inclusiva”. Esta reveste-se, por vezes, de uma roupagem governamental, protegendo-a e tornando seu uso corrente em várias esferas administrativas. Tais ideias conseguem penetrar na comunicação religiosa, até na liturgia sagrada. Veja-se o convite na missa: “Orate fratres.” O texto oficial latino não contém a palavra irmãs (“sorores”). Mas, foi traduzido para o português do Brasil como “Orai, irmãos e irmãs.” Tal linguagem, denominada inclusiva, reveste-se de um caráter redundante e populista. Daí, o sucesso junto a cultores dessa vertente e aos que colocam a verdadeira inclusão social apenas nas palavras e não em sérias e autênticas políticas públicas. Vale a pena encher nosso idioma de redundâncias, pleonasmos e penduricalhos? Não seria melhor combater na raiz as reais discriminações e exclusões que causam tanto dano à sociedade? Cabe lembrar ainda que essas falas, ditas de inclusão, contrariam o acordo ortográficolinguístico internacional, firmado pelos países lusófonos, do qual o Brasil é signatário, sendo obrigado a observá-lo. Como o conhecimento do latim faz falta! É preciso ter o cuidado de observar a norma culta do português, “a última flor do Lácio”, tão agredida em sua beleza. Há outro modismo fartamente usado pelos operadores do Direito e na Mídia. Trata-se do vocábulo “feminicídio”, empregado em oposição a homicídio. Este significa o assassinato de qualquer ser humano e não apenas de um varão. A palavra latina “homo” não indica a masculinidade, mas toda pessoa humana. Feminicídio trata-se de um termo impróprio. Ele indica etimológica e semanticamente a destruição do gênero feminino, e não de uma mulher. Aplicando-se a mesma regra proposta, ter-se-ia masculinicídio, morte do masculino. Consoante os lexicógrafos, matar uma fêmea é muliericídio (ou mulhericídio) e não feminicídio. Assassinar um macho é viricídio. Matar a esposa é uxoricídio, exterminar o marido é mariticídio. Feminicídio é termo inadequado para indicar o assassinato de uma mulher, apesar do enunciado da Lei 13.104, Art. 1º, VI. Entretanto, hoje é usado abundantemente, ao arrepio da gramática e linguística. Por razões ideológico-políticas, tenta-se evitar o uso do termo homicídio, que significa assassinato de uma pessoa humana de ambos os sexos. O referido étimo dispensa qualquer outra palavra, exceto se houver necessidade de tipificar o assassinato. Nestes casos usam-se os termos técnicos e científicos acima elencados. A motivação para o emprego de feminicídio não é linguístico-gramatical, e sim política, atentando-se contra o português histórico e clássico. Reza o salmista: “Livra-me e tira-me do poder daqueles cuja boca profere palavras incorretas” (Sl 144/143, 10). O profeta Isaías já advertia seus contemporâneos: “Os que te guiam podem te enganar e destruir o caminho dos teus passos.” (Is 3, 12).
PALAVRAS DE AGRADECIMENTO PELOS SESSENTA
ANOS DE SACERDÓCIO
Faço minhas as palavras de Maria Santíssima, extasiada
diante da graça divina: “O Poderoso fez por mim grandes coisas, Santo é o seu
nome” (Lc 1, 49). O Evangelho não é mera narração histórica. É presença da
eterna novidade de Deus, falando ao coração do homem. Em Belém, Nossa Senhora
testemunhou a inefável gratuidade do Pai, ao ver na pessoa de seu Filho, o
Messias tão esperado, presente na singeleza da Criança, deitada na manjedoura.
Análogo mistério se manifestou, há sessenta anos, quando, pela imposição das
mãos episcopais, a Igreja me ungiu, indigno servo, um “alter Christus” (outro
Cristo). Digo como o poeta Murilo Mendes: “Eu te proclamo grande, ó Deus, não
apenas porque fizeste esta terra imensa com rios e florestas, o sol para
presidir o dia, a lua e as estrelas para iluminar a noite. Eu te proclamo
grande e admirável eternamente, porque Tu te fazes pequeno na Eucaristia para
caber no menor dos corações humanos.” E, um dia, em sua inefável bondade, Deus
me escolheu como ministro de tão augusto mistério.
Esta celebração convida-me a penetrar na profundidade do
Eterno e descobrir o recado do Infinito. A vida sacerdotal tem a missão de
desvelar a transcendência e a beleza do Sagrado, mostrando que Deus escolhe
vasos de argila para conter o tesouro de sua graça (cf. 2Cor 3, 10). O padre
deverá sentir a sede do Absoluto no cotidiano da existência. Hoje, cabe-me
agradecer como o poeta bíblico: “Em toda minha vida, jamais esqueci os teus
preceitos. Pertenço a Ti, Senhor; sê meu apoio e viverei” (Sl 119/118, 93-94).
Sou da geração de padres ordenados durante o Concílio
Vaticano II. Fui formado no contexto do eixo teológico Bélgica-Holanda,
liderado pelo Cardeal Léo Suennes. Deste, ouvi na homilia da Missa de ordenação
de meus colegas de turma este conselho: “Não sejam burocratas do sagrado, nem
funcionários do espiritual. Estejam sempre abertos às surpresas de Deus.
Anunciem o eterno Amor.” Dom Alberto Houssiau, bispo emérito de Liège, nosso
professor, ensinava-nos: “É preciso que o padre seja reto no pensamento, exemplar
na ação, discreto e útil com a sua palavra; próximo de todos com a sua
compaixão; dedicado ao estudo e à contemplação; aliado de quem faz o bem, terno
e compreensível com os que erram, transparecendo a misericórdia de Deus.” No
entanto, há quem queira ser paladino de pautas meramente sociais, como se o
Evangelho fosse uma ideologia ou teoria sociológica. Existem ainda os arautos da intransigência e do radicalismo, que se
consideram donos das bênçãos divinas. A verdadeira mística sacerdotal brota da
vivência do Evangelho, marcada por presença, escuta e compaixão. Jesus ouviu mais do que pregou. E, porque soube escutar, perdoou a muitos.
Ao longo desses sessenta anos, tento viver com
despojamento o sacerdócio. Guardo as palavras de meu saudoso colega Michel
Quoist, semanas antes de minha ordenação: “Os fiéis perdoam as fraquezas de
seus padres, mas desaprovam os que se apegam ao dinheiro e ao poder.” Entendo
como missão do sacerdote servir sempre à Igreja e nunca se servir dela. Meu
desejo é ser um padre simples. Isto me basta. Meu jeito de ser não deverá
ofuscar a presença terna de Cristo. Antes de eu ser padre, papai pediu-me para
ter uma profissão leiga a fim de não pesar ao Povo de Deus. Por isso, sempre
tirei meu sustento do fruto de meu trabalho civil. Tomei consciência do que
pregava o apóstolo Paulo: “Trabalhei, noite e dia, para não vos ser
pesado” (1Ts 2, 9).
Procuro fazer da Missa minha alegria e meu ápice. A saúde
não permite mais celebrar a Eucaristia, como a presidi pela vez primeira. Mas,
mesmo em cadeira de rodas, ando com o coração e a mente, conservando o
entusiasmo e ardor de seis décadas passadas. Hoje, diante do meu bispo, a quem
estimo muito, agradecendo sua atenção para comigo e a presidência desta
liturgia, expresso meu profundo amor e obediência à Igreja, pedindo perdão pelos meus pecados e fraquezas. Como herança,
deixarei a todos a alegria e felicidade que sinto no Altar, fonte de
incomensuráveis favores divinos.
Agradeço aos que me ensinam a ser padre. Aos bispos e
irmãos no ministério ordenado aqui presentes, obrigado pelo privilégio de sua
amizade e complacência, quando sou fraco e pecador. Grato sou às queridíssimas
religiosas deste Mosteiro que me tocam pela sua simplicidade e vivência do voto
de pobreza, impulsionando-me para Cristo no Sacrário. Aos irmãos que frequentam
esta comunidade, muito obrigado pela paciência e caridade com que me suportam.
Perdão por minha desatenção e eventuais incompreensões.
Não seria justo se não agradecesse a minha família, meus
formadores, médicos, fisioterapeutas, colegas de instituições acadêmicas e
culturais, e amigos. Neste dia, uma palavra de profundo reconhecimento aos meus
irmãos por afeto e adoção, que cuidam de mim, por muito mais da metade de minha
existência. Saudade do meu irmãozinho deficiente visual, o qual me provava que
se vê melhor com os olhos da alma. No ano passado, ele foi contemplar a face de
Deus. Uma palavra de gratidão a Monsenhor Expedito Sobral de Medeiros, que me
batizou, na Matriz de Jucurutu. E, mais de duas décadas depois, ali mesmo, no
dia da minha ordenação sacerdotal, ao beijar minhas mãos ungidas, dissera-me:
“Joãozinho, evangelizamos mais de joelhos, pela escuta, com ternura, alegria e
oração, do que com nossos sermões.” A Dom Manuel Tavares de Araújo, gratidão
por tantos ensinamentos e por ter me recomendado, após ungir minhas mãos:
“Padre João, tenha um olhar compassivo para todos. O sacerdócio do qual você
foi investido não lhe pertence, é dos cristãos. Seja sempre um irmão de todos.
É o que os fiéis esperam de você.”
Amigos
e irmãos, grato lhes sou. Continuem rezando por mim, até quando Cristo me
chamar à sua presença celeste. Deus me torne lúcido para poder rezar
diariamente, como Santo Inácio de Loyola: “Tudo o que tenho, foste Tu que me
deste, a Ti devolvo. Tudo é teu, podes dispor. Concede-me teu amor e tua graça.
Isso me basta.” Direi como Santo Agostinho: “Um dia, Tu me chamaste e me
tocaste. Por isso, sinto fome e sede de Ti. Vivo constantemente no desejo de
tua paz!” Meus irmão e amigos, a Cristo prometi um dia servir por toda a minha
vida. Deus abençoe todos! Amém.
Mosteiro de Sant´Ana, em Emaús, 25 de
agosto de 2025
PADRE JOÃO MEDEIROS FILHO
quinta-feira, 14 de agosto de 2025
Assunção
de Nossa Senhora
Padre João Medeiros Filho
A solenidade da Assunção de Nossa
Senhora é celebrada na liturgia católica, no dia 15 de agosto. Entretanto, no
Brasil, a festividade foi transferida para o domingo subsequente à data. O
culto à Virgem elevada ao Céu é um dos mais antigos do catolicismo, remontando
ao século V. Em 1º de novembro de 1950, pela Bula “Munificentissimus Deus”, o Papa Pio XII proclamou o dogma da
Assunção, declarando: “Terminada
a sua peregrinação terrena, Maria foi assunta ao Céu em corpo e alma.”
Os teólogos divergem sobre a morte
biológica da Mãe de Jesus. Alguns acreditam e ensinam que Ela não morreu.
Partem do argumento de sua Imaculada Conceição. Se por dádiva divina foi
preservada de todo o pecado e gerou o Filho de Deus, não deveria perecer, como
os demais seres humanos. Outra corrente teológica afirma que a morte, enquanto
término da vida terrena, tornaria a Mãe Celestial semelhante a seu Unigênito. Por
essa razão, Ela haveria de passar por tal momento, pois Cristo, o Senhor da
Vida, aceitou padecê-lo. Os defensores dessa teoria acreditam que a
Corredentora faleceu, mas foi poupada da degradação corporal, consequência do
pecado. Assim seu corpo, “primeiro sacrário de Cristo”, segundo expressão de
São João Paulo II, não se corrompeu. O Magistério da Igreja preferiu não entrar
no mérito dessa questão, considerada menos relevante por certos teólogos. A Virgem Santíssima desempenhou um
papel fundamental no cristianismo e por isso merecia ser arrebatada por Deus
para a glorificação imediata. Seu corpo santo e puro, exemplar da beleza do ser
humano, criado pelo Pai nos primórdios da história, não poderia ser destruído. A “imagem resplandecente do Deus
vivo e seu rosto materno na terra”, consoante São Boaventura, deveria brilhar imediatamente
na Eternidade.
A Assunção de Maria Santíssima é motivo de ufania para
os cristãos. Elevada ao Céu, torna-se ainda mais nossa intercessora. Daí, o orago de Medianeira das Graças. Deus
distinguiu a Genitora de Cristo e Nela a criatura humana foi exaltada. Assim,
entende-se o merecido título de Nossa Senhora da Guia ou da Glória. Seu
corpo imaculado, após a peregrinação terrena, foi transportado ao Céu, enquanto
primícias dos justos. É significativo o louvor que se presta à Virgem Santíssima,
denominando-a de Nossa Senhora da Vitória ou
do Paraíso, como a invocam os cristãos greco-melquitas.
Maria é ícone e esperança de
quantos aspiram por liberdade e vida, alegria e paz. É garantia de que Deus nos
reserva a beleza da Eternidade. É a certeza do amor incomensurável de seu
Filho, que nos resgatou e morreu para nos libertar. Não gozamos do privilégio
de ser arrebatados ao Céu em corpo e alma, imediatamente após a nossa morte. No
entanto, podemos elevar a Deus o espírito para que seja tomado pela sua graça
infinita. A Virgem de Nazaré ensina-nos que o Onipotente opera em nós
maravilhas. Ela está ao lado de seu Filho para interceder por nós. Aquela que
foi alçada à eterna morada, em corpo e alma, convida-nos a levantar a cabeça, acima
das míseras tentações do mundo. A
Assunção de Maria não é um sonho, e sim a esperança de todos os cristãos de que
um dia o Pai nos chamará para a glorificação. Maria Assunta ao Céu é a
conclusão de sua existência, desfecho inevitável da pureza e santidade, do amor
e fidelidade ao Deus da Vida.
A Assunção da Mãe de
Jesus é fruto de toda uma trajetória dedicada ao plano de Deus, que deseja a libertação
para o seu povo. Maria é penhor de quantos aspiram por paz e liberdade. Ela,
por Cristo, mostra-nos o caminho que leva a Deus, nossa origem e destino. O Pai Celeste não esquece seus filhos, nem os
abandona. Exalta-os e recompensa pela fé. Nossa Senhora indica-nos como viver a
peregrinação terrena, não obstante as dores e provações. Acreditou num mundo
novo, o qual começa com o nascimento de seu Filho e vai se tornando concreto, à
medida em que cresce a consciência da necessidade de amor e fraternidade, diálogo
e serviço. Maria coloca-se como um instrumento nas mãos de Deus. “O Todo-Poderoso fez por mim grandes coisas,
santo é seu nome” (Lc 1, 49).
segunda-feira, 11 de agosto de 2025
Dia do Advogado - OAB 2025
quarta-feira, 6 de agosto de 2025
Domingo dos Pais
Padre João Medeiros Filho
No
Brasil, celebra-se o Dia dos Pais, no segundo domingo de agosto. O sentimento
de paternidade está no âmago da doutrina cristã. Jesus incluiu em sua mensagem
central a figura do pai, desvelada do mistério trinitário. Ele procurou dar
consciência dessa realidade e transmitiu uma religião paternal. Quando os
apóstolos Lhe pediram que lhes ensinasse a rezar, assim se expressou: “Quando
orardes, dizei: “Pai, santificado seja teu nome” (Lc 11, 1-2; cf. Mt 6, 9-13).
Nesta oração, as primeiras súplicas são voltadas para a necessidade de
reconhecer Deus, que nos gerou para a vida em plenitude. O apóstolo Paulo assevera-nos
de nossa filiação divina, ao lembrar na Carta aos Romanos: “Recebestes o
espírito da adoção filial” (Rm 8, 15). A cultura bíblica veterotestamentária
alçava a condição paterna do homem, próxima do sagrado e divino. O código de
ética religiosa, contido no Decálogo, estabelece o respeito devido aos pais,
logo após enunciar os deveres com o Onipotente e antes de enumerar nossas
obrigações com os semelhantes. “Honra teu pai” (Ex 20, 12), aconselha o Livro
do Êxodo. Tal recomendação é endossada pela
Carta aos Efésios: “Filhos, sede
obedientes a vossos genitores” (Ef 6, 1).
O cristianismo prega um Deus paternal, que
vela por nós. Trata-se de algo insólito na história das religiões. Não somos
órfãos, largados à própria sorte. Os homens podem nos deixar esquecidos,
abandonados, à deriva em nossa trajetória existencial. Entretanto, há alguém
que nunca nos abandona: Deus. Nossos progenitores terrenos são ícones Dele, que
é rico de clemência, pródigo de bondade, compaixão e afeto. Por outro lado, Cristo
revelou que a paternidade não consiste simplesmente numa geração biológica, mas
em tudo aquilo que faz brotar dentro de nós amor, respeito, fidelidade,
confiança, justiça, esperança... Isto significa que Ele ampliou a semântica do
termo. Ser pai vai muito além de fatores
biológicos. Abrange uma engenhosa construção sobrenatural, densa de significado
e plenitude divina. A paternidade
constitui-se em substrato afetivo e espiritual, indispensável para se viver com
qualidade, não apenas a própria existência, mas também a trajetória de uma
sociedade equânime e solidária. Na
caminhada humana, nossos genitores são réstias do Divino, acenos do Infinito e
janelas do Eterno. Cristo não dispensou o carinho e a proteção de uma figura paterna
humana.
Quem
não recorda com ternura os que nos transmitiram o dom da vida, dádiva inefável
de Deus? Como esquecer aqueles que nos acolheram, quando pequenos ou grandes,
com sorrisos e braços abertos? Como não lembrar das histórias que nos contavam,
para nos fazer adormecer? É inolvidável sua dedicação, quando após um dia
estafante de trabalho, ainda encontravam tempo para brincar conosco. Inesquecível
a nossa infância, quando guiavam nossos primeiros passos, sonhando com o futuro.
Incalculável o número dos que renunciaram a seus sonhos e projetos para cuidar
da formação dos filhos, aperfeiçoando seu caráter, ensinando-lhes a ser verdadeiros,
dignos, íntegros e responsáveis. Ao pensar neles, nossos corações transbordam
de amor, gratidão e saudade.
Um feliz dia para todos os
que transmitiram o dom da vida, amam, educam, protegem e sabem dizer não,
quando necessário. Aconselham, mostram a dimensão, o sentido e o valor do ser
humano. A eles, nosso perene agradecimento e preces! Cabe rogar a Cristo (que não
dispensou a proteção de São José) as bençãos para todos que têm a missão de imitar
o gesto divino de gerar. Deus derrame sem cessar graças abundantes sobre seus
filhos dedicados, que buscam um mundo mais humano e fraterno. Nossos pais são afagos
celestiais, calor e aconchego espiritual para que possamos sentir a presença de
Deus bem perto de nós. Parabéns e orações para nossos pais terrenos, que
peregrinaram nas estradas da existência e continuarão vivos em cada um de nós. Que
o Pai Eterno e Infinito ilumine cotidianamente os que nos geraram e buscam um
mundo com menos diferenças e privilégios, no qual os direitos sejam iguais. Não
esqueçamos o conselho bíblico: “Aceita,
filho, a disciplina do teu pai e não desprezes a instrução de tua mãe; elas
serão um formoso diadema na tua cabeça e colares
no teu pescoço” (Pr 1, 8).
segunda-feira, 4 de agosto de 2025
ENCANTOU-SE UM GRANDE
AMIGO
ODÚLIO BOTELHO
MEDEIROS
Por: Carlos Roberto
de Miranda Gomes
Éramos três amigos que brincavam sobre quem partiria primeiro: eu, José Correia de Azevedo e Odúlio Botelho Medeiros. O primeiro, apressadinho encantou-se em 23 de janeiro de 2018; hoje partiu Odúlio e eu fiquei na dor do perdimento, pois foram colegas desde os anos 50. Éramos da mesma idade, diferença de poucos meses.
Com
Odúlio convivi o tempo do rádio, na condição de garotos cantores e
posteriormente na labuta constante da defesa das prerrogativas dos Advogados –
ele foi meu vice e sucedeu-me na Presidência, numa jornada difícil, que contei em duas edições
do meu livro Traços e Perfis da OAB/RN.
Nos
últimos tempos nos reencontramos nas lides do Instituto Histórico e Geográfico
do Rio Grande do Norte e na Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do
Norte, de onde ele foi Presidente, substituindo Jurandyr Navarro da Costa.
Fazia
parte das minhas orações diárias rogando pela sua saúde e agora passará para outra
categoria – dos espíritos de luz.
Sua
partida me faz invocar os auspícios da bela poesia de Diogenes da Cunha Lima:
Ser bom amigo é tornar limpa a alma
em flor
É bem melhor que ser parente, é ter
amor,
Pois ser amigo é ter a alma sempre
aberta
Para dois braços que, do abraço, faz
a oferta.
.........
É mais feliz quem pode, a alguém,
chamar “amigo”.
Agora a nossa amizade continua no
campo espiritual, junto aos seus filhos, fiéis avalistas da nossa amizade, para
louvarmos a grande história de quem partiu e deixou incomensurável Saudade.
terça-feira, 29 de julho de 2025
UM NOVO PARQUE DA CIDADE
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes
Em
minhas intercomunicações usuais, recebi do meu irmão caçula José Gomes Filho
(já octogenário), uma notícia publicada num veículo informativo da Prefeitura
Municipal de Natal a respeito da assinatura de um compromisso com o Exército
Nacional, nos termos seguintes:
Prefeitura e Exército assinam termo
de concessão para Parque Linear de Natal
A Prefeitura do Natal e Exército
Brasileiro assinaram o termo de concessão que autoriza a utilização da área às
margens da avenida Engenheiro Roberto Freire para a proposta do Parque Linear
de Natal. A solenidade ocorreu na tarde desta sexta-feira (25), no Palácio
Felipe Camarão. O novo espaço urbano conta com uma área de 10 hectares em
terreno cedido oficialmente pelo Exército Brasileiro ao município.
O prefeito Paulinho Freire destacou a
importância do novo parque urbano para a capital potiguar. “É uma grande
conquista para Natal. Neste espaço, vamos aliar a preservação ambiental e
oferecer um ambiente de lazer e entretenimento para as famílias da nossa
cidade. Agradeço imensamente ao Exército Brasileiro pela cessão do terreno e ao
senador Styvenson Valentim pelo apoio integral ao projeto”, afirmou.
O evento também contou com a presença
da vice-prefeita Joanna Guerra, de secretários municipais, do senador Styvenson
Valentim e de representantes do Exército Brasileiro.
O general de Brigada Alessandro da
Silva ressaltou o papel da instituição na cessão do espaço: “Estamos destinando
o terreno para a construção de um equipamento público voltado à sociedade.
Hoje, formalizamos essa ação com a certeza de que a Prefeitura desenvolverá um
excelente trabalho. Acreditamos que o parque impulsionará a qualidade de vida e
o turismo da região”, explicou o general.
O projeto do Parque Linear de Natal será discutido com a sociedade e Conselho Gestor do Parque das Dunas. A proposta é que a estrutura inclua espaços para educação ambiental, práticas esportivas, atividades de lazer e jardim sensorial.
O
assunto é um ressurgimento de ideia anterior, desenvolvida pelo meu irmão mais
velho (já na dimensão superior da existência) – Arquiteto Moacyr Gomes da
Costa, com o mesmo objetivo, conforme detalhamento que divulguei através de um
dos meus livros “O menino do Poema de Concreto”, edição do Sebo Vermelho, Natal
2014, Capítulo 13 (Um sonho sonhado em que terminei sozinho), fls.163 a 172,
ocupando uma área de 151 hectares, ou seja, um Parque da Cidade, uma miniatura
do Ibirapuera, de São Paulo ou Alto da Boa Vista no Rio de Janeiro, ocupando a
principal via turística de Natal, próximo da praia de Ponta Negra e Via
Costeira, ouvida a população.
Com as
planilhas que Moacyr preparou, dava para avaliar a grandeza e importância do
empreendimento, que dele resultaria a diminuição do congestionamento do
trânsito da Av. Roberto Freire, acompanhando a fralda da duna até o anel viário
do Campus Universitário e muitos outros detalhes de magna importância, até
mesmo a projeção de uma ponte sobre o Rio Potengi direcionada para o Conjunto
Potengi, próximo ao Panatís.
Aquele
sonho durou 4 anos de discussões, com sucessivas modificações. Contudo, pela
intervenção de outros interesses, em uma exposição detalhada para a comissão de
militares do Departamento de Patrimônio e autoridades civis, Moacyr se viu
obrigado a pedir desculpas ao grupo de oficiais, porque o projeto já havia sido
torpedeado pela incorrigível “politicagem” endêmica deste pobre Rio Grande do
Norte.
Será que
agora aquele projeto sairá do papel. Se sair, alguém terá a consideração de
mencionar o trabalho do Doutor Moacyr ou quem sabe, colocar o seu nome em
alguma de suas veredas?
quarta-feira, 23 de julho de 2025
A Senhora Sant’Ana
Padre João
Medeiros Filho
Segundo uma tradição
do século II, os pais de Nossa Senhora eram Ana e Joaquim. Na Sagrada
Escritura, inexistem dados sobre o casal. O documento mais antigo a que se
reporta a Igreja é o “Protoevangelho de Tiago” (datando aproximadamente de 150 d.C.),
o qual goza de prestígio nos primórdios do cristianismo. Apesar de ser um texto apócrifo,
trata-se de importante obra da antiguidade cristã, citada por teólogos do
Oriente, notadamente Epifânio de Salamina e Gregório de Nissa. O nome Hannah
provém do hebraico e significa graça. A genitora da Virgem Santíssima descende
de Aarão. Consoante a tradição cristã, era esposa de Joaquim, pertencente
à estirpe real de Davi. Portanto, dessa nobreza participam Maria e Jesus. A devoção a Sant’Ana remonta ao século VI, no Oriente,
enquanto. São Joaquim passa a ser venerado, por volta dos anos 900. A tradição
diz que o casal possuía recursos, geridos pela esposa. Ela dividia em três
partes iguais os rendimentos do marido: uma destinada ao sustento da família; a
segunda, à manutenção do culto e a última, à ajuda aos carentes. Esse dado, sem
comprovação histórica, fez de Sant’Ana, na época do Brasil colonial (graças
também à
devoção de Dom João VI), padroeira da Casa da Moeda.
A palavra Joaquim
significa confirmado por Javé. O nome Ana é mais frequente na Bíblia. Tem-se
conhecimento de três mulheres assim denominadas. A primeira, trata-se da
profetisa, filha de Fanuel (Lc 2, 36-38) que estava presente no Templo, quando da
apresentação do Jesus. A segunda, a mãe do profeta Samuel (1 Sm 2, 19-21) e a
última, a esposa de Ragoel, irmão de Tobias (Tb 7, 2). De acordo com o “Protoevangelho”,
Ana e Joaquim formavam um casal piedoso, mas vivia triste por não ter filhos. O
marido dirigiu-se ao deserto para jejuar e orar. Lá, apareceu-lhe um anjo, anunciando que ele seria pai de
uma menina. Sua mulher também recebeu um aviso divino: “Teu choro foi ouvido e
conceberás e darás à luz. Tua descendência será ilustre.”
Na Igreja Luterana, Ana é também venerada. Conta-se
que Lutero ingressou na vida religiosa, após pedir a proteção da Mãe de
Maria, numa noite de tempestade. Por esse motivo, em alguns países europeus, é invocada
como protetora contra os raios e trovões. A Avó de Jesus é igualmente reverenciada
no islamismo. Seu nome não consta no Alcorão. Entretanto, é
reconhecida como uma mulher altamente espiritual, tendo gerado Maria. Conforme algumas narrativas
islâmicas, ela não tinha filhos, até a idade avançada. Suplicou ao Altíssimo e deu
à luz uma menina a
quem atribuiu o nome de Miriam.
Fé, amor e temor de Deus são marcantes na vida do santo
casal. A iconografia clássica mostra-nos a genitora de Nossa Senhora, segurando
as tábuas da Lei e ensinando à Filha. Em muitas imagens, ela está sentada com Maria
de joelhos, junto a Torá (Lei). O seu culto expandiu-se pelo mundo inteiro.
Santuários, catedrais, capelas, cidades e províncias lhe são dedicados.
Destaca-se como padroeira da Bretanha, de Quebec e Düren (Alemanha). É titular
de dezessete catedrais brasileiras, padroeira secundária das arquidioceses de
São Paulo e Rio de Janeiro. É igualmente a patrona do estado de Goiás. No Rio
Grande do Norte, é protetora da diocese de Caicó e orago de nove paróquias. A
devoção a Sant´Ana difundiu-se de tal modo que os católicos lhe reservam o aposto
de “Senhora”, outorgado apenas à Virgem Santíssima. Muitos cristãos
passaram a chamá-la de “Nossa Senhora Sant’Ana”, como acontece no Seridó e
alhures. “Bendito seja Deus nos seus anjos e nos seus santos.”
A
presença de Sant´Ana tem marcado a minha vida. Nasci numa paróquia
(Jucurutu/RN) que se originou do desmembramento de terras das freguesias de
Caicó, Campo Grande e Santana do Matos, cujos oragos são a Mãe da Virgem Maria.
Durante quarenta e cinco anos, pertenci canonicamente ao bispado caicoense,
dedicado à excelsa esposa de São Joaquim. Morei mais de duas décadas no Rio de
Janeiro, onde a padroeira secundária é a Avó de Cristo. Há quinze anos celebro
no Mosteiro de Sant´Ana (Emaús/Parnamirim/RN), onde atuo como assistente eclesiástico
da comunidade. “Dai
graças ao Senhor porque Ele é bom. Sua misericórdia é eterna” (Sl 118/117, 1).
segunda-feira, 21 de julho de 2025
THEREZINHA ROSSO
GOMES,
Filha dos imigrantes italianos – Rocco Rosso e Rosina Lovisi,
naturais de Casaletto Spartano, Província de Salerno, que vieram para o Brasil,
respectivamente em 1926 e 1935, trazendo a filha Rachele Rosso e aqui nascendo
em 21 de julho de 1936 a inesquecível THEREZINHA, que hoje completaria 89 anos,
não fosse o chamamento do Criador em 31 de março de 2019.
A minha homenageada foi alfabetizada por Dona Dinorah
Bandeira, sua vizinha da Rua Meira e Sá, passando para os cursos regulares do
Instituto Batista de Natal, Colégio Nossa Senhora das Neves e Escola
Profissional Feminina.
Quando cheguei em Natal, pelos idos de 1948, fui morar na
mesma rua, sendo vizinhos da Rua Meira e Sá – ela no 118 e eu no 120. Daí em
diante fizemos amizade, que se transformou em coleguismo, namoro, noivado e
casamento em 1963 até o final de sua existência, tendo assim a duração de 71
anos de convivência, sendo 54 anos de casados renovados em leito do Hospital da
UNIMED pelo Padre Francisco Motta, da Matriz de São Pedro Apóstolo, Igreja que
nos abrigou desde tenra idade, ao tempo do Padre Martinho Stenzel.
Licenciada para lecionar, não teve essa oportunidade, haja
vista o nosso casamento em 16 de março de 1963 e a vinda dos filhos Rosa em
1964; Thereza Raquel 1967; Carlos Roberto 1969 e Rocco José em 1971. Daí em
diante agigantou-se a mulher e mãe, suprindo todas as lacunas no lar e cuidando
dos filhos com extraordinário cuidado, em todos os sentidos – educação
familiar, saúde, religião e estudos, tanto que todos eles chegaram aos cursos
superiores, ao mesmo tempo em que deu suporte para as minhas conquistas profissionais
e culturais.
Companheira perfeita para administrar o grupo familiar, deu
sucessivas provas de desvelo, suprimento e conciliação da vasta família Miranda
Gomes e Gomes da Costa, ganhando a amizade e confiança de todo o grupo
familiar, que a tratava com transcendental carinho.
A sua Páscoa definitiva pareceu o fim do meu caminhar nesta
dimensão da existência. Contudo, após longo período de mergulho no isolamento e
solidão, foram os seus exemplos e ensinamentos que trouxeram a luz necessária
para a continuidade da família e assim, mantendo o culto à sua memória,
continuamos a labuta diuturna sempre a colocando em nossas vitórias e
dificuldades, sem diminuir a intensidade, como viva estivesse fisicamente.
Hoje, mais uma vez, estaremos na nossa Igreja do Alecrim
orando por ela e nos confraternizando pela dádiva de termos merecido a presença
de tão formidável criatura, cujos exemplos de vida e ações continuam vivos em
nossos espíritos ad aeternum.
QUERIDA THEREZINHA, DONA THEREZA, TECA, PARABÉNS PELO SEU
ANIVERSÁRIO E EXEMPLAR EXISTÊNCIA.
quinta-feira, 17 de julho de 2025
“Como tudo está diferente”
Padre João Medeiros Filho
O
título acima provém de uma frase do poeta latino Virgílio (“Quantum mutatus ab
illo”) e poderá resumir o conteúdo deste artigo. Educava-se de acordo com princípios
éticos considerados permanentes. Pais, avós, tios eram dignos de respeito e
consideração. Quanto mais próximos e experientes, tanto mais merecedores de apreço
e afeto. Era impensável responder de forma deseducada aos idosos, mestres e
autoridades. Tinha-se plena confiança nos familiares dos colegas da vizinhança.
O medo era apenas dos lobisomens
e personagens das histórias de Trancoso, não das pessoas. Hoje, paira a tristeza
por tudo que se perdeu. Teme-se pelo que poderá acontecer amanhã com as
próximas gerações. Para os que estão à margem das leis, os direitos humanos
vigoram. Para os cidadãos honestos, apenas deveres e limitações. Tende a ser esta
a nova configuração da sociedade. Do mesmo
modo, não levar vantagem em tudo significa ser idiota. Pagar as dívidas em dia
é ser otário. Aplaudir corruptos e sonegadores vem se tornando normal e
rotineiro.
Algumas
situações causam indignação e náusea: docentes maltratados em salas de aula,
comerciantes ameaçados por marginais, a insegurança generalizada, a banalização
do homicídio, a narco-sociedade etc. Hoje, cultivam-se valores diferentes
daqueles que eram transmitidos. Bens materiais valem mais que a retidão de
caráter. Jovens exigem um automóvel
novo para passar de ano. Celulares de última geração são prometidos a
estudantes do ensino fundamental. Atualmente, o status predomina e o saber não
importa. Uma tela gigante de smart TV desperta mais interesse do que uma conversa descontraída em família. É mais importante
parecer do que ser.
Quando foi que tudo isto
desapareceu ou se tornou obsoleto? Como seria bom poder retirar as grades das janelas para colocar jarros de flores, deitar numa
rede avarandada no alpendre e dormir sossegadamente nas noites de verão! Aparelhos
eletrônicos, passeios internacionais, roupas de grifes, bebidas finas são meras
superficialidades, ilusões efêmeras que se diluem diante da honestidade. Onde
se poderá respirar um clima de solidariedade, retidão de caráter, justiça e verdade?
Alegrias e gestos de sinceridade
tornam-se um sonho de consumo, cada vez mais distante. Espera-se o tempo de conseguir
proclamar em alto e bom som: abaixo o ter, viva o ser! Poder um dia dizer alvíssaras ao retorno da
verdadeira vida, fértil e simples como a chuva; bela e semelhante a um céu de
primavera; suave, recordando a brisa da manhã e radiante como o nascer do sol.
Que
não seja utopia almejar a volta de um mundo tranquilo, no qual haja dignidade e
justiça, harmonia e amor, como princípios de vida. Deste modo exorta o apóstolo
Paulo: “Detestai o Mal, apegai-vos ao Bem. Não sejais lentos na solicitude,
mostrai-vos solidários” (Rm 12, 10-12). Quem sabe o começo de um novo tempo seja
a vivência dessa mensagem cristã. Crianças e jovens de hoje haverão de agradecer
amanhã. Afirma
o salmista: “A misericórdia e a fidelidade se encontram, a paz e a equidade se
beijam” (Sl 85/84, 11).
Atualmente, fala-se demais em esquerda e direita, mas se esquece da falácia
que isso implica. Deixa-se de ver com realismo e lucidez o caminho a seguir,
agarrando-se à polarização que embrutece e empobrece. Além das posições
políticas e ideológicas, instala-se atualmente nos indivíduos uma espécie de
paralisia mental. Há o temor do que poderá vir em meio a uma infinita
tempestade de informações despejadas sobre a população (em sua maioria,
narrativas) pela revolução digital. Essa convivência ambígua traz angústia às
pessoas. A tendência é de conformismo defensivo, recusa à escolha realista e
sensata. “Confiança, eu venci o mundo”, dissera Cristo (Jo 16,33). O homem
deixou de acreditar em sua força, priorizando a tecnologia. Charles Chaplin
declarou: “Sois homens e não máquinas!” O ser humano está renunciando a si
mesmo para entronizar a máquina. É o que se infere da empolgação com a inteligência
artificial, sem procurar aprofundar a inteligência natural, graça
inefável de Deus. “O que adianta a alguém ganhar o mundo inteiro, se vier a arruinar a sua vida”
(Mc 8, 36), advertia Jesus Cristo.
quarta-feira, 16 de julho de 2025
RELEMBRANDO FRANCISCO FALCÃO FREIRE
domingo, 13 de julho de 2025
A ENCÍCLICA Rerum Novarum E O
DIREITO DO TRABALHO
ADILSON GURGEL, advogado
INTRODUÇÃO
Muito se fala sobre as
conquistas do trabalhador.
Muito se fala sobre as
conquistas do Direito do Trabalho e dos Direitos Sociais.
Pouco se fala que essas
conquistas e esses ramos do Direito são muito recentes e quase nada se fala do
seu nascedouro.
Pouco se fala da
importância de uma certa encíclica do Papa LEÃO XIII, promulgada no final do
Século XIX. Mas ela tem tudo a ver com o Direito do Trabalho. Muito mais do que
diversos doutrinadores jus laboristas.
Por isto, vamos mostrar
aqui que existe um grande relação entre a encíclica Rerum Novarum – RN e
o nascedouro das legislações que impulsionaram a criação deste novo ramo do
Direito.
Mas, vamos começar com um
fato real, vivenciado pelo autor: certa feita, uma amiga solicitou a leitura de
sua dissertação de mestrado. Ao verificar que dizia respeito ao Direito do
Trabalho, ponderou-se que este autor lida um pouco mais sobre tributos e o
Direito Tributário. Mas, ela insistiu: queria a visão de um acadêmico “fora da
bolha”.
Pela leitura, verificou-se que as pugnadas
conquistas do trabalhador ali defendidas deixavam a desejar. Indagou-se se ela
já havia lido a encíclica Rerum Novarum, de 1891 – a qual, procurou-se
mostrar, possuía princípios muito mais avançados do que as teses doutrinárias
expostas na dissertação.
Como ela não havia lido –
inclusive e por óbvio, não constava da sua biografia – entregou-se um exemplar
do documento. Após a leitura, ela disse que havia mudado quase que radicalmente
a sua dissertação, tão impactada que ficou com a leitura da encíclica.
A
SITUAÇÃO DOS OPERÁRIOS NO SÉCULO XIX
Total
desrespeito à dignidade do ser humano
Inicialmente, vamos dar
uma panorâmica de como estava a questão social, que motivou a promulgação da
encíclica leonina.
Com efeito. É por demais
sabida a situação de penúria dos operários e de desrespeito à dignidade do ser
humano, que prevalecia no Século XIX, em especial após a Revolução Industrial e
o nascimento do Capitalismo, com o consequente acúmulo de riquezas: poucos com
muito para viver e muitos com muito pouco para sobreviver.
O historiador H. G. WELLS,
na sua História Universal, descreve bem o que ocorria:
À
medida que a revolução Industrial progrediu, um grande fosso se foi cavando
entre empregador e empregado. (1968:vol. 3º, p. 103),
Para se ter uma ideia do
quanto o ser humano era espezinhado, ressalte-se que somente em 1819, na
Inglaterra, foi promulgada a primeira Lei das Fábricas (Factory Act),
tentando diminuir a bestialidade dos empregadores contra seus empregados.
Parece
incrível que fosse jamais necessário proteger criancinhas de nove anos (!)
contra o trabalho em fábricas, ou limitar o dia nominal de trabalho desses
empregados a doze horas!
A
lei industrial inglesa, de 1819, fraca e débil como nos parece hoje, foi a Carta
Magna da infância; começou daí a proteção das crianças dos pobres, primeiro
contra o trabalho excessivo e depois contra a fome e a ignorância. (WELLS, 1968:vol. 3, p. 284-285).
Tentativas foram
feitas para conter essas ganâncias desumanas, baseadas nas ideias socialistas
advindas dos ensinamentos de BUDA, de LAO TSE e, mais claramente, de JESUS
CRISTO. E, como se mostrou na introdução deste trabalho, tivemos as ideias
materialistas de MARX, de ENGELS e, posteriormente, de LENIN.
No entanto, a
situação só tendia a piorar a cada dia.
Tendo presente
essa visão, o Santo Padre LEÃO XIII, resolveu enfrentar a questão social e fez
promulgar sua carta encíclica RERUN NOVARUM (RN), em 15 de maio de 1891.
Pode-se dizer: trata-se de um documento revolucionário, pois a Igreja se
preocupava mais com sua missão de divulgar o Evangelho. E eis que surge uma
forte instituição em prol da dignidade do ser humano, em especial da classe
operária. Daí sua encíclica chamar a se vivenciar Coisas Novas, com o
subtítulo de “Sobre a condição dos operários”.
A
DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA – DSI
Que
o ser humano seja construtor responsável pela sociedade terrena
Antes de
adentrarmos especificamente na Rerum Novarum e, depois, sua influência
sobre o Direito do Trabalho, é interessante mostrar o que vem a ser a DSI –
Doutrina Social da Igreja.
Inicialmente: como
podemos definir o que vem a ser a DSI?
Fomos
buscar um conceito que foi dado pelo Papa SÃO JOÃO PAULO II, na sua encíclica Solicitudo
Rei Socialis – SRS (Solicitude Social), quando mostra que, a partir do
valiosíssimo subsídio de LEÃO XIII e enriquecido por sucessivos documentos
magisteriais, temos que a DSI se constituiu já:
Um corpo doutrinal
atualizado, que se articula à medida que a Igreja, dispondo da plenitude da
Palavra de Deus revelada por Jesus Cristo e com a assistência do Espírito Santo
(cf. Jo 14, 16-26 e 16, 13-15) vai lendo os acontecimentos, enquanto eles se desenrolam
no decurso da História.
Deste modo, ela
procura guiar os homens para corresponderem, com o auxílio também da reflexão
racional e das ciências humanas, à sua vocação de construtores responsáveis
pela sociedade terrena. (SRS 1)
Ao
que pedimos vênia para acrescentar: e colocando sua opinião em prol da
dignidade de todos os seres humanos.
Assim
é que, no mundo jurídico, muito se elogia o surgimento e o desenvolvimento do
Direito do Trabalho, como instrumento de proteção e garantia dos direitos dos
próprios trabalhadores. Muito se elogia pensamentos e doutrinas trazidos por
pensadores do Direito, da Sociologia Jurídica, da Antropologia Jurídica, das
demais Ciências Sociais e até de quem nunca fez coisa alguma por esse
importante ramo do Direito.
Entretanto,
parece que se desconhece um dos nascedouros desse importante e relevante ramo
do Direito e de tantas outras conquistas sociais, o que veio com o advento da
Doutrina Social da Igreja. Nascimento esse que se deu com a promulgação da
encíclica Rerum Novarum (RN), do Papa LEÃO XIII, publicada no dia 15 de
maio de 1891. Portanto, no final do Século XIX.
Lembrando
que as encíclicas são cartas escritas e promulgadas pelo Papa, sendo destinadas
não só aos fiéis católicos, mas também a todas as “pessoas de boa vontade”.
Normalmente elas abordam problemas sociais do mundo contemporâneo e também
questões de fé e de moral. Como um bom exemplo desta última abordagem, temos a
encíclica Fides et Ratio – FR (1998), do Papa SÃO JOÃO PAULO II.
Ele, com amparo principalmente nos ensinamentos do jesuíta Padre PIERRE
TEILHARD DE CHARDIN (no seu livro O Fenômeno Humano) e na sabedoria
teológica do então Cardeal JOSEPH RATZINGER (depois Papa BENTO XVI) abordou o
delicado tema da conexão ou da ligação entre Fé e Razão.
É
válido lembrar também que, como ÉMILE DURKHEIM
(sociólogo, antropólogo, cientista político, psicólogo social e filósofo, além
de profundo estudioso das questões sociais e considerado o pai da Sociologia) –
talvez em virtude de ter lido o documento leonino (e isto é uma mera conjectura
deste autor), observando que havia uma lacuna na sua tese de doutorado, redigiu
um prefácio à 2ª edição do seu livro De la Division
du Travail Social (1893). Prefácio esse (intitulado por DURKHEIM
de Algunas indicaciones sobre los grupos professionales) que quase se
tornou mais importante do que o livro em si. Na realidade, o fato é que essa
lacuna, na sua tese, era não ter mencionado a importância das associações
profissionais. Com isso, DURKHEIM escreveu esse prefácio ressaltando a
importância dos sindicatos, imaginando-os, inclusive, como elo de ligação entre
o povo e o governo.
Pero esta acción, si es necessaria, no debe degenerar
em uma subordinación estrecha, como ocurió em los siglos XVII e XVIII. Los dos
órganos em relación deben permanecer distintos: cada um de ellos tiene sus
funciones que sólo él puede cumprir.
(1967:25)
Em reforço a esse
posicionamento, o Papa PIO XI, em 1931, ao comemorar os 40 anos da RN,
agora na sua encíclica QUADRAGESIMO ANNO (QO), mas citado pelo
Papa SÃO JOÃO XXIII, no item 21, da encíclica MATER ET MAGISTRA (MM), de
1961, estabelece que:
Aos trabalhadores,
afirma ainda a Encíclica (RN), reconhece-se o direito natural de constituírem
associações ... e ainda o direito de agirem, no interior delas, de modo
autônomo e por própria iniciativa, para assegurarem a obtenção dos seus
legítimos interesses.
A
contribuição da RN para a criação de sindicatos livres e independentes é
uma pequena amostra do como a DSI ajudou a construir os direitos sociais dos
trabalhadores em todo mundo democrático.
Antes
de continuar, enumera-se os princípios basilares, que fomentam até hoje a DSI,
mostrando como toda ela objetiva a proteção dos operários e a dignidade do ser
humano.
Este resumo foi em parte inspirado no que fez o
Papa SÃO JOÃO XXIII, na sua encíclica Mater et Magistra (MM). Esses
princípios dizem respeito:
1) Ao trabalho que não pode ser considerado
como mercadoria, mas um modo de expressão direta da pessoa humana. Como
que para quase todos o trabalho é o único meio de subsistência, a sua
remuneração não pode deixar-se à mercê do jogo automático das leis do mercado.
Sim, ela deve ser estabelecida segundo as normas da justiça e da equidade.
2) À propriedade privada, mesmo dos bens
produtivos, é considerada como um direito natural que o Estado não pode
suprimir. Mas, chama a atenção para o fato de que ela, intrinsecamente,
comporta uma função social, sendo igualmente um direito, que se exerce em
proveito próprio e para bem dos outros.
3) Ao Estado, considerando que ele tem sua
razão de ser na realização do bem comum na ordem temporal. Por isto, ele tem
que intervir na ordem econômica, com o objetivo de promover a produção
suficiente de bens materiais, cujo uso é necessário para o exercício da
virtude. O Estado tem também a missão de proteger o direito de todos os
cidadãos, em especial os mais fragilizados (MM, item 19).
4) Ao Estado, instando a que vele pelas
relações do trabalho para que elas sejam reguladas segundo a justiça e a
equidade, com o indispensável respeito à dignidade da pessoa humana. Com isso e
com outros tópicos, a encíclica leonina indicou linhas que inspiraram a legislação
social dos Estados contemporâneos. Tais linhas foram de tanta importância, que
o Papa PIO XI já chamava atenção, na sua encíclica Quadragesimo Anno, que eficazmente contribuíram para o
aparecimento e a evolução de um novo e nobilíssimo ramo do direito, o "direito
do trabalho". (MM, item 20)
5) Aos trabalhadores é reconhecido o direito
natural de constituir e reunir-se em associações, para assegurarem a obtenção
dos seus legítimos interesses econômico-profissionais. Torna-se imperativo
demonstrar que aqui está a origem dos modernos sindicatos. (MM, item 21)
6) Aos operários e empresários é imperativo que
regulamentem as relações mútuas, inspirando-se no princípio da solidariedade
humana e da fraternidade cristã. E desde lá a DSI afirma que tanto a
concorrência de tipo liberal como a luta de classes no sentido marxista são contrárias
à natureza e à concepção cristã da vida. (MM, item 22)
Passemos
agora a novas considerações, especificamente sobre a RN, em reforço do
que ora se argumenta. Obviamente sujeito à apreciação dos doutos.
A
ENCÍCLICA RERUM NOVARUM – 1891
O
início da DSI
Críticas
à questão operária
A encíclica Rerum Novarum distingue-se das
demais por ter dado a todo o gênero humano regras seguríssimas para a boa
solução do espinhoso problema do consórcio humano, a chamada “questão social”,
precisamente quando isso era mais oportuno e necessário. (Papa PIO XI, logo
no início da sua encíclica Quadragesimo Anno, de 1931)
A RN é tida
como o documento que iniciou a DSI – Doutrina Social da Igreja.
PARÊNTESIS: o leitor que não
possuir a Rerum Novarum, pode baixá-la direto do sítio do Vaticano, no
endereço: https://www.vatican.va/content/leo-xiii/pt/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_15051891_rerum-novarum.html
Como aqui veremos,
ela ataca as injustiças e desigualdades provocadas pela Revolução Industrial,
do Século XIX, criticando também as soluções teóricas apontadas pelo socialismo
e pela luta de classes. A encíclica leonina defende firmemente os direitos dos
trabalhadores, mostrando a dignidade do trabalho e da pessoa humana. Também
defende o direito à propriedade privada, exaltando seu uso social. Por último, como
demonstrado, semeou a ideia dos atuais sindicatos de trabalhadores, ao defender
a formação de associações profissionais.
Não resta dúvidas
de que esta encíclica é a mais popular e a mais debatida, por mais de um
século, em especial por tratar da chamada “questão social”. Alguns chegam a
afirmar que a Rerum Novarum foi para a ação social cristã, o que foi o
manifesto dos Comunistas (1848) ou o Capital, de MARX, para a ação
socialista. Mas, é o documento mais importante para as conquistas sociais do
ser humano. Sem dúvida.
Corroborando um
tal pensamento, na encíclica Mater et Magistra (1961), o Papa São JOÃO
XXIII, assim se manifestou sobre a “imortal encíclica Rerum Novarum, que
completava 70 anos”:
7.
Poucas vezes a palavra de um papa teve ressonância tão universal, pela
profundeza e vastidão da matéria tratada, bem como pelo vigor incisivo da
expressão. A linha de rumo ali apontada e as advertências feitas revestiram-se
de tanta importância, que não poderão jamais cair no esquecimento. Foi aberto
um caminho novo para a Igreja. O Pastor supremo, fazendo próprios os
sofrimentos, as queixas e as aspirações dos humildes e dos oprimidos, uma vez
mais se ergueu como defensor dos seus direitos. (MM, item
7)
Se
não, vejamos a grande influência social e humanitária advinda do que diz essa
encíclica com mais de 130 anos de existência e de formação de muitas conquistas
sociais, nela inspirados.
A ENCÍCLICA RERUM NOVARUM E
O DIREITO DO TRABALHO
Um documento à frente do seu tempo
Pelas
citações acima, verifica-se que o documento estava bem à frente do seu tempo!
Ou que chegou na hora certa.
Verifica-se
também que a encíclica leonina como que “chamou o feito à ordem”, exigindo um
posicionamento do Estado frente ao descaso com que os operários eram tratados e
humilhados. Depois dela passamos a ter o Estado efetivamente intervencionista
na vida econômico-social da sociedade política.
Ao
final, nas conclusões, faz-se um resumo dos pontos fortes ou os princípios aqui
defendidos e que foram parar na legislação trabalhista e na legislação social.
Mas,
ainda nesta introdução, transcreve-se, a respeito da encíclica leonina, o que
escreveu BRUNNA RAFAELI LOFITE CASTRO (2010), depois de mostrar que a Rerum
Novarum é um documento que deu início à terceira fase do Direito do
Trabalho, chamada de “fase de consolidação”:
Essa Encíclica
destaca a necessidade de uma nova postura das classes dirigentes perante a
chamada “Questão Social”, que trazia em seu texto as obrigações de patrões e
empregados, fixando o salário-mínimo, a jornada máxima, enfatizando o respeito
e a dignidade da classe trabalhadora, tanto espiritual quanto fisicamente. Por
outro lado, o operário deveria cumprir fielmente o que havia contratado, nunca
usar de violência nas suas reivindicações, ou usar de meios artificiosos para o
alcance de seus objetivos. Neste momento, busca-se também uma intervenção
estatal nas relações de trabalho.
Verifique-se
que a autora chama a atenção para um ponto importante, que ressaltamos neste
texto, é o fato de que o Papa LEÃO XIII, na sua Rerum Novarum, ter tido
a coragem de determinar que deveria haver uma intervenção estatal nas relações
de trabalho. E não ficar apenas olhando toda espoliação do trabalhador e todo
desrespeito com a dignidade do ser humano por parte dos ricos e poderosos.
Podemos então afirmar que tal determinação serviu também para provocar o
nascimento do chamado Estado Intervencionista. Preferentemente democrático e de
direito.
Com a anotação específica
dos itens da RN que interessam ao presente estudo, vamos comentar os
avanços sociais obtidos com a promulgação da mais que centenária encíclica:
ITEM 22 à OBRIGAÇÕES E
LIMITES DA INTERVENÇÃO DO ESTADO
Provocou a mudança do Estado do Laissez
Faire para o Estado Intervencionista
Sugeriu a criação da previdência social
pública
Invoca
a autoridade da lei, pois este item mostra que em todos os casos de excessos
contra os mais fracos, bem como nos atentados contra a saúde, em virtude do
trabalho em excesso, desproporcional à idade e sexo dos operários,
à é absolutamente necessário
aplicar com certo limite a força e autoridade das leis.
Ao
final, lembra: já que a classe rica faz da sua riqueza uma fortaleza e precisa
menos de proteção pública, ressalta algo essencial para os menos afortunados,
ao dispor que:
à o Estado se faça pois, sob um particularíssimo
título, a previdência dos trabalhadores, que em geral pertencem à classe pobre.
Estava aberto, assim, o
caminho para as ideias e ideais sociais de uma maior proteção ao trabalhador,
em especial na aposentadoria e na velhice, com os benefícios da previdência
social pública.
Este
item da RN, foi posteriormente reforçado, 70 anos depois, pela encíclica
Mater et Magistra (de 1961). O Papa SÃO JOÃO XXIII nela afirma que compete
ainda ao Estado velar para que as relações de trabalho sejam reguladas segundo
a justiça e a equidade, e para que nos ambientes de trabalho não seja lesada,
nem no corpo nem na alma, a dignidade de pessoa humana.
Ele
também relembra que, a este propósito, a encíclica leonina aponta as linhas que
vieram a inspirar a legislação social dos estados contemporâneos: linhas, como
já observava o Papa PIO XI na encíclica Quadragesimo Anno, que eficazmente contribuíram para o
aparecimento e a evolução de um novo e nobilíssimo ramo do direito, o
"direito do trabalho".
ITEM
23 à
O ESTADO DEVE PROTEGER A PROPRIEDADE PARTICULAR
Para
que se faça o bom uso da mesma e para garanti-la ao operário
Tal
como já havia chamado a atenção no item 5, a encíclica RN volta a
ressaltar que é dever principalíssimo dos governos assegurar a propriedade
particular por meio de leis sábias. Com isso protege-se aquela parte dos
operários que desejem melhorar de condição, mas utilizando-se de meios
honestos, sem utilizar a violência e sem prejudicar a ninguém.
A
crítica é feita aos que pretendem invadir direitos alheios sob pretexto de
não sei que igualdade.
A encíclica dá um
especial ênfase a essa proteção da propriedade particular não como abençoando
os muito ricos que fazem mal uso de suas posses, mas lembrando de forma
especial do pobre operário que trabalha e sonha com uma “vida melhor” para ele
e para os seus. Como dito: utilizando-se de meios honestos, sem utilizar a
violência e sem prejudicar a ninguém.
ITEM 24 à IMPEÇA AS GREVES
O Estado deve fazê-lo ao prover os meios
de solução pacífica dos conflitos
A
crítica que a encíclica faz a esta desordem grave e frequente, pode
parecer estranho aos olhos de alguns. Mas fato é que que essa observação foi
feita porque havia uma grande convulsão popular à época – Século XIX – em
virtude de os operários serem muito explorados pelos donos do capital. E a
greve era (como ainda é) uma forma de chamar a atenção para problemas graves
e frequentes.
Pela
leitura atenta deste item, verifica-se que a intenção leonina é buscar a forma
correta de impedir as greves, tomando as medidas necessárias para elas sejam
evitadas pela falta de motivos ou mesmo suprindo os motivos para elas serem
realizadas. É o que se pode depreender do parágrafo final:
O
remédio (...) é prevenir o mal com a autoridade das leis, e impedir a explosão,
removendo a tempo as suas causas das quais se prevê que possam gerar os
conflitos entre operários e patrões.
ITENS 25 E 26 à PROTEJA OS BENS
DA ALMA
Defende o respeito à dignidade do ser
humano
Inspira a criação do repouso semanal
remunerado do trabalhador
De
forma genérica, a encíclica demonstra o dever que cada um de nós devemos ter em
respeitar igualmente a todos os seres humanos, quando afirma:
A ninguém é lícito
violar impunemente a dignidade do homem, do qual Deus mesmo dispõe com grande
reverência, nem lhe colocar impedimentos, para que ele atinja o aperfeiçoamento
ordenado a conquistar a vida eterna (...) pois estes são deveres para com Deus
que são absolutamente invioláveis.
No
item 26, defende a necessidade do “repouso festivo”, não só para o corpo mas
também para um repouso consagrado à religião.
A lição é bíblica
e nos vem do início das Sagradas Escrituras, quando Iahweh prescreveu ao homem
uma lei especial para esse repouso ao determinar: Lembra-te do dia do sábado
para santificá-lo. (Ex
20, 8)
Por
oportuno, nunca é demais lembrar que o livro do Êxodo, que contém esse sábio
conselho de Iahweh (nome hebraico do Deus bíblico do antigo Reino de Israel),
foi escrito entre os anos 1450 e 1410 a.C., sendo tradicionalmente atribuído a
Moisés a sua autoria.
Quase desnecessário dizer
que o Santo Padre LEÃO XIII deve ter se inspirado no conselho divino, com mais
de 3.000 anos, para enfatizar esse descanso. Com suas colocações doutrinárias,
impossível não se ver na Rerum Novarum a inspiração para o repouso
semanal remunerado do trabalhador! Hoje, isto já faz parte de todas as
legislações do Direito do Trabalho, no mundo inteiro.
ITEM 27 à PROTEÇÃO DO
TRABALHO DOS OPERÁRIOS,
DAS MULHERES E DAS CRIANÇAS
Necessidade de se limitar a jornada de
trabalho
Agora
parte para a defesa de uma limitação quanto ao tempo de trabalho, não indo além
do que as forças humanas o permitem.
Não é justo nem
humano exigir dos operários – homens, mulheres e crianças – tanto trabalho a
ponto de fazer, pelo excesso de fadiga, embrutecer o espírito e enfraquecer o
corpo.
Naquela
época chegava-se ao absurdo de se exigir do trabalhador o inverso do que se
conquistou hoje, aplicando-se, então, um turno de 16 horas! Com apenas 8 horas
para descanso. Daí o Papa LEÃO XIII defender que o número de horas de trabalho
diário não pode exceder à força dos trabalhadores. Argumenta até para que haja
diferentes turnos de trabalho para diferentes atividades, dando como exemplo
aquele de extrair pedra, ferro, chumbo e outros materiais ocultos debaixo da
terra, que deve ter uma duração menor.
Vai até um pouco mais
adiante ao defender que se levem em consideração até as estações do ano, porque
não poucas vezes um trabalho que facilmente se suportaria numa estação, é de
fato insuportável em outra.
ITEM 29 à O QUANTITATIVO DO
SALÁRIO DOS OPERÁRIOS
Ideia do salário-mínimo
A ideia defendida pela
encíclica é de que o salário não deve ser insuficiente para assegurar a
subsistência do operário sóbrio e honrado. A encíclica enfatiza que trabalhar é
essencialmente o exercer uma atividade com o fim de suprir algumas necessidades
do ser humano, principalmente a sustentação da própria vida. E vai buscar sua
fundamentação lá no livro do Gênesis 3, 19, onde está a ordem: Comerás o teu pão com o suor do
teu rosto.
Mas impõe-se o pagamento de um salário justo, que o
patrão paga e não seria obrigado a mais nada. A não ser que negue o pagamento
ou o operário queira receber pelo que não fez, a justiça é lesada e, neste
caso, é que o Poder Público poderia intervir para fazer valer o direito; tanto
de um quanto do outro.
Complementa mostrando e recomendando que o patrão e
o operários podem fazer todas as negociações, mas não pode o primeiro
constranger o trabalhador a aceitar tarefa maior do que sua capacidade, como
acontece com o trabalho em condição análoga ao de escravo:
Façam, pois, o patrão e o operário todas as
convenções que lhes aprouver, cheguem, inclusivamente, a acordar na cifra do
salário: acima da sua livre vontade está uma lei de justiça natural, mais
elevada e mais antiga, a saber, que o salário não deve ser insuficiente para
assegurar a subsistência do operário sóbrio e honrado. Mas se, constrangido
pela necessidade ou forçado pelo receio dum mal maior, aceita condições duras
que por outro lado lhe não seria permitido recusar, porque lhe são impostas
pelo patrão ou por quem faz oferta do trabalho, então é isto sofrer uma
violência contra a qual a justiça protesta.
ITEM 32 E 33 à AS ASSOCIAÇÕES
PARTICULARES E O ESTADO
Ideia da criação dos sindicatos
Justificando
a necessidade que todo ser humano tem de uma cooperação de outros seus
semelhantes, LEÃO XII foi buscar os ensinamentos da Sagrada Escritura:
Mais valem dois
juntos que um só, pois tiram vantagem da sua associação. Se um cai o outro
sustenta-o. Desgraçado do homem só, pois, quando cair não terá ninguém que o
levante. (Eclesiastes
4, 9-12)
E mais esta outra:
“O irmão que é ajudado pelo seu irmão, é como uma cidade forte. (Pr 18, 19)
Foi dessa propensão natural que
nasceu, primeiro, a sociedade civil. Ao depois, surgiram outras sociedades que,
por serem restritas e imperfeitas, mesmo assim, não deixam de ser sociedades
verdadeiras.
Defende
então a existência de leis que permitam associações que partem da natural
sociabilidade do ser humano. Para tanto e no final ele invoca São TOMÁS DE
AQUINO, na Summa Theologica, quando afirma:
Uma
lei não merece obediência, senão enquanto é conforme a reta razão e a lei
eterna de Deus. (Sum. Teol.,
I-II, q. 93, a. 3 ad 2)
Finaliza esses tópicos
ressaltando que as confrarias, as congregações, bem como as ordens religiosas
de todo gênero nascidas da autoridade da Igreja, para fins honestos contra as
quais os poderes públicos não podem arrogar-se de qualquer direito sobre elas.
Tal colocação bem nos levam a concluir e constatar que o Papa LEÃO XIII já
defendia o direito dos operários a se organizarem em associações (hoje
sindicatos), sem que o Estado nelas pudessem interferir.
Foi
deste item 33 que se fez a observação do início deste artigo sobre a defesa do Papa
LEÃO XIII para a criação de associações/sindicatos de operários e que teria
DURKHEIM a escrever o prefácio da 2ª edição da sua Divisão do Trabalho Social.
Inclusive com a afirmação leonina de que o Estado ali não pode intervir:
Os poderes
públicos não podem, pois, legitimamente, arrogar-se nenhum direito sobre elas,
atribuir-se a sua administração; a sua obrigação é antes respeitá-las,
protegê-las e, em caso de necessidade, defendê-las.
ITENS 34 A 36 à AS ASSOCIAÇÕES
CATÓLICAS
A ideia da criação de uma previdência
privada
Esta deve ter inspirado a criação da
previdência social pública
Embora
nestes itens o foco seja trabalhar um tema mais da religião, qual seja que os
operários possam também se reunir em associações católicas, guiando-se pelo
culto de Deus, inculcando-se neles o espírito de piedade, tornando-se
principalmente fiel à observância dos domingos e dias de festa, verifica-se que
a encíclica se preocupava com que, ali então, nas associações de operários,
houvesse um fundo de reserva destinado a fazer face, não somente aos
acidentes súbitos e fortuitos inseparáveis do trabalho industrial, mas ainda à
doença, à velhice e os reveses da fortuna.
Pode-se
então dizer que um tal pensamento possa ter inspirado, posteriormente, a
criação do que hoje conhecemos como FGTS = fundo de garantia pelo tempo de
serviço. Inspira também a criação da previdência social.
CONCLUSÕES:
Verifica-se também que a encíclica leonina
como que “chamou o feito à ordem”, exigindo a intervenção e um posicionamento
do Estado frente ao absurdo descaso com que os operários eram tratados e
humilhados.
Em consequência, depois dela passamos a
ter o Estado efetivamente intervencionista na vida econômico-social da
sociedade política. Passamos a ter também o nascedouro da legislação social,
especialmente do Direito do Trabalho, como aqui demonstrado.
Verifica-se também que os pontos fortes ou
os princípios aqui defendidos foram parar na legislação trabalhista e na
legislação social, em todo o mundo. Seriam eles:
(1) a importância
do trabalho para prover as necessidades da vida;
(2) o respeito à
dignidade do trabalhador;
(3) a proibição do
trabalho escravo ou equiparado ao de escravo;
(4) o pagamento do
salário justo;
(5) o limite da
jornada de trabalho;
(6) o salário ser
suficiente para assegurar a subsistência do trabalhador;
(7) o direito do
trabalhador se reunir em sindicatos;
(8) a previdência
social do trabalhador, inclusive o hoje FGTS;
(9) sem descurar o papel das leis de amparo ao
operário, segundo a lição tomista do que uma lei não merece obediência,
senão enquanto é conforme a reta razão e a lei eterna de Deus.
A respeito da encíclica leonina, assim
escreveu
Repete-se aqui o que, no início deste
artigo, observou BRUNNA RAFAELI LOFITE CASTRO (2010), quando chama a atenção
para um ponto muito importante, que ressaltamos neste texto: é o fato de que o
Papa LEÃO XIII, numa época em que o Estado pouco ou nada se preocupava com o
que estava acontecendo na questão operária, teve a coragem de, na sua Rerum
Novarum, determinar que deveria haver uma intervenção estatal nas relações
do trabalho. Deveria ele sair de sua posição cômoda, descruzar os braços e não
ficar apenas olhando toda espoliação do trabalhador e todo desrespeito com a
dignidade do ser humano por parte dos ricos e poderosos.
Podemos então afirmar que tal determinação
serviu também para provocar o nascimento do chamado Estado Intervencionista.
Preferentemente democrático e de direito.
São essas as considerações que se pode
fazer para demonstrar que, antes mesmo que doutrinadores do Direito abordassem
o tema e que, por óbvio, sequer existisse o Direito do Trabalho, o Papa LEÃO
XIII já tinha tido todas as ideias que conduziram depois à positivação dos
direitos sociais.
AGC – 20241020+20241101
FONTES BIBLIOGRÁFICAS E REFERÊNCIAS CONSULTADAS:
BIBLIA DE JERUSALÉM.
7ª reimpressão. SP: Paulus, 2011.
CASTRO, Brunna
Rafaeli Lofite. A Evolução Histórica do Direito do Trabalho no Mundo e no
Brasil. Artigo publicado em 2010, no sítio do JusBrasil. Baixado em
16/08/2024, no endereço:
CHARDIN,
Pierre Teilhard (1881-1955) O Fenômeno Humano. São Paulo: Ed. Herder,
1970.
DURKHEIM, Émile. (1858-1917) De la
Division del Trabajo Social. Buenos Aires: Shapire Editor, 1967.
LEÃO
XIII, Papa (Vincenzo Gioacchino Pecci, 1810-1903).
Encíclica Rerum Novarum, 1891. 17ª edição. São Paulo:
Paulinas, 2009.
Pode-se
baixar esta encíclica do endereço:
PIO
XI, Papa (Ambroglio Damianno Achille Ratti; 1857-1939). Encíclica Quadragesimo
Anno, 1931. Campinas, SP: Livre, 2022.
JOÃO
XXIII, Papa (Angelo Giuseeppe Roncali, 1891-1963). Encíclica Mater et
Magistra, 1961. 7ª edição. São Paulo: Paulinas, 1980.
WELLS, H. G. História Universal,
vol. 3. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1968.
APENDICE
DOCUMENTOS
DA DSI
A
relevância e a importância da encíclica leonina, que chamou o Estado à
responsabilidade sobre a questão social, repercutiu de uma tal maneira que até
hoje é lembrada com novas Encíclicas e documentos papais.
A
seguir e para quem interessar possa, apresentamos a sequência de todas as
encíclicas e demais documentos que, começando pela RN, fixaram a DSI, em
caráter definitivo:
1891 à Papa Leão XIII (Vincenzo Gioacchino Pecci,
1810-1903). Encíclica Rerum Novarum (A questão social)
1931 à Papa PIO XI – (Ambrogio Damiano
Achille Ratti, 1857-1939) Encíclica Quadragesimo Anno (A
restauração e o aperfeiçoamento da ordem social).
1941 à Papa PIO XII (Eugenio Maria
Giuseppe Giovanni Pacelli, 1876-1958). Radiomensagem Urbi et Orbi do
dia de Pentecostes, em 01/06/1941.
1961 à Papa SÃO JOÃO XXIII (Ângelo José Roncalli, 1881-1963) – Encíclica Mater
et Magistra (A recente evolução da questão social).
1963 à Papa SÃO JOÃO (Ângelo José
Roncalli, 1881-1963) – Encíclica Pacem in Terris (A paz na
terra).
1965 à Concílio Vaticano II –
Constituição Pastoral Gaudium et Spes (A Igreja no mundo de
hoje).
1967 à Papa SÃO PAULO VI (Giovanni
Battista Enrico Antonio Maria Montini,
1897-1978)
– Encíclica Populorum Progressio (Sobre o desenvolvimento dos
povos).
1971 à Papa SÃO PAULO VI (Giovanni
Battista Enrico Antonio Maria Montini, 1897-1978) – Encíclica Octogesima
Adveniens (Karol
Józef Wojtyła, 1920-2005) (Sobre as necessidades de um mundo em
transformação).
1971 à Sínodo dos Bispos – Documento A
Justiça no Mundo.
1981 à Papa SÃO JOÃO PAULO II (Karol Józef
Wojtyła, 1920-2005) – (Karol
Józef Wojtyła, 1920-2005) – Encíclica Laborem Exercens (O
trabalho humano).
1987 à Papa SÃO JOÃO PAULO II (Karol Józef
Wojtyła, 1920-2005) – Encíclica Solicitudo Rei Socialis
(Solicitude social da Igreja).
1991 à Papa SÃO JOÃO PAULO II (Karol Józef Wojtyła, 1920-2005) –
Encíclica Centesimus Anno (No centenário da Rerum Novarum).
1995 à Papa SÃO JOÃO PAULO II (Karol Józef Wojtyła, 1920-2005) –
Encíclica Evangelium Vitae (O Evangelho da Vida).
2001 à Papa SÃO JOÃO PAULO II (Karol Józef Wojtyła, 1920-2005) – Encíclica Novo Millenium Ineunte
(No início do novo milênio).
2009 à Papa BENTO XVI (Joseph Aloisius
Ratzinger, 1927-2022) – Encíclica Caritas in Veritate (A
Caridade na Verdade).
2015 à Papa FRANCISCO (Jorge Maria Bergoglio, 1936-2025) – Encíclica Laudato
Si (Sobre o cuidado da nossa Casa Comum: mudança climática e ecologia).
2016 à Papa FRANCISCO (Jorge Maria
Bergoglio, 1936-2025) – Exortação Apostólica Amoris Laetitia (A
Alegria do Amor) – Sobre o amor na Família.
2020 à Papa FRANCISCO (Jorge Maria Bergoglio, 1936-2025) – Encíclica
Fratelli Tutti (Todos Irmãos) – Sobre a Fraternidade e a
Amizade Social.
è PS: todos esses
documentos podem ser baixados gratuitamente do sítio da Santa Sé, no Vaticano: https://www.vatican.va
è Ou digitando o
nome do documento no Google. Ele busca o documento diretamente do sítio do
Vaticano.