NEY LOPES DE SOUZA
Conheço-o há mais de cinquenta anos. A amizade remonta ao tempo do Colégio Santo Antonio dos irmãos Maristas. Concluímos juntos os cursos primário, ginasial e secundário. Na Faculdade de Direito de Natal fomos contemporâneos. Ele bacharelou-se em 1967 e eu ano seguinte. Servimos também ao governo de Cortez Pereira. Acompanhei depois à distância, a sua trajetória jornalística, a vivência universitária até vê-lo deputado federal por vários mandatos. Somente votei nele uma vez. No caminho político que escolhemos haviam diretrizes partidárias diferentes. Mas, jamais deixei de admirar a sua luta, a inteligência e o brilho da palavra. Desde o tempo da Arcádia Natalense do Marista revelava pendores oratórios. Todos vaticinavam-lhe futuro político.
Dito isto, quero me referir ao noticiário tempos passados que assisti numa emissora de televisão classificando o deputado Ney Lopes de Souza como o campeão de faltas das sessões da Câmara Federal. A reportagem não atentou para o fato do seu desempenho como presidente do Parlamento Latino Americano, cargo importante no cômputo geral dos parlamentos sul americanos. É o terceiro brasileiro a presidi-lo com muita honra para a própria Câmara, o Brasil e o Rio Grande do Norte. O exercício desse mandato exige a presença constante em países do continente e fora dele pelo caráter representativo e da própria liturgia de suas responsabilidades. Frize-se, igualmente, sem qualquer ônus para o Congresso Nacional nem para o governo brasileiro. Por que, então, a colocação perfídiosa e maledicente?
A vida pública exige, muitas vezes, sacrifícios aos protagonistas. É verdade que para uns e outros não. Como político e advogado Ney sempre palmilhou uma conduta de respeito ao povo norte-riograndense. Na história da Câmara, quando muitos se conspurcaram num mar de lama, jamais se ouviu falar dele como envolvido em maracutáias. Ao longo do tempo, sempre manteve coerência e fidelidade partidária, ao ponto, de sacrificar postulações para ser candidato a senador ou a governador de sua terra. Exerceu os mandatos com serenidade e equilíbrio. Foi considerado pelos repórteres políticos de Brasília e do sul do país como uma das cabeças pensantes do parlamento brasileiro. Sempre soube, de forma altiva, enfrentar as adversidades políticas que, na maioria das vezes, a implacável servidão partidária.
Ao tecer tais considerações, eu o faço não por razões políticas porque não mais as alimento, mas, por sentimento de amizade fraterna. E de revolta também. Percebo que a solidariedade não chegou de pronto da parte do seu mundo político aqui no Rio Grande do Norte ante a injustiça flagrante cometida pela desinformação. Ney Lopes de Souza integrou o alto clero da vida pública brasileira. Tanto assim, que ao escolher o nome do nosso conterrâneo Luís da Câmara Cascudo para patrono de um prêmio internacional do Parlatino, agiu com coragem e amor ao Rio Grande do Norte. Outros países que compõem a instituição imaginaram um Jorge Luis Borges, um Pablo Neruda, um Vargas Losa, um Gabriel Garcia Marques mas Ney pensou e decidiu por Cascudo. Poderia, também, sofrer pressão para escolher Carlos Drummond de Andrade, Eríco Veríssimo, Roberto Marinho para bajular a Globo, Gilberto Freire, além de outros ilustres nomes. Mas, elegeu Cascudo. Esse homem merece respeito.
(*) Escritor.
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