sexta-feira, 14 de junho de 2013









DE VOLTA AO PASSADO VII –
ANTIGOS BLOCOS CARNAVALESCOS
– Parte III
Ormuz Barbalho Simonetti

“Hoje eu lembro com saudade
o tempo que passou...”
 
Participei nos anos 60 de dois blocos
carnavalescos: Penetras e Lord’s.
Os Penetras foi fundado no distante
ano de 1964, na Rua Princesa Isabel, pela
turma que diariamente se reunia em frente à
casa do engenheiro Roberto Freire, que
empresta seu nome a uma das principais
avenidas de nossa cidade.
Recordo-me de alguns de seus
componentes: Eudes de Freitas Aquino,
médico nefrologista que alcançou projeção
profissional no sul do país, tendo inclusive
em 2009 assumido a presidência
nacional da UNIMED; Paulinho Freire, filho
de Roberto Freire, Amancinho, filho do
conhecido agrimensor Amâncio Leite
Cavalcanti da copiadora ALEICA; os irmãos
Júlinho e Heráclio, filhos de Wilson Ramalho,
renomado médico pediatra que cuidou de
crianças de várias gerações em nossa capital
nas décadas de 50 e 60;
o saudoso Everaldo carinhosamente chamado
de Veca; Ferreirinha - o pai dele era
proprietário de um antigo posto de gasolina
que se situava ao lado do cemitério do
Alecrim. Ferreirnha teve morte trágica.
Após uma discussão sem maior
importância, foi assassinado no interior da
antiga Sorveteria Oásis, vizinho ao Cine
Nordeste. Marinardo Dantas, José Bezerra
Marinho, Newman Figueiredo, médico e
filho do conhecido professor de matemática
Josino Macedo. Eudes Aquino, em suas
constantes brincadeiras com Newman,
costumava dizer com voz impostada como
quem transmitia uma importante notícia: 
“A biblioteca do Professor Josino, vale
milhões! ...”
A ala feminina era composta por: Vilma,
que morava na mesma rua próximo à casa de
Paulinho, Ana Lúcia, na época namorada e
posteriormente esposa de Veca, as irmães
gaúchas Soraia e Nadja namoradas de
Ferrerinha e Julinho Vilar, respectivamente,
Gracinha, filha do poeta e compositor Oscar
Homem de Siqueira Sobrinho, e outras que
no momento me fogem à memória, pois lá se
vão quase 50 anos de saudosas lembranças e
o “Dr. Alzheimer” já começa a se fazer presente.
Os Penetras tinham uma característica bastante
inusitada que o deferia dos demais blocos da
época. A alegoria era montada e desmontada
todos os dias. O motivo é que o bloco saía no
caminhão da Cerâmica Potengy, de propriedade
do saudoso Roberto Freire. Como o caminhão
só poderia ser liberado após as entregas matinais,
o “kit alegoria” era então montado entre 12 e 13
horas, e desmontado por volta das 20 horas, após
o famoso “corso” da Avenida Deodoro, quando a
alegoria era estacionada na Rua Princesa
Isabel para executar a operação desmonte.
Imaginem a trabalheira no dia seguinte para
localizar e repregar nos locais corretos, as peças
retiradas na noite anterior, já que o desmonte
era feito por alguns abnegados e embriagados
componentes, que heroicamente se
voluntariavam para o serviço. Fui algumas
vezes um desses voluntários para a penosa
operação do desmonte, como também na
montagem do quebra-cabeça. No dia
seguinte, tudo se repetia. Somente no
domingo, como não havia entregas,
estávamos livres do sacrifício. 
Tínhamos inclusive, um hino, que fora
composto pelo compositor Oscar Siqueira,
na época residente em frente à casa de
Roberto Freire.
Penetras, no carnaval, vai dar o que
fazer, Essa turma infernal faz a vida
acontecer.
Nós penetramos, no mundo da folia, já
esquentamos, com tanta alegria.
Agora gritos de alerta: penetras,
penetras, penetras.
Após receber a letra do hino e cantarolar
com alguns componentes, Paulo Freire
modificou o 5° e o 6° versos, que também
passou a ser cantado da seguinte forma:
“Nos penetramos na casa do amigo, já
esquentamos com wiske e abrigo...”
Ao que me recordo, o bloco saiu nos anos
de 1964 e 1965. Não lembro quem foi ou
foram seus presidentes. Entretanto,
lembro-me com saudade daquele tempo,
quando sem sombra de dúvidas, vivi
momentos felizes de minha adolescência.
Entristeço-me em saber que nossos filhos
e netos não tiveram a sorte de terem
nascido numa época tão benfazeja de uma
cidade menina que desabrochava de sua
inocência quase interiorana, para dias tão
 difíceis como os que atualmente
vivenciamos.

 


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