Preço da Liberdade
“Só é digno da liberdade, como da vida, aquele que se empenha
em conquistá-la”. (Goethe)
(*) Rinaldo Barros
A conversa de hoje é uma ousada
caminhada na trilha de alguns conceitos pouco debatidos em nossa sociedade:
política, democracia, cidadania e liberdade. Para tanto, valho-me do trabalho
do professor Gustavo Bertoche in “Democracia, Cidadania e Liberdade”, publicado
em 2007; conceitos com os quais concordamos.
Para que se compreenda as ideias de
Democracia e Cidadania, devemos antes compreender isto que se chama Política. Todos
imaginamos saber o que é Política.
Todos
os dias lemos os jornais e ouvimos a televisão que nos dizem várias coisas
sobre políticos profissionais: o que o Presidente da República fez, o que o Deputado
de tal partido comentou, o que o Prefeito de tal cidade construiu. No entanto,
isto é realmente Política?
Será
que Política é apenas o conjunto de ações e palavras dos políticos
profissionais?
Do
mesmo modo, não nos perguntamos em que exatamente consiste nossos direitos de Cidadania.
O
que faz de cada um de nós um cidadão?
Às
vezes, basta-nos saber utilizar um ou outro direito; e talvez mesmo imaginemos
que estes direitos são benefícios concedidos pelo governo. A ingenuidade em relação
aos princípios da Democracia e aos princípios da Cidadania é fonte de inúmeras
confusões, e impede as pessoas de lutar pelos seus direitos.
Relembremos.
A política nasceu na Grécia. A Pólis era o centro da vida grega.
A
Pólis era o centro da vida do cidadão grego: era onde ele nascia, vivia e
esperava morrer; era onde ele realizava seus negócios; era sua casa, seu
templo, sua comunidade. A política, portanto, é originalmente toda atividade
realizada pelos cidadãos, e que concorre para o bem da própria Pólis. Mas, o que
é um cidadão?
Cada
cidadão, em uma Democracia, tem direitos que não são apenas os direitos de
votar e ser votado e de escolher como guiará sua vida particular: os cidadãos
têm o direito de derrubar o governo pelo qual não se sintam representados; se esse
for o desejo da maioria. O leitor já havia pensado nisso?
Na
construção do conceito moderno de Cidadania, portanto, foi operante o conceito
de Liberdade individual; a qual pode ser Liberdade negativa (ausência de
coerção) ou Liberdade positiva, pela qual um governo existe a partir de um
consentimento dos cidadãos.
Portanto,
os direitos da Cidadania moderna incluem, além dos direitos de votar e ser
votado e de guiar a própria vida particular; os direitos naturais do homem: o
direito à vida, o direito à propriedade, direito de ir e vir, direito à livre
expressão e o direito à resistência, à oposição ao governo.
Além
disso, a principal característica da Cidadania moderna passa a ser o
consentimento do cidadão ao governante. A Cidadania moderna incorpora a Liberdade
política. No Estado democrático, o destino do
povo está nas mãos do próprio povo. Mas, repito, a Democracia não se resume
apenas em seus cidadãos votarem.
Será que as pessoas têm medo de ser livres?
Aliás, no patropi, vivenciamos uma contradição entre a
existência de uma Democracia representativa e a desigualdade brutal, que permanece
alimentando a miséria e a violência.
A maioria da população brasileira ainda é composta por
analfabetos funcionais (lê, mas não entende); e essa dificuldade a impede que
seja livre para fazer as escolhas capazes de construir uma sociedade de
cidadãos, no pleno gozo dos seus direitos e deveres. Onde todos seriam iguais
porque todos seriam livres. Onde cada cidadão disporia de seus recursos
materiais, intelectuais e espirituais com completa liberdade.
Houve um avanço relativo ao aumento da capacidade
de consumo, nos últimos anos, em razão do avanço da ajuda assistencialista que
o governo proporciona aos mais necessitados. Entretanto, para alcançarmos a
Liberdade política, a plena Cidadania, muitas coisas precisam ainda mudar.
Existem outras formas de aumentar o bem-estar das
pessoas, sem precisar se prolongar indefinidamente com os programas
assistenciais. É urgente superar a visão assistencialista, fundada no
monetarismo especulativo, tal qual ocorre atualmente no Brasil. Do jeito que
está, nunca alcançaremos a Cidadania.
É possível implementar uma outra política
econômica, desenvolvimentista (fortalecendo a produção, e não o consumismo) e
universalizar a educação técnica pública de qualidade, incentivar o
empreendedorismo e fortalecer as micro e pequenas empresas, na cidade e no
campo, para gerar mais trabalho e renda; do que resultará uma sociedade de
cidadãos, com uma vida digna voltada para as próximas gerações.
Resumo da ópera: um Estado será democrático
apenas caso respeite a Liberdade e os direitos primários das pessoas, como o direito à vida, o direito à
propriedade, direito de ir e vir, direito à livre expressão e o direito à resistência e à oposição política, com a
possibilidade clara de alternância no poder.
(*) Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com
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