quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013


                AS PERSPECTIVAS DO CATOLICISMO II
         Ciro José Tavares

            Na aula inaugural de Ernest Renan no Colégio de França, depois de ter sido nomeado professor, em fevereiro de 1862, abordando o tema Da participação dos povos semíticos na história da civilização, o auditório liberal acolhe em triunfo sua frase sobre Jesus: “Homem incomparável, tão grande que eu não gostaria de contradizer os que o chamam de “deus”. A despeito disso seu curso é suspenso por sentença do Ministro da Instrução Pública sob pretexto de que ele expõe doutrinas injuriosas à fé cristã e de forma a produzir agitações perigosas. Sua obra A Vida de Jesus, que o obscurantismo da igreja de Roma relacionou no índex, não é nefasto à fé e à moral. É um livro de história, onde o autor pesquisa e apresenta fatos acontecidos na Palestina, há mais de dois mil anos, num tempo em que os romanos tinham a região como província, que Pilatos, Herodes e o Sinédrio de Jerusalém se acumpliciavam para cometer crimes. O livro mostra um país dominado, a pregação de um homem de trinta anos e sua nova mensagem de amor, fé e liberdade.
            Falando a língua do povo, o aramaico, anuncia nos campos e nas cidades, por parábolas e aforismos “que o reino de Deus está em vós.” Registra que esta figura central da história da humanidade, jamais frequentou uma escola e nunca escreveu um livro. Sua docilidade, seu novo testamento “amai-vos uns aos outros, como eu vos amei” recebeu como prêmio a morte numa cruz. O que o autor faz é trazer à atualidade os fatos passados, opiniões de diferentes estudiosos e apresentar suas conclusões do universo pesquisado. Dou-lhes um exemplo: “Não estou bem certo de que a conversão de São Paulo se tenha passado como contam Os Atos, mas ela se passou de uma forma não muito longe disso, já que São Paulo nos conta, ele mesmo, que teve uma visão de Jesus ressuscitado, que deu uma direção inteiramente nova à sua vida”.Oscar Wilde, no livro DE PROFUNDIS, escrito na prisão de Reading, escreve primorosa defesa do livro de Renan e, a partir dele, faz magníficas observações sobre Jesus. Classifica a obra como o Quinto Evangelho, o Evangelho segundo São Tomé. Renan informa Wilde, diz às vezes que a grande façanha de Cristo foi ter-se feito amar tanto depois da sua morte como tinha sido amado durante a vida. Guardo a impressão de que, a exemplo da visão de São Paulo, A Vida de Jesus, de Renan, os sofrimentos no cárcere e as profundas reflexões, foram responsáveis por uma nova vida do poeta inglês. Ao refletir, escrever e colocar em evidência a pessoa de Jesus, Wilde mergulha com indescritível e extraordinária fé no cristianismo. E eu confesso que o DE PROFUNDIS, ao lado da leitura dos Evangelhos, de muitas das cartas de São Paulo, do livro Os Santos que Abalaram o Mundo, de René Fulöp Miller, a coleção Análise da Inteligência de Cristo, de Augusto Cury, significaram o fortalecimento do meu espírito e minha radical opção pelo Cristianismo, que não é diferente da de Santo Agostinho, da de São Tomás de Aquino, da de São Francisco de Assis, da de São João da Cruz, da de Santa Teresa D’Ávila e da dos mártires dos primeiros anos.
            Quero concluir essas reflexões compartilhando alguns trechos da obra de Wilde, cuja leitura volto a recomendar. “O que Deu era para o panteísta, era o homem para ele”. Ele foi o primeiro a conceber as raças dividas como uma unidade. “Disse dele que se localiza ao lado dos poetas. Isso é verdade. Shelley e Sófocles são da sua companhia. Mas toda a sua vida é igualmente o mais maravilhoso dos poemas”.
            “Os seus milagres parecem-me tão belos como a vinda da primavera e tão naturais quanto ela. Não tenho dificuldade alguma em acreditar que tal era o encanto de sua personalidade, que a sua mera presença trazia paz às almas angustiadas, e que aqueles que tocavam seu manto ou as suas mãos esqueciam suas dores, ou que, quando ele passava pela estrada da vida, pessoas que nunca tinham visto os mistérios da vida passavam a vê-los nitidamente, e que outras, que tinham estado surdas para qualquer voz que não fosse a do prazer, ouviam pela primeira vez a voz do amor e achavam-na tão musical como a lira de Apolo”.
“E com certeza, se o seu lugar é entre os poetas, ele é o condutor de todos os amantes. Ele percebeu que o amor era o segredo esquecido do mundo que os homens sábios procuravam, e que só através do Amor poderíamos aproximar-nos dos corações dos leprosos ou dos pés de Deus”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário