Maria Santíssima, sempre
amada e venerada
Padre João
Medeiros Filho
Desde
o século V, bem antes das aparições da Virgem Santíssima em Fátima (Portugal), maio
já era considerado pelos católicos como um mês mariano. Nele presta-se culto
especial à Mãe de Jesus. Durante trinta dias, reflexões sobre Nossa Senhora têm
lugar e pertinência. A devoção mariana é bem característica do cristianismo,
tanto no Oriente, quanto no Ocidente. Vários são os títulos dedicados à Virgem de
Nazaré. Esta goza de privilégios junto a Deus, inclusive o de interceder em
favor daqueles que a Ela recorrem por meio de práticas devocionais. O magistério
católico e os teólogos declaram: “Maria consegue
que os rogos a Ela dirigidos sejam atendidos pelo Pai Celestial.”
Ela
possui um lugar especial entre os cristãos que, além de homenageá-la com diversos
hinos e invocações, dirigem-lhe uma variedade de súplicas. Com o objetivo de
venerá-la, realizam-se peregrinações a diversos santuários e espaços que lhe são
consagrados. Segundo o Catecismo da Igreja Católica, “a devoção da Igreja à
Santíssima Virgem pertence à natureza do culto cristão” (CIC, 971). Teologicamente,
a veneração aos santos denomina-se dulia e à Mãe de Jesus, hiperdulia. Por
isso, é a única reverenciada como Santíssima pelos católicos, os quais a distinguem
assim também dos demais santos.
A figura de Maria tem interessado a pesquisadores, dentro
e fora dos contextos religiosos e místicos. Além de obras literárias, a Virgem
de Nazaré tem chamado a atenção de pensadores agnósticos e ateus, como a filósofa
e linguista francesa Julia Kristeva. A missão de Maria no cristianismo impressionou
a brilhante pesquisadora. Esta reconhece o lugar que a mariologia reserva às
mulheres, ressaltando a dimensão feminina no cristianismo, ausente em muitas
religiões. Para ela, a importância teológica de Maria no imaginário espiritual
cristão consiste sobretudo em sua relação com Jesus Cristo, seu Filho. Ela leva
a relacionamentos aparentemente insólitos, como o de Deus com a humanidade e aquele
do Filho Divino com uma mãe terrena.
A formação cultural de Kristeva – herdada do pai, que
pertencia à Igreja Ortodoxa Búlgara – desempenha um papel relevante no seu interesse
pela genitora de Cristo. Ela está convencida de que “o catolicismo teve em suas
mãos o mais poderoso discurso de todo o Ocidente sobre a feminilidade e a
maternidade.” Com a secularização, a ideologia de gênero e outras vertentes
hodiernas de pensamento, ela teme que tal conquista se perca, o que deixaria a
cultura ocidental amputada de um de seus fortes e fecundos componentes. Todavia,
os temores de Kristeva não parecem assustar alguns teólogos. No Brasil – sem falar de outros países – a devoção mariana continua bem
presente e cresce, a cada ano. As peregrinações a Aparecida do Norte (SP) e as
romarias ao Círio de Nazaré, em Belém (Pará), ainda são momentos intensamente
vividos pelos católicos. Neles,
explicitam firmemente o amor pela Mãe de Cristo, a quem consideram a sua
também. O destaque a Maria Santíssima
no cristianismo permanece bastante sólido, apesar dos avanços tecnológicos.
A Virgem de Nazaré, além de todos os seus oragos, continua
sendo em diversos povos e nações a sempre amada e venerada. É a Mãe a quem os
fiéis se dirigem com confiança filial em todas as encruzilhadas de suas vidas,
encontrando nela conforto e carinho. Em tempos de aflição e momentos de
adversidades, doenças, perdas, pobreza, secas, descaso de governantes e
autoridades, Nossa Senhora é certamente invocada. Ela é a Compadecida. Portanto,
no mês de maio acorramos Àquela a quem a Igreja proclamou no Concílio de Éfeso
“Theotokos” (Mãe de Deus). O apóstolo Paulo assegura, em sua Carta aos Gálatas:
“Na plenitude dos tempos Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher” (Gl
4,4). Maio é dedicado especialmente a essa figura feminina, presente na Igreja,
desde o seu nascedouro, conforme o relato do evangelista Lucas (At 1, 14). Relembro
as palavras do inesquecível Oswaldo Lamartine: “Maria é o mais belo sorriso de
Deus.” Como Isabel, no episódio da Visitação, cabe-nos exclamar com fervor: “Bendita
és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre” (Lc 1, 42).