Oh, os tempos! Oh, os costumes!
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes
(*)
No momento ocioso com o qual convivo
na minha solitária aposentadoria, tenho a oportunidade de adentrar nas
informações que a internet oferece mais rapidamente do que nos jornais e
revistas, dando conta dos acontecimentos da vida local, brasileira e do mundo
inteiro.
Como
resultado, analiso os comportamentos do tempo presente e a mudança de costumes,
contrastando com o tempo vivido, nestes, já demorados 85 anos, suplantando a
idade bíblica em 15 anos. (Salmos 90: 10)
Dos
instantes já passados guardo a hegemonia dos conhecimentos e do exercício
permanente da ética em todos os lugares de trabalho, estudos e vida
social/religiosa.
No início
dos estudos regulares, no Instituto Batista de Natal, dirigido por missionários
da Igreja Batista dos Estados Unidos, aprendi a tolerância religiosa, a
convivência com gêneros distintos, haja vista que, à época, tínhamos colégios
só masculinos e femininos, inclusive o tradicional Atheneu.
Esses fatos
permitiram assimilar, com naturalidade harmônica, o convívio com pessoas
diferentes em gênero, raças e opções de toda natureza, sem espanto nem
discriminação, até o grau da universidade.
A vida
social, igualmente, era agradável, pois podíamos frequentar festas, futebol,
lado a lado, apenas com acenos ou troca de palavras jocosas ou irônicas no meio
dos abraços desses opositores desportistas.
No mundo do entretenimento
prevaleciam os bailes de black tie, no campo religioso havia homilias
consistentes, dentro dos princípios da homilética, disciplina que padres
estudam, como ocorria no tempo do Padre Vieira. Hoje, uma boa parcela apenas
reproduz o texto bíblico e até com argumentos divergentes, causando desencanto
ou desalento torturante.
Na atuação
dos poderes prevalecia lhaneza e tratamento respeitoso entre operadores e
destinatários da gestão de cada um deles, cujos ocupantes, em quase sua
integralidade, levava a sério as suas responsabilidades e fundamentava suas
opiniões com consistência.
Os anos
foram passando e os costumes mudaram de forma radical entre as pessoas e nos
órgãos encarregados do atendimento das necessidades públicas ou nos sodalícios
culturais ou esportivos.
Presentemente,
assistimos atônitos, o desprezo da ética, o exibicionismo cultural entre
intelectuais, em contraste com o desinteresse oficial pelo destino do saber, o
desentendimento dos gêneros com fixação de cotas e criação de leis, que por si
sós, reconhecem a existência de discriminação para todos os matizes, o
despreparo e falta de responsabilidade de boa parte dos legisladores, o ensino
com inovações extemporâneas, às vezes até chocantes, a tolerância com a bagunça
e, o pior de tudo, a politização, no mau sentido, das coisas mais triviais.
Essas
divergências acontecem entre legisladores, magistrados, professores, alunos, intelectuais,
torcedores e clubes, estes últimos, envolvidos até com facções criminosas e
lavagem de dinheiro.
Faz-se o
uso, não regulamentado da “inteligência artificial”, verdadeira faca de dois
gumes – agradável para umas coisas e deletéria em outras tantas,
transformando-se numa ferramenta de crimes cibernéticos e consequentemente, com
prejuízos morais e financeiros.
A economia
vacilante, desordenada, de mãos dadas com animosidade radical até atividades
bélicas de forma fatiada e fatídica.
Tudo isso me
faz lembrar o Discurso de Cícero em 36 a.C. na oração contra Catilina, quando
se pronunciou:
Ó tempora! ó mores! que representa a sua indignação, que chegou a ser
interpretada com o sentido de Vergonha desta era e de seus princípios
perdidos!
Continuo
sobrevivendo com o exercício de atividades silenciosas, solitárias,
frequentando os poucos grupos que ainda podem ser reconhecidos
generalizadamente como Confrarias. Lamento que não possa, apenas, ser admitido
como – simplesmente emérito!
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(*)
ocupante da cadeira 33 da ANRL
Sou fã do seu pensamento crítico bem redigido, Dr. Carlos de Miranda. Jamais abdica da clareza e coerência. Permitindo-nos uma interpretação fiel do seu argumento. Concordo com tudo exposto. Minhas felicitações.
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