quarta-feira, 6 de maio de 2015

FÉLIX - GALEANO



GALEANO, NA LEMBRANÇA



                                                           Félix Contreras





                        Lembro sempre de Eduardo Galeano (Montevidéu, 1940-2015) como pessoa distraída, quase absorto em seus pensamentos e alheio ao que se passava em sua volta. Mas, Gius, como brincando lhe chamavam  -  alusão ao pseudônimo que firmava nas caricaturas que produzia quando era muito jovem  -  escondia sua timidez nessa imagem de pirado, ausente, evadido.



                        Era um belo homem e muito simpático, que sabia mesclar o frívolo e a alta cultura na conversação  -  como Benedetti, Cortázar, Gelman, Vargas Losa.



                        Sua imagem de playboy atraía, quando visitava Havana, as moças da Escola de Letras aglomeradas às portas da instituição acadêmica, muitas delas  bolsistas, mocinhas de província hospedadas no edifício vizinho.



                        Eu trabalhava na Casa das Américas  -  privilégio que me aproximava de Galeano e, obviamente, de muitos outros “monstros” das letras  do Continente  - e por diversas vezes me coube levar-lhe correspondência ou livros que lhe mandavam e os entregava no Hotel Riviera, hotel dos convidados da Casa.



                        Uma de suas vindas a Havana, realizou-a diretamente voando a partir da Espanha, com as malas repletas de Memoria del fuego (Los nacimientos, Las caras y las máscaras, El siglo del viento), feliz depois de muito haver suado com os extenuantes registros e nos intermináveis interrogatórios das autoridades aduaneiras aéreas cubanas, que o levavam a um humor de mil demônios.



                        Direção e funcionários da Casa se aborreciam com seus chistes irônicos e intervenções críticas (refletidos nos famosos informes obrigatórios), mas não “viam” que Eduardo Galeano amava “esta ilha da única maneira digna de fé, com suas luzes e sombras”.



                        Andava acompanhado de suas duas únicas paixões: a história da América Latina e o desejo de maior justiça para toda a  -  sua  -  gente do continente. E, a propósito de justiça, tê-la-á maior do que aquela do jurado do Concurso Casa das Américas que, em 1975, outorgou  -  oh, milagre!  -  a Las venas abiertas de America Latina, em vez do Prêmio Casa, tão simplesmente uma menção?


                                                           (Tradução de Horácio Paiva)

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