sábado, 1 de novembro de 2025

 Pensamento X Realidade — 

A Filosofia em Marcha 

(Por PHILOFOTOPOETA: FERREIRA FONTES) 

Mente a mil por hora, realidade no seu tempo certo... Assim tem sido minha travessia: uma estrada pavimentada por ideias e temperada pela paciência da vida. Aprendi, ainda jovem, que o pensamento voa mais rápido que os pés. Na Vila Coronel José Reinaldo, entre as sombras das amendoeiras e o eco do velho estádio Juvenal Lamartine, eu já filosofava sem saber. Observava o céu e imaginava o que havia além do azul — como se o infinito fosse um convite pessoal. Meu pai, Letício Ferreira de Fontes, homem de farda e fé, ensinava-me que cada passo precisava ter propósito. Minha mãe, Terezinha, com sua doçura e força, ensinava o contrário: que há beleza também no imprevisto, no improviso, no bordado do cotidiano. Entre ambos, formei-me nesse paradoxo: pensamento e realidade, sonho e chão. Quando entrei no NPOR, em 1982, no 16º Batalhão de Infantaria Motorizada, e mais tarde na Academia da PMBA, o pensamento foi moldado à disciplina da ação. Ali aprendi que refletir é necessário, mas agir é o que concretiza. O cadete que eu fui sabia marchar com precisão, mas dentro dele já morava o filósofo que questionava o sentido de cada ordem. Porque no fundo, até a obediência tem filosofia: é uma escolha silenciosa entre o dever e o querer. O tempo passou — como sempre passa — e a realidade foi impondo seu compasso. Fui oficial, comandante, instrutor. Vesti a farda com orgulho e a consciência com serenidade. Aprendi que o tempo certo da realidade nem sempre coincide com a pressa do pensamento. Há dias em que a mente quer resolver o mundo, mas o mundo ainda está amanhecendo. E é nesse hiato — entre o pensar e o acontecer — que a sabedoria se instala. Hoje, na varanda de Cotovelo, onde o mar filosofa e o vento dita seus próprios versos, percebo como cada etapa foi necessária. A pressa do jovem deu lugar à contemplação do homem maduro. Já não quero dominar o tempo, quero dialogar com ele. Deixo que o sol suba sem alarme, que o café esfrie enquanto escrevo, e que o pensamento se alongue na rede, balançando entre o céu e a areia. Minha mente continua a mil por hora. Ela revisita os corredores do Atheneu, os portões da Academia, os rostos dos amigos de farda, os sorrisos dos filhos — Washington Júnior, Wilker Khalil e Williana —, e até o olhar atento da minha musa, Andyara, que aprendeu a me ler em silêncio. Mas o coração aprendeu outra lição: que a realidade tem seu próprio relógio. O poeta dentro de mim não disputa mais com o comandante. Ambos coexistem — um escreve, o outro vigia; um sonha, o outro cuida. A mente planeja, mas o espírito observa. E quando o pensamento quer correr, é a alma quem segura o freio e diz: “Calma, Fontes... o tempo é sábio. Ele só floresce onde há paciência.” Na filosofia da vida, aprendi que nem tudo o que se pensa se realiza — e, paradoxalmente, nem tudo o que se realiza foi antes pensado. Há milagres que não cabem no raciocínio, há encontros que desafiam o plano, há certezas que só o acaso revela. Pium me ensinou isso. Entre o rio e o mar, o pensamento se dissolve, e a realidade se recompõe. A maré me mostrou que até as águas inquietas obedecem a um tempo invisível — o tempo do retorno. Na juventude, quis apressar o destino. Hoje, quero compreendê-lo. A mente quer velocidade, mas a sabedoria exige ritmo. O jovem planejava a vida como quem comanda um batalhão; o homem maduro a vive como quem observa um pôr do sol — sem pressa, sem medo, com a serenidade de quem sabe que cada instante é uma ordem divina de repouso e gratidão. E quando olho para trás, vejo que o pensamento foi o mapa, mas a realidade foi o caminho. Um imaginava; o outro ensinava. Um projetava; o outro lapidava. E entre ambos, fui me tornando o que sou: um ser que pensa para sentir e sente para existir. Hoje, sigo filosofando entre o vento e o tempo, sabendo que o amanhã não é meta, é consequência. E que as ideias, por mais belas, só ganham sentido quando respiram o ar do real. Sou grato ao pensamento — ele me deu asas. Sou grato à realidade — ela me deu chão. E sou grato ao tempo — ele me ensinou o compasso certo para voar sem pressa e caminhar sem medo. No fim, percebo que o equilíbrio está em aceitar os dois comandantes da alma: o pensamento, que quer me levar; e a realidade, que me faz ficar. Entre eles, sigo marchando — com o passo firme da vida, e o olhar livre da filosofia. E se a mente corre a mil, a alma descansa no seu tempo certo. Porque aprendi, com a vida, que a pressa é do homem, mas o tempo é de Deus. PHILOFOTOPOETA: FERREIRA FONTES ■Praia de Cotovelo — Parnamirim/RN Entre o vento e o verbo, sigo com destino à filosofia. ■

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