Tomislav R.
Femenick – Economista, com extensão em história e sociologia
Há varias hipóteses que procuram
explicar o processo civilizatório da humanidade. A primeira é aquela que aponta
a grande transformação das primeiras comunidades humanas, quando essas deixaram
de ser caçadoras e formaram os primeiros núcleos de agricultores. A etapa seguinte
teria sido a produção de excedentes, isso é, quando essas comunidades passaram
a produzir alimentos em quantidade maior do que sua capacidade de consumo. A
saída natural foi a troca das sobras com grupos que tinham alimentos
diferentes.
Esse passo foi um grande salto,
pois gerou a percepção da necessidade de troca de informações entre as
comunidades e com ela, os rudimentos da economia, da sociologia (povos
diferentes têm hábitos e práticas diferentes),
da linguagem e de todos os elementos cognitivo das relações exógenas. Todavia,
para que essas trocas de mercadorias e conhecimento fossem possível era
indispensável a existência de via que facilitassem a comunicação entre os
diferentes núcleos de produção. Se dermos um salto na escala do tempo, veremos
as grandes vias marítimas abertas pelos fenícios e gregos (e mais tarde pelos portugueses),
as “estradas de rios” adotadas pelos chineses, as grandes estradas do império
romano que cortavam o território europeu e do oriente próximo e as vias dos incas,
que singravam pela cordilheira andina.
E nós, aqui no Rio Grande do
Norte; o que tínhamos antes e o temos hoje? No inicio do século passado, o
porto de Areia Branca era o sétimo maior porto do Brasil, em movimentação
de tonelagem. Por ele era exportado sal, algodão, cera de carnaúba, minérios de
gesso e outros produtos. Dele partia uma estrada de ferro que nos ligava a
cidade de Souza, na Paraíba e o projeto era que atingisse o Rio São Francisco.
Algodão, cera de carnaúba e gesso desapareceram de nosso mapa de exportação e o
governo militar cometeu um crime imperdoável: arrancou os trilhos da ferrovia,
como o fez com a que ligava Natal a Recife. Mas não podemos nos esquecer da
grande obra, um verdadeiro desafio de engenharia, que foi a construção do porto
ilha de Areia Branca, um dos maiores terminais exportador de sal do mundo.
O nosso Estado, até por sua
localização geográfica, sempre foi “um elefante afoito” no campo aeronáutico,
como ponto de apoio às rotas aéreas que cruzam a Atlântico Sul. Nada mais
expressivo que os aviões franceses e alemães que aqui tiveram bases de apoio e da
maior base aérea norte-americana construída foram do seu território, edificada
em Parnamirim. Baseado nesse histórico se pensou no grande aeroporto de São
Gonçalo do Amarante. Todo
indicava que fosse mais do que uma superfície
terrestre dotada de pista, prédios e equipamentos necessários ao embarque e
desembarque de passageiros e cargas; fosse mais que um simples aeródromo. Uma
série de fatores apontava esse “algo mais”.
Temos a localização privilegiada e a tendência mundial das empresas
aérea de adotarem para suas rotas a logística conhecida como “hub-and-spoke”,
usando um aeroporto como ponto de conexões de suas rotas.
Entretanto os aeropostos desse tipo
exigem uma concepção multimodal, que inclui oficinas de reparos de aeronaves,
ampla aérea de estacionamento para os aviões, aéreas de lazer e hotel para os passageiros em
transito, um complexo de alimentação (inclusive empresas de catering) e muito mais. Nada disse foi feito ou mesmo pensado. No entanto há outros
gargalos: não temos ferrovia e porto que liguem o novo aeroposto ao resto do
nordeste e do Brasil e as zonas de processamento
e exportação do Estado não saíram do papel (não somente por falta de aeroporto).
Por outro lado, o porto de Natal foi dragado e foi construído
um moderno e caro Terminal de Passageiros. Só que não há navios trazendo
turistas para cá, isso porque a Ponte Newton Navarro impede a passagem dos grandes
transatlânticos ou porque eles não poderiam fazer o movimento de retorno na
embocadura do Rio Potengi.
Das duas uma: ou não se sabe
fazer planejamento estratégico ou estamos ricos de mais, a ponte de jogar
dinheiro fora. Alguém acredita na segunda hipótese?
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