A Senhora Sant’Ana
Padre João
Medeiros Filho
Segundo uma tradição
do século II, os pais de Nossa Senhora eram Ana e Joaquim. Na Sagrada
Escritura, inexistem dados sobre o casal. O documento mais antigo a que se
reporta a Igreja é o “Protoevangelho de Tiago” (datando aproximadamente de 150 d.C.),
o qual goza de prestígio nos primórdios do cristianismo. Apesar de ser um texto apócrifo,
trata-se de importante obra da antiguidade cristã, citada por teólogos do
Oriente, notadamente Epifânio de Salamina e Gregório de Nissa. O nome Hannah
provém do hebraico e significa graça. A genitora da Virgem Santíssima descende
de Aarão. Consoante a tradição cristã, era esposa de Joaquim, pertencente
à estirpe real de Davi. Portanto, dessa nobreza participam Maria e Jesus. A devoção a Sant’Ana remonta ao século VI, no Oriente,
enquanto. São Joaquim passa a ser venerado, por volta dos anos 900. A tradição
diz que o casal possuía recursos, geridos pela esposa. Ela dividia em três
partes iguais os rendimentos do marido: uma destinada ao sustento da família; a
segunda, à manutenção do culto e a última, à ajuda aos carentes. Esse dado, sem
comprovação histórica, fez de Sant’Ana, na época do Brasil colonial (graças
também à
devoção de Dom João VI), padroeira da Casa da Moeda.
A palavra Joaquim
significa confirmado por Javé. O nome Ana é mais frequente na Bíblia. Tem-se
conhecimento de três mulheres assim denominadas. A primeira, trata-se da
profetisa, filha de Fanuel (Lc 2, 36-38) que estava presente no Templo, quando da
apresentação do Jesus. A segunda, a mãe do profeta Samuel (1 Sm 2, 19-21) e a
última, a esposa de Ragoel, irmão de Tobias (Tb 7, 2). De acordo com o “Protoevangelho”,
Ana e Joaquim formavam um casal piedoso, mas vivia triste por não ter filhos. O
marido dirigiu-se ao deserto para jejuar e orar. Lá, apareceu-lhe um anjo, anunciando que ele seria pai de
uma menina. Sua mulher também recebeu um aviso divino: “Teu choro foi ouvido e
conceberás e darás à luz. Tua descendência será ilustre.”
Na Igreja Luterana, Ana é também venerada. Conta-se
que Lutero ingressou na vida religiosa, após pedir a proteção da Mãe de
Maria, numa noite de tempestade. Por esse motivo, em alguns países europeus, é invocada
como protetora contra os raios e trovões. A Avó de Jesus é igualmente reverenciada
no islamismo. Seu nome não consta no Alcorão. Entretanto, é
reconhecida como uma mulher altamente espiritual, tendo gerado Maria. Conforme algumas narrativas
islâmicas, ela não tinha filhos, até a idade avançada. Suplicou ao Altíssimo e deu
à luz uma menina a
quem atribuiu o nome de Miriam.
Fé, amor e temor de Deus são marcantes na vida do santo
casal. A iconografia clássica mostra-nos a genitora de Nossa Senhora, segurando
as tábuas da Lei e ensinando à Filha. Em muitas imagens, ela está sentada com Maria
de joelhos, junto a Torá (Lei). O seu culto expandiu-se pelo mundo inteiro.
Santuários, catedrais, capelas, cidades e províncias lhe são dedicados.
Destaca-se como padroeira da Bretanha, de Quebec e Düren (Alemanha). É titular
de dezessete catedrais brasileiras, padroeira secundária das arquidioceses de
São Paulo e Rio de Janeiro. É igualmente a patrona do estado de Goiás. No Rio
Grande do Norte, é protetora da diocese de Caicó e orago de nove paróquias. A
devoção a Sant´Ana difundiu-se de tal modo que os católicos lhe reservam o aposto
de “Senhora”, outorgado apenas à Virgem Santíssima. Muitos cristãos
passaram a chamá-la de “Nossa Senhora Sant’Ana”, como acontece no Seridó e
alhures. “Bendito seja Deus nos seus anjos e nos seus santos.”
A
presença de Sant´Ana tem marcado a minha vida. Nasci numa paróquia
(Jucurutu/RN) que se originou do desmembramento de terras das freguesias de
Caicó, Campo Grande e Santana do Matos, cujos oragos são a Mãe da Virgem Maria.
Durante quarenta e cinco anos, pertenci canonicamente ao bispado caicoense,
dedicado à excelsa esposa de São Joaquim. Morei mais de duas décadas no Rio de
Janeiro, onde a padroeira secundária é a Avó de Cristo. Há quinze anos celebro
no Mosteiro de Sant´Ana (Emaús/Parnamirim/RN), onde atuo como assistente eclesiástico
da comunidade. “Dai
graças ao Senhor porque Ele é bom. Sua misericórdia é eterna” (Sl 118/117, 1).
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