sábado, 13 de novembro de 2021

Minhas Cartas de Cotovelo – verão de 2021-46

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes

  

HABITANTES NATIVOS DA MINHA PASÁRGADA DE COTOVELO

       Volto ao solo sagrado de Cotovelo e logo me deparo com os queridos habitantes nativos que ornam a minha casa, nos últimos tempos – o bem-te-vi que no raiar do dia me acorda com seu agudo gorjeio, em canto solo ou em dueto.

Levanto-me e ainda flagro o camaleão, que deixou na noite que passou a marca do seu despejo das plantas e dos frutos que comeu.

       Dos frutos, nada a reclamar, mas das plantas, essas doem no coração, pois é o resultado do trabalho do meu filho Carlos Rosso, que mantém sob sua diária supervisão mamoeiros, bananeiras, abacateiros, pinhas, hortaliças e verduras.

       Já as andorinhas, alegram suas revoadas ao cair da tarde, numa rapidez que quase não nos permite fotografar e num múltiplo chilrear.

       Os carcarás e os gaviões são predadores, comem, no esvoaçar com rapidez incrível, os ninhos das diminutas aves que se abrigam em meus pés de jambo e pitanga, soltando o seu sinistro e agudo trinado, verdadeiro sinal de guerra.

       Lembrei-me, então, de outros amiguinhos que outrora visitavam, e até habitavam nossa casa, como os saguis, timbus e pardais, hoje inteiramente desaparecidos deste ambiente.

       De quando em vez, mas com espaços de tempo muito longos, pequenos répteis, logo rechaçados pelo medo dos moradores.

       Tudo é natureza que alimenta uma qualidade de vida que não se encontra na selva de pedra e com a qual convivemos em perfeita harmonia com as águas maravilhosas da melhor praia do litoral sul, embora com a permanente saudade da inesquecível THEREZINHA.

 

 

 

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

 


Este quadro eu pintei durante a agonia do velório e sepultamento de MARÍLIA MENDONÇA.

MINHA HOMENAGEM.


 

domingo, 7 de novembro de 2021

Acla Pedro Simões Neto está com André Felipe Pignataro e 
outras 33 pessoas
.

O ESCRAVO DANIEL
André Felipe Pignataro Furtado de Mendonça e Menezes
Presidente da ACLA
O Diário de Pernambuco, de 17.04.1875, noticiou a história do escravo Daniel, publicada, originalmente, pelo jornal Conservador, de Natal. Além do periódico pernambucano, diversos jornais do Brasil, como no Rio de Janeiro, Minas Gerais e Ceará, também replicaram essa notícia.
Daniel é protagonista de uma bela história de coragem e de demonstração de amor ao próximo, mas com um final trágico, ocorrida em Ceará-Mirim.
No dia 3 de abril de 1875, pelas duas horas da tarde, José Leão Soares da Câmara, morador no lugar Boa Vista, dirigiu-se até o lugar Capoeira Grande, próximo um do outro, onde morava seu cunhado Felippe Varella Santiago, com o fim de tirar-lhe a vida. Como não o encontrou, José Leão tentou matar a sua própria sogra, mãe de Felippe, de nome Margarida Ignacia do Amor Divino, senhora com mais de 60 anos, que também residia na mesma casa.
Ao mesmo tempo em que gritava palavras ofensivas contra D. Margarida, José Leão preparava seu bacamarte (pequena arma de fogo, parecida com um garrucha). Engatilhou e mirou na sua sogra. Daniel, escravo da casa, e que tinha 25 anos, colocou-se na frente de sua senhora, para proteger-lhe a vida. O agressor, furioso que estava, atirou, ao que a bala atingiu a perna esquerda de Daniel, um pouco abaixo do joelho, causando-lhe um grave ferimento.
Com o barulho do tiro, os outros escravos correram para casa, tendo conseguido tomar a arma de José Leão, no entanto, ele conseguiu escapar. Daniel foi acudido ali mesmo, dentro do que era possível.
O subdelegado João Secundino Pacheco compareceu ao local do crime, tão logo ficou sabendo. Ao se dirigir à casa de José Leão, e lá o encontrando, o subdelegado efetuou sua prisão, recolhendo o criminoso à cadeia de Ceará-Mirim.
José Leão Soares da Câmara, ao que parece, tinha um comportamento violento. Aliás, percebe-se, pela leitura dos jornais da época, que havia muita rixa dos senhores de engenho e fazendeiros, entre si, com crimes envolvendo escravos de outros senhores rivais.
Um ano antes, José Leão foi preso, em Capoeira Grande (mesmo local onde morava Felippe Varella Santiago), pelo tenente Francisco César do Rego Barros, por tentativa de homicídio, do qual não se tem mais informações do que aquelas noticiadas pelo Diário de Pernambuco de 26.02.1874.
Pois bem. Daniel foi conduzido para o Hospital de Caridade de Natal, onde chegou somente na noite do dia seguinte. Na manhã de 05 de abril, a equipe médica, como último recurso para salvar a sua vida, precisou amputar a perna esquerda. Ele resistiu bravamente enquanto pôde, tendo falecido à uma hora da tarde daquele mesmo dia.
Em pleno período da escravidão, de poucos valores humanos, foi justamente o escravo Daniel que, com seu ato heroico, ao sacrificar sua vida em defesa de sua senhora, deu uma grande lição de superioridade de espírito, pois, certamente, nenhum dos moradores da casa em que servia se sacrificaria por ele.