segunda-feira, 7 de julho de 2025

 

Oh, os tempos! Oh, os costumes!

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes (*)

 

            No momento ocioso com o qual convivo na minha solitária aposentadoria, tenho a oportunidade de adentrar nas informações que a internet oferece mais rapidamente do que nos jornais e revistas, dando conta dos acontecimentos da vida local, brasileira e do mundo inteiro.

            Como resultado, analiso os comportamentos do tempo presente e a mudança de costumes, contrastando com o tempo vivido, nestes, já demorados 85 anos, suplantando a idade bíblica em 15 anos. (Salmos 90: 10)

            Dos instantes já passados guardo a hegemonia dos conhecimentos e do exercício permanente da ética em todos os lugares de trabalho, estudos e vida social/religiosa.

            No início dos estudos regulares, no Instituto Batista de Natal, dirigido por missionários da Igreja Batista dos Estados Unidos, aprendi a tolerância religiosa, a convivência com gêneros distintos, haja vista que, à época, tínhamos colégios só masculinos e femininos, inclusive o tradicional Atheneu.

            Esses fatos permitiram assimilar, com naturalidade harmônica, o convívio com pessoas diferentes em gênero, raças e opções de toda natureza, sem espanto nem discriminação, até o grau da universidade.

            A vida social, igualmente, era agradável, pois podíamos frequentar festas, futebol, lado a lado, apenas com acenos ou troca de palavras jocosas ou irônicas no meio dos abraços desses opositores desportistas.

No mundo do entretenimento prevaleciam os bailes de black tie, no campo religioso havia homilias consistentes, dentro dos princípios da homilética, disciplina que padres estudam, como ocorria no tempo do Padre Vieira. Hoje, uma boa parcela apenas reproduz o texto bíblico e até com argumentos divergentes, causando desencanto ou desalento torturante.

            Na atuação dos poderes prevalecia lhaneza e tratamento respeitoso entre operadores e destinatários da gestão de cada um deles, cujos ocupantes, em quase sua integralidade, levava a sério as suas responsabilidades e fundamentava suas opiniões com consistência.

            Os anos foram passando e os costumes mudaram de forma radical entre as pessoas e nos órgãos encarregados do atendimento das necessidades públicas ou nos sodalícios culturais ou esportivos.

            Presentemente, assistimos atônitos, o desprezo da ética, o exibicionismo cultural entre intelectuais, em contraste com o desinteresse oficial pelo destino do saber, o desentendimento dos gêneros com fixação de cotas e criação de leis, que por si sós, reconhecem a existência de discriminação para todos os matizes, o despreparo e falta de responsabilidade de boa parte dos legisladores, o ensino com inovações extemporâneas, às vezes até chocantes, a tolerância com a bagunça e, o pior de tudo, a politização, no mau sentido, das coisas mais triviais.

            Essas divergências acontecem entre legisladores, magistrados, professores, alunos, intelectuais, torcedores e clubes, estes últimos, envolvidos até com facções criminosas e lavagem de dinheiro.

            Faz-se o uso, não regulamentado da “inteligência artificial”, verdadeira faca de dois gumes – agradável para umas coisas e deletéria em outras tantas, transformando-se numa ferramenta de crimes cibernéticos e consequentemente, com prejuízos morais e financeiros.

            A economia vacilante, desordenada, de mãos dadas com animosidade radical até atividades bélicas de forma fatiada e fatídica.

            Tudo isso me faz lembrar o Discurso de Cícero em 36 a.C. na oração contra Catilina, quando se pronunciou:

Ó tempora! ó mores! que representa a sua indignação, que chegou a ser interpretada com o sentido de Vergonha desta era e de seus princípios perdidos!

            Continuo sobrevivendo com o exercício de atividades silenciosas, solitárias, frequentando os poucos grupos que ainda podem ser reconhecidos generalizadamente como Confrarias. Lamento que não possa, apenas, ser admitido como – simplesmente emérito!

 

________________________________________________________________________

(*) ocupante da cadeira 33 da ANRL

Um comentário:

  1. Sou fã do seu pensamento crítico bem redigido, Dr. Carlos de Miranda. Jamais abdica da clareza e coerência. Permitindo-nos uma interpretação fiel do seu argumento. Concordo com tudo exposto. Minhas felicitações.

    ResponderExcluir