O STF E O ENSINO RELIGIOSO
PADRE JOÃO MEDEIROS FILHO
Há
dias, a mídia divulgou com destaque a decisão do Supremo Tribunal
Federal, aprovando a oferta do ensino religioso confessional nas escolas
públicas. Percebe-se, na argumentação daqueles que votaram
favoravelmente, a clara distinção entre laicidade e laicismo. É próprio
de um estado laico não adotar credos, mas não poderá ignorá-los,
tampouco rejeitá-los. A estes conceitos já nos reportamos em artigos
anteriores.
Sociólogos, filósofos e teólogos concluem que a
ignorância religiosa é um mal dos tempos atuais. Pode não parecer, pois
seus efeitos não são imediatos. Entretanto, parte da crise, que abala a
nação brasileira, acontece por falta de educação ética e religiosa
adequada. Muitos políticos se aproveitam da crença da população para
formar suas bases eleitorais. Apoiados num “discurso religioso”, vendem
a imagem de bons cidadãos e cristãos comprometidos. São favorecidos
pela debilidade teológica dos fiéis. Com argumentos moralistas criam
supostos inimigos da fé e atingem a sensibilidade popular. A religião
torna-se um malefício, quando usada para controlar a consciência alheia!
Propagadores do laicismo estatal tentam negar às Igrejas o direito
de formar consciências, mas pretendem concedê-lo a outras formas de
agremiação social. Por exemplo, quiseram introduzir a ideologia do
gênero no Plano Nacional de Educação. Atualmente, voltam-se para a Base
Nacional Comum Curricular. Em setembro último, pelo Parecer 14/2017
(ainda não homologado pelo Ministro de Estado), o Conselho Nacional de
Educação aprovou a autorização do uso do nome social de crianças e
adolescentes nas escolas de educação básica. No entanto, nelas não se
permitia aprofundar a fé, elemento constituinte da essência humana.
O
ensino da religião ajuda a compreender cientificamente os sistemas de
significação transcendental com seus métodos e linguagens. Isso
possibilitará um melhor diálogo e colaboração dos que creem entre si e
com ateus ou agnósticos, em prol da unidade e do progresso da pátria.
Permitirá também que pessoas não sejam manipuladas por líderes
inescrupulosos. Significa igualmente que deverá pensar, de forma mais
analítica, a vida humana e a sociedade. Talvez isso amedronte os
dominadores.
Num país de raízes cristãs, como o Brasil, o ensino da
religião teria entre seus objetivos primeiramente o combate ao
radicalismo, à agressividade e à intransigência, introduzidos e/ou
alimentados por certas ideologias. Trata-se de buscar a harmonia da
sociedade, com a missão de preparar para o convívio social, a
pluralidade, os valores éticos e transcendentes. O radicalismo religioso
traz uma visão estreita, desconsidera a dimensão simbólica da fé e
alimenta preconceitos com sua abordagem inflexível. O ensino das
religiões necessita contemplar diversos métodos: linguístico, histórico,
semiótico e hermenêutico. Estes são imprescindíveis para analisar os
textos sagrados, desvendando o sentido metafórico e espiritual para a
vivência da fé e a consequente aplicação social.
Nosso Estado é
laico, mas seu povo é religioso. Apesar de sua laicidade, tem o dever de
contribuir para a educação do ser humano histórico e cultural. Por
herança e tradição secular, a maioria do povo brasileiro ainda é cristã.
A laicidade constitucional não impede o respeito e o desenvolvimento da
pessoa humana, que inclui a religiosidade – no caso do Brasil – calcada
no Evangelho de Cristo. Ao Estado laico cabe respeitar a pluralidade
dos credos e não os destruir, como pretendem alguns. Veem-se atualmente
determinadas minorias, querendo impor suas convicções, em detrimento das
maiorias. Deve-se indagar sobre o que precisa ser transmitido
prioritariamente. Afinal, a religião ainda é ensinada de modo
impositivo, gerando embates entre fiéis e incrédulos. É lamentável que,
neste momento histórico, alguns cursos superiores de teologia
reconhecidos pelo Ministério da Educação tenham sido fechados, não
vislumbrando a importância da habilitação acadêmica legal dos futuros
docentes. Vale perguntar: A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, os Sistemas de Ensino e as Igrejas estão preparados para o
novo desafio?
Também há de se ter em mente que as religiões exercem
relevante papel na promoção humana e assistência social. Não se pode
negar que onde o Estado brasileiro é um grande ausente, ali estão
Igrejas de diferentes denominações, espíritas, maçons, associações de
serviços etc., ajudando os mais carentes. Isso é fruto também de uma
formação, nascida do ensino religioso, outrora transmitido amplamente
neste país.
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