DESCOBRIMENTO DO BRASIL - Pioneirismo português
A chegada dos portugueses ao Brasil é um dos resultados finais das grandes navegações,
a exploração oceânica que se deu ao longo de todo o século XV. Apesar
dos espanhóis terem chegado ao continente americano primeiro, os
portugueses são considerados os pioneiros nesse processo de exploração, fazendo grandes “descobertas” nesse período.
O
papel pioneiro dos portugueses foi estudado pelos historiadores e
justificado com base em fatores políticos, econômicos e geográficos.
Primeiro ponto de destaque refere-se à estabilidade política e ao fato de que Portugal tinha um território unificado havia séculos. No caso territorial, os portugueses tinham expulsado os mouros, em 1249. Em comparação, a Espanha, por exemplo, lutou contra os mouros até 1492, e ingleses e franceses lutaram entre si, na Guerra dos Cem Anos, até 1453.
Além de ter um território consolidado, Portugal desfrutava de uma política estável e sem conflitos desde que a dinastia de Avis iniciou-se, no final do século XIV, quando João, mestre de Avis foi coroado rei de Portugal. A estabilidade política e o território unificado possibilitaram o país desfrutar de um desenvolvimento comercial e tecnológico.
Esse
desenvolvimento tecnológico garantiu melhorias na navegação marítima
cruciais para que os portugueses explorassem os oceanos. Essa exploração
englobava os interesses de expansão comercial, militar e religiosa dos portugueses. Na questão comercial, os portugueses possuíam um centro comercial muito importante em Lisboa.
O interesse em mercadorias exóticas, como as especiarias
(pimenta-do-reino e canela, por exemplo), era o que mais movia os
portugueses nesse contexto. A Índia possuía um vastíssimo mercado delas,
motivando-os a manterem contatos comerciais com ela. Como a rota
tradicional, passando por Constantinopla, havia sido fechada, era necessário explorar o oceano para achar uma nova passagem.
Para
isso, Portugal decidiu explorar a costa do continente africano à
procura de uma passagem que levasse à Índia. Essas expedições
fizeram-nos chegar a lugares, como Madeira, Açores e Cabo Verde.
Eles também fizeram a instalação de feitorias, isto é, entrepostos
comerciais, ao longo da costa africana. O desejo de expansão também se
deve ao fato de que os portugueses, enquanto cristãos, procuravam
expandir seus domínios como maneira de promover a cristianização.
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Nesse
contexto de exploração atlântica, os espanhóis decidiram investir em um
explorador que estava decidido a chegar à Índia navegando pelo oeste.
Esse era Cristóvão Colombo, genovês
que havia sido rejeitado pelos portugueses. Com o financiamento
espanhol, ele liderou três embarcações que, acidentalmente, chegaram ao continente americano, no dia 12 de outubro de 1492.
Com
a notícia do achamento de uma nova terra a oeste, portugueses e
espanhóis iniciaram uma disputa diplomática pelo controle das novas
terras que poderiam ser encontradas. Essa disputa levou à redação de uma
bula papal, em 1493, conhecida como bula Inter Caetera, que delimitava a divisão das novas terras entre os dois países.
Os
portugueses, não satisfeitos com o resultado dessa bula, iniciaram
novas negociações com os espanhóis, e o resultado foi a assinatura do Tratado de Tordesilhas,
em 1494. Esse tratado determinou a passagem de uma linha imaginária a
370 léguas do arquipélago de Cabo Verde. As terras a oeste (esquerda)
seriam espanholas, e as terras a leste (direita) seriam portuguesas.
Chegada ao Brasil
A assinatura do Tratado de
Tordesilhas, portanto, era um marco que reforça a ideia de que os
portugueses sabiam que poderiam existir terras a oeste, eles só não
tinham chegado a elas ainda. Depois que o continente africano foi
contornado, eles puderam manter contato comercial com a Índia. Foi nesse
contexto que se organizou a expedição de Pedro Álvares Cabral. Os portugueses queriam explorar as possibilidades a oeste, e depois iriam à Índia comprar especiarias.
Assim, como podemos perceber, o capitão-mor da expedição foi Cabral, e ele estava à frente de 13 embarcações,
sendo três caravelas e 10 naus, que zarparam de Lisboa em 9 de março de
1500. A rota da expedição seguiu um caminho não muito comum, uma
demonstração de que eles fariam uma mudança nela, de forma a explorar o
oeste antes de ir para a Índia.
A expedição entrou na zona de calmaria do oceano entre os dias 29 e 30 de março, permanecendo nela por cerca de 10 dias. Ela cruzou a Linha do Equador
no dia 9 de abril, e em 21 de abril, os primeiros sinais de terra
tinham sido avistados: algas marinhas. No dia seguinte, 22 de abril,
foram avistadas aves pela manhã, e, no entardecer, os portugueses
avistaram o Monte Pascoal.
Os portugueses não desembarcaram naquele dia, e só no dia 23 de abril é que Cabral permitiu que um batel (bote), liderado por Nicolau Coelho, fosse enviado à terra. Lá houve o primeiro contato com os indígenas, acontecimento relatado por Pero Vaz de Caminha.
Alguns dos nativos foram levados à presença de Cabral, e o relato
deixado pelo escrivão é interessante e demonstra a diferença cultural.
Vejamos um trecho:
Mostraram-lhes
um papagaio pardo que o Capitão traz consigo: pegaram-no logo com a mão
e acenavam para a terra, como a dizer que ali os havia. Mostraram-lhes
um carneiro: não fizeram caso dele; uma galinha: quase tiveram medo dela
– não lhe queriam tocar, para logo depois tomá-la, com grande espanto
nos olhos.
Deram-lhe
de comer: pão e peixe cozido, confeitos, bolos, mel e figos passados.
Não quiseram comer quase nada de tudo aquilo. E se provavam alguma
coisa, logo a cuspiam com nojo|1|.
No dia 26 de abril, foi celebrado o Dia de Pascoela, comemoração religiosa celebrada sete dias depois da Páscoa. Essa foi a primeira missa que aconteceu no território brasileiro e foi conduzida pelo frei Henrique de Coimbra. Por fim, a expedição portuguesa resolveu navegar na direção da Índia a partir de 2 de maio de 1500.
A chegada dos portugueses aqui, em
1500, não significou que medidas expressivas de colonização fossem
realizadas. A prioridade portuguesa ainda era o mercado de especiarias,
e, até a década de 1530, a presença portuguesa deu-se por meio de
pequenas feitorias instaladas no litoral. Essas feitorias eram locais em
que se realizava a exploração do pau-brasil.
Nota
|1| CASTRO Sílvio. A carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2013. p. 91
Créditos da imagem
[1] Commons
Por
Daniel Neves Silva
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