sábado, 1 de março de 2014

 
Caro amigo,
antes de cair no frevo, veja essa menina verde que nos faz tudo esperar:

REALIDADE MÍTICA

            I          

abro a mala
removo os bens de pandora
e adoto uma menina verde
 ]
            II

e diariamente
espero em vão concluir
obra infindável

                        (Horácio Paiva)

O Anúncio


O dono de um pequeno comércio, amigo do grande poeta Olavo Bilac, abordou-o na rua:
- Sr Olavo Bilac, estou precisando vender meu sítio, que o senhor tão bem conhece. Será que o senhor poderia redigir o anúncio para o jornal  ?
Olavo Bilac apanhou o papel e escreveu.
“vende-se encantadora propriedade,onde cantam os pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo, cortada por cristalinas e marejantes águas de um ribeirão. A casa banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranquila da tardes, na varanda”.
Meses depois, topa o poeta com o homem e pergunta-lhe se havia vendido o sítio.
Nem penso mais nisso, disse o homem, quando li o anuncio é que percebi a maravilha que tinha!
Às vezes, não descobrimos as coisas boas que temos conosco e vamos longe atrás de miragens e falsos tesouros.
Valorize o que você tem: a pessoa que está ao seu lado,os amigos que estão perto de você, o emprego que Deus lhe deu, o conhecimento que você adquiriu, a sua saúde, o sorriso, em fim tudo aquilo que nosso Deus nos proporciona diariamente para o nosso crescimento.
Dê valor ao que você tem e ao que você é.
E tenha um ótimo  e feliz dia de saúde, sabedoria, alegria e esperança.
________________________
Colaboração de Claudionor Barbalho


Siga à risca o conselho de humildade do Mestre no sermão da montanha quando aconselha os discípulos a não ocuparem os primeiros mas sim os últimos lugares da sinagoga, pois no reino de Deus os últimos serão os primeiros. A autoridade brota do serviço que se presta aos outros e não dos que se cercam de mordomias para serem servidos. 
 
   Abraspas:
"Se alguém lhe fechar a porta, não gaste energia com o confronto, procure as janelas. Lembre-se da sabedoria da água: a água nunca discute com seus obstáculos, mas os contorna."
 
 
      Uma das últimas cadeiras da igreja é ocupada pelo Papa. É o que se vê na foto.  Ele está a celebrar uma Missa muito peculiar: os convidados são os jardineiros e o pessoal de limpeza do Vaticano.  Num momento da celebração o Papa pede a todos que orem em silêncio, cada um pelo que o seu coração deseja.                 

Nesse instante, ele levanta-se da sua cadeira presidencial que está na frente e vai sentar-se numa das últimas cadeiras para fazer a sua  própria oração. Dá a impressão de que este chefe preferiu que todos se centrem em ver de frente a verdadeira razão da sua existência, esse Cristo crucificado que está ali presente e não em que o vejam a ele, o seu chefe, que não é mais que um homem que falhou e continuará a falhar, e a quem hoje todos chamamos o Papa Francisco. 
    A famosa diferença entre chefe e líder é absoluta nesta foto. O chefe sempre se emproa, pondo-se à frente para que todos o vejam e lhe obedeçam, enquanto que o líder sabe quando se deve sentar atrás, não incomoda, acompanha, facilita o caminho para que os outros consigam os seus propósitos; o líder é capaz de desaparecer no momento  oportuno, para que os seus companheiros cresçam e se centrem no que é verdadeiramente importante.  O líder não teme perder o seu lugar, porque sabe que, muito para além do “seu lugar”, trata-se de ajudar aqueles que se encontrem no seu caminho.
       Na foto, o admirável Francisco está de costas.

Ele sabe que muitos o queriam ver de frente, mas neste instante tão íntimo, ele prefere ficar de costas para os fotógrafos e dar a cara a esse Deus de todos, Amor para o jardineiro e Amor para o Papa, esse Deus que não diferencia o abraço nem dá mais por um ou por outro, ambos são pecadores e ambos precisam d’Ele. 
        Quantos chefes terão a capacidade de ir sentar-se naquela cadeira de trás? Quando é que mães e pais terão que “celebrar” essa cerimônia chamada vida com os nossos filhos, e num momento oportuno sermos capazes de nos sentarmos atrás, para que eles fiquem de frente para a sua missão? Quantos poderemos voltar as costas aos aplausos, à barafunda dos “clicks”, aos elogios, para dar a cara, num momento íntimo, a essa oração profunda que torna o nosso coração despido de orgulho, a um Deus que deseja com fervor escutar-nos?
      O Papa ficou-me gravado nesta foto, e eu espero que hoje esta imagem, sirva para me situar no resto da minha vida.
 
 https://fbcdn-sphotos-b-a.akamaihd.net/hphotos-ak-ash4/999703_488537801232505_299707951_n.jpg

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Solidão coletiva
“Se você se sente só, é porque ergueu muros em vez de pontes” (William Shakespeare)

(*) Rinaldo Barros
O paradoxo social do nosso tempo é “convivermos” o dia a dia com tanta gente e, ao mesmo tempo, sentirmo-nos solitários. O sentimento de solidão e anonimato em meio à multidão cresce na vida moderna.
Muitas são as situações geradoras de solidão: existe a solidão gerada pelo poder, a solidão decorrente da riqueza, a solidão dos mal casados, a solidão da criança cujos pais são egoístas, a solidão dos velhinhos rejeitados, a solidão das crianças órfãs, abandonadas, a solidão da loucura, a solidão dos internos dos hospitais psiquiátricos, a solidão dos enfermos hospitalizados, a solidão do excluídos pelo mercado de trabalho, a solidão do desempregado, a solidão do camponês que deixou família para trabalhar na cidade grande, a solidão do estigmatizado por preconceitos, e a solidão que caracteriza a sociedade da informação: os solitários das redes sociais (Twitters, Facebook, Whatsapp, Viber e outros menos cotados); os quais possuem milhares de “amigos”, mas nenhum deles preenche, de verdade, o sentimento de solidão do seu cotidiano.
Sem falar na solidão de quem se arrisca como escrevinhador, tendo que enfrentar a solidão, desde o ato sofrido de criar, até receber a lufada de ar da indiferença dos supostos leitores, os quais nunca correspondem à ansiedade ingênua do autor em relação à sua “contribuição” para interagir com o mundo. Escrever, sem dúvida, é uma tentativa de fugir da solidão.
Muitas pessoas solitárias justificam seu “desejo de privacidade”, escolhendo "viver sozinhas porque gostam de liberdade", “preferem viver sozinhas do que mal acompanhadas”.
A tendência individualista de nossa época reforça o temor de conviver com as diferenças humanas, afinal, morar junto implica, sobretudo, sermos tolerantes, compreender o outro, termos que dividir espaços e coisas e aceitar conferir a todo o momento que o outro não nos preenche. Demandamos sempre que o outro irá preencher nosso vazio existencial, mas isso – quase sempre - não passa de um delírio visando zerar nossa falta essencial. Os mais conscientes dessa falta se recusam a investir num relacionamento duradouro.
No universo dos sozinhos, existem aqueles que o fizeram por opção pessoal, e aqueles que devido às contingências da vida foram obrigados a viver desacompanhados.
Muitos aposentados se queixam de terem sumido os “amigos” do trabalho. O rótulo de “inativo” sinaliza exclusão na linguagem e na prática da convivência diária.  Inativo ou aposentado são palavras mal ditas no Brasil. Como de resto, aqui no patropi, o idoso em geral é tido e visto como uma carta fora do jogo.
O isolamento social obrigatório é muito diferente do viver sozinho “por opção”.
No primeiro, existe a imposição do destino ou das circunstâncias, no segundo, a escolha é consciente e deliberada de viver solitariamente.
O artista, cientista ou intelectual, por exemplo, precisa de vez em quando estar sozinho para se concentrar e produzir seu texto, sua obra; o que não quer dizer que ele padece do sentimento de solidão.
Para ler, refletir, escrever, criar ou inventar precisamos estar sozinhos. A solidão só pode ser conquistada - ou domada - por aqueles que encontram coragem e determinação de levá-la a trabalhar, a produzir criativamente, altruisticamente. Entretanto, conquistar a solidão ou domá-la não quer dizer eliminá-la.  
Contam que a Cecília Meireles, mesmo quando acompanhada dos amigos, dava sempre a impressão de estar solitária, vivendo no seu próprio mundo, impenetrável. Sim, lá estava ela delicadamente entre os outros, participando de um jogo de relações gregárias que a delicadeza a obrigava a jogar. Mas a verdadeira Cecília estava longe, muito longe, num lugar onde ela estava irremediavelmente sozinha.
Por sua vez, a solidão indomada tem o poder de fazer do sujeito seu objeto, isto é, produz efeitos patológicos previsíveis como a depressão, drogas, hipocondria, alcoolismo e até o suicídio.
E, em nossa sociedade pós-moderna, onde tudo é descartável, a Internet têm sido um instrumento de comunicação ambíguo, pois tanto pode facilitar a busca de companhia virtual como pode ser usado também para sustentar o isolamento social. São os fóbicos sociais, isto é, os que temem sair de casa, não suportando simplesmente qualquer aglomeração urbana.
É possível que o medo, fruto da violência urbana, contribua para o aumento da solidão coletiva.
O aumento dos diversos tipos de solidão, no Brasil e no mundo, põe em dúvida até mesmo a antiga tese de que o humano é um ser eminentemente social.
As novas gerações deverão redefinir se o Homo sapiens é, ou não, um ser social.


(*) Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com



Briga em um cabaré da Ribeira


Elísio Augusto de Medeiros e Silva


Empresário, escritor e membro da AEILIJ

elisio@mercomix.com.br



Não sabemos ao certo como começou aquela confusão. Num minuto, estava formado o maior quebra-pau dentro do cabaré.

Os dois antagonistas engalfinhavam-se, trocando socos e rolando pelo chão. De repente um dos rapazes levou um pontapé na barriga – levantou-se e saiu distribuindo socos a torto e a direito... pegasse em quem fosse. Aí a coisa complicou.

As prostitutas gritavam apavoradas, corriam e se refugiavam debaixo das mesas do salão. Os três garçons largaram as bandejas e se esconderam atrás do balcão do bar.

A luz vermelha do salão foi apagada e luzes normais acesas. No entanto, a essa altura, a confusão já estava formada. Um homem puxou um punhal, mas foi desarmado pelos seguranças da casa. Garrafas, copos e cadeiras eram arremessados de todos os lados.

O chão logo se encheu de perigosos estilhaços de vidro. Os dois rapazes que deram origem a confusão engalfinhavam-se, rolavam e trocavam socos no chão.

Correrias, gritos pavorosos e urros chegam até a Rua 15 de Novembro. Os guardas-noturnos das ruas próximas apitavam sem parar.

As mulheres gritavam apavoradas. Logo a rua estava cheia de curiosos que queriam ver o que acontecia lá dentro do cabaré.

As inquilinas da casa corriam desesperadas de um lado para outro. Algumas seminuas não sabiam o que fazer diante de tamanha confusão.

Os dois “leões de chácara” do cabaré não tinham o que fazer – era gente demais envolvida na briga. Ninguém sabia ao certo como tinha começado aquele bafafá. A briga já durava mais de dez minutos. O prejuízo era enorme.

Quando finalmente a polícia chegou, o salão estava todo quebrado – mesas, cadeiras em pandarecos – até a radiola de fichas não fora poupada. Havia gente de cabeça quebrada, dente fraturado, equimoses pelo corpo...

O grupo de rapazes a quem atribuíram a origem da confusão tinha se “escafedido” do local.

Naquela noite o cabaré fechou bem cedo. Um dos seguranças da casa, um negro de quase dois metros, tinha um olho roxo e um corte no lábio inferior.

- Iam lhe arrancando um olho, disse um dos garçons ao vê-lo. Será que não ofendeu a vista?

Na porta dos fundos, um cidadão gritava, dizendo que tinha perdido cinco mil réis durante a confusão. Quem vai me pagar? Quem vai me pagar? Perguntava preocupado.

Alguns dos envolvidos na briga foram detidos e levados até a delegacia de plantão, que, por sinal, não era muito distante do local. Funcionava ali mesmo, no bairro da Ribeira.

Na delegacia um dos detidos, metido à valente, contava “goga”, a respeito de sua atuação na briga. Ao ser interrogado pelo delegado de plantão, respondeu às perguntas que lhe foram feitas com ar de deboche. Pelo visto, queria dar uma de arrochado. O delegado não contou conversa e mandou meter o insolente no xilindró.

- Você que é disposto chegou na hora certa. Disse, enquanto o soldado conduzia-lhe até uma das celas.

Depois de colocado atrás das grades, o soldado informou-lhe: “Você vai fazer a faxina”. E lá foi o “brabo” de vassoura e balde fazer a faxina completa do local. Os outros presos e soldados olhavam a cena – alguns até riam disfarçadamente.


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

               
 
                   
E CHEGOU O CARNAVAL
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes
                Gostemos ou não, o Carnaval vem sendo um marco na vida política e administrativa do País, Estados e Municípios. Antes dele as coisas ficam em banho Maria e exatamente no período de Momo, nas confabulações dos alpendres das fazendas, das praias ou mesmo da cidade, são definidos os rumos do ano que começou.
                Para o mais chegados, representa um suspiro para aliviar as pressões do dia a dia, permitindo fazer novas amizades e solidificar as antigas.
                Da minha parte, na juventude fui folião e dos bons. Saía na bagunça, na Escola de Samba dos Deliciosos na Folia e outros, também brinquei de forma autônoma – bailes inesquecíveis no Aero Cube e as matinês no América, Assen, Alecrim Clube.
                Sempre fui comedido, mas não escondo alguns bons porres, em companhia de grandes amigos que marcaram e ficaram para sempre em minha vida.
                Alguns já se foram, pois o tempo é implacável, mas a lembrança deles só traz à memória a parte telúrica da vida.
                Hoje o meu Carnaval é diferente. Prefiro o repouso em minha Cotovelo, lendo bons livros, assistindo filmes marcantes e vendo os desfiles na TV, sem contar o reconfortante banho de mar. É uma alegria com outro padrão, mas continua sendo Carnaval. Às vezes, os netos caem na folia e me envolvem no mela-mela!
                Não sou daqueles que deploram a festa popular em nome da religião. De forma nenhuma, pois a alegria é coisa de Deus. Tudo está a depender de como você conserva a sua integridade nesse período.
                Estou de malas prontas e só voltarei na quarta-feira de cinzas. Fala MANGUEIRA, fala ......
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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

UMA VERDADEIRA RELÍQUIA

FAB - Na tradição de Santos Dumont - FORÇA AÉREA
Frases impagáveis do Barão de Itararé
 
Criador do jornal "A Manha", o Barão ridicularizava ricos, classe média e pobres. Não perdoava ninguém, sobretudo políticos, donos de jornal e intelectuais.
Ele não era barão, é claro. Mas deu-se o título de nobre e nobre se tornou. O primeiro nobre do humor no Brasil. Debochava de tudo e de todos e costumava dizer que,"quando pobre come frango, um dos dois está doente". Ele é um dos inventores do contra-politicamente correto.
Há muito que o gaúcho Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Barão de Itararé (1895-1971) merecia uma biografia mais detida. Em 2003, o filósofo Leandro Konder lançou "Barão de Itararé - O Humorista da Democracia" (Brasiliense, 72 páginas). O texto de Konder é muito bom, mas, como é uma biografia reduzida, não dá conta inteiramente do personagem, uma espécie de Karl Kraus menos filosófico mas igualmente cáustico.
Quatro depois, o jornalista Mouzar Benedito lançou o opúsculo "Barão de Itararé - Herói de Três Séculos (Expressão Popular, 104 páginas). É ótimo, como o livrinho de Konder, mas lacunar. No final, há uma coletânea das melhores máximas do humorista, que dizia:
 
"O uísque é uma cachaça metida a besta".
O que se leva desta vida é a vida que a gente leva.
A criança diz o que faz, o velho diz o que fez e o idiota o que vai fazer.
Os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes.
Dizes-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.
A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.
Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância.
Não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar.
Mantenha a cabeça fria, se quiser ideias frescas.
O tambor faz muito barulho, mas é vazio por dentro.
Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo.
Neurastenia é doença de gente rica. Pobre neurastênico é malcriado.
De onde menos se espera, daí é que não sai nada.
Quem empresta, adeus.
Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.
O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro.
Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades.
A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.
Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato.
Precisa-se de uma boa datilógrafa. Se for boa mesmo, não precisa ser datilógrafa.
O fígado faz muito mal à bebida.
O casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e um religioso.
A alma humana, como os bolsos da batina de padre, tem mistérios insondáveis.
Eu Cavo, Tu Cavas, Ele Cava, Nós Cavamos, Vós Cavais, Eles Cavam. Não é bonito, nem rima, mas é profundo...
Tudo é relativo: o tempo que dura um minuto depende de que lado da porta do banheiro você está.
Nunca desista do seu sonho. Se acabou numa padaria, procure em outra!
Devo tanto que, se eu chamar alguém de "meu bem", o banco toma!
Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta...
Tempo é dinheiro. Paguemos, portanto, as nossas dívidas com o tempo.
As duas cobras que estão no anel do médico significam que o médico cobra duas vezes, isto é, se cura, cobra, e se mata, cobra.
O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim, afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato.
Em todas as famílias há sempre um imbecil. É horrível, portanto, a situação do filho único.
Negociata é um bom negócio para o qual não fomos convidados.
Quem não muda de caminho é trem.
A moral dos políticos é como elevador: sobe e desce. Mas em geral enguiça por falta de energia, ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os infelizes que confiam nele.
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Colaboração da amiga e leitora Joventina Simões

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

 
  Foto de Canindé Soares
      

HIPOCRISIA

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes

            Nos últimos dias estamos assistindo uma polêmica em torno da demolição ou não do velho Hotel dos Reis Magos.

            Já existem decisões judiciais a respeito, autorizando a demolição. Contudo, pessoas que dizem participar de um movimento em favor da preservação do patrimônio histórico e artístico da cidade, insistem na preservação daquele prédio carcomido pela maresia e considerado irrecuperável para algum aproveitamento.

            Ficamos então a meditar sobre esse tão grande interesse por um prédio sem história, sem estilo merecedor de resguardo e com danos irreparáveis, em detrimento de outros prédios que esses amigos esqueceram de abraçar, como o caso do Machadão, que teve uma petição para o seu reconhecimento para efeito de tombamento, mas o processo sumiu e ninguém se indignou. Este sim tinha história. Nele foram realizadas partidas inesquecíveis, como o jogo da seleção brasileira e a realização da Mini-Copa com a presença de grandes equipes europeias e craques de fama mundial.

            Esqueceram do Machadão e ele foi irremediavelmente demolido para ter em seu lugar um excelente novo estádio, é verdade, mas que não preservou a harmonia da paisagem que então existia, numa combinação de formas com a natureza. O que agora temos é um equipamento volumoso, sem nenhuma delicadeza, agressivo mesmo.

            O imediatismo parece ser algo muito próprio da pouca cultura do nosso povo, que ainda gosta do “oba-oba” das grandes festas. Ninguém atenta para as exigências da FIFA, que impõe as suas regras em detrimento da população nativa.

            Sem dúvida, estamos diante de uma demonstração de hipocrisia e despreparo, fazendo-se o jogo da especulação imobiliária e econômica da exploração de negócios – somente para os autorizados.

            Mas existe uma desculpa para a construção da Arena das Dunas – as obras de mobilidade urbana que são proclamadas como “legado”. Deus permita que essas obras sejam concluídas antes da Copa, pois correm o risco de cair no esquecimento.

            De qualquer maneira, já que o fato está consumado, vamos esperar o sucesso da Copa de 2014, recebendo bem os visitantes nacionais e estrangeiros, procurando mostrar uma cidade hospitaleira e bela como é Natal, investindo na segurança e na infraestrutura de hospitais e equipamentos urbanos que permitam o conforto aos visitantes, sem tumulto, sem manifestações violentas e inconsequentes.

            Esse movimento contra a realização da Copa é histérico, sem lógica, verdadeiramente deletério. Somos integralmente contra isso.

            Vamos ajudar a fazer da cidade do Natal um cartão de visita para os que aqui adentram pela primeira vez, deixando um vínculo de amizade e fidalguia, próprios dos potiguares desde priscas eras.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

1930
1915 – Uma partida de football em Natal

Elísio Augusto de Medeiros e Silva

Empresário, escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br


Após a sua chegada a Natal, uma das maiores novidades que Tibério aguardava conhecer era o “bate bola”, gíria pela qual era conhecida o football que, a partir de 1910, tinha se incorporado aos hábitos da sociedade natalense.
Ao chegar ao local onde seria futuramente construída a Praça Pedro Velho, próximo ao centro hípico (Sport Club Natalense), notou que uma pequena multidão já aguardava ansiosa o início da partida que se realizaria entre dois times locais.
No enorme terreno baldio dois grandes retângulos desenhados no chão, que soube, pelos amigos, tratar-se do campo de jogo.
O terreno livre de qualquer mato estava perfeitamente nivelado, com esparsa grama. De cada um dos seus lados situava-se um dos times, aguardando o início do jogo.
Nos fundos de cada um dos lados desse terreno havia uma trave de madeira serrada, formada por duas linhas em paralelo e unidas no topo por uma outra que ficava na posição horizontal.
Claro que, a princípio, Tibério não entendeu absolutamente nada, mas, atento, passou a observar o movimento daquelas pessoas que circulavam pelo campo. Homens, meninos e até algumas senhoras.
Logo chegaram os dois times de jogadores – cada um deles vestia calções apertados nas pernas e camisas coloridas de cores diferentes. Cada grupo se posicionou em um dos lados do, digamos assim, gramado.
Veio um terceiro elemento, vestido de outra maneira, e colocou um esférico no centro do terreno. Após ser dado início à partida os homens, tanto de um lado como de outro, passaram a correr loucamente e a chutar a tal bola, em direção a cantos totalmente opostos.
A cada chute vigoroso dos tais atletas, os gritos e palmas vinham dos espectadores, alguns soltavam um “Aaaah!”, quando a bola batia em uma das traves - pelo que Tibério notou uns torciam para um determinado grupo de jogadores, enquanto outros para os rivais destes.
Não demorou muito para Tibério perceber que as regras do tal jogo eram bastante simples. Apenas os dois homens que se encontravam abaixo das grades em cada lado do campo podiam pegar no esférico com as mãos. Os demais apenas a tocavam com os pés.
Vez por outra, os homens em campo se zangavam, discutiam, xingavam, gritavam e o homem – o mesmo que colocara a bola no centro do campo no início do jogo -, corria desesperado de um lado para outro e parava o jogo. As suas ordens eram obedecidas por todos os jogadores.
Depois de alguns instantes e muita reclamação tudo reiniciava para a alegria das pessoas que assistiam.
Após tensos minutos do início, apesar de todos os esforços do homem que ficava sob a trave, a bola cruzou a baliza. “Gol, gol”, várias pessoas gritavam. Houve então uma grande comemoração – dentro e fora do campo - aplausos, assobios, gritos e várias pessoas até chegaram a saltar de alegria e a abraçarem-se.
Depois de alguns minutos de jogo, isso se repetiu novamente. Desta feita na trave do lado oposto. Os torcedores que haviam comemorado da primeira vez mantiveram-se calados, enquanto as do outro grupo adotaram o mesmo procedimento de alegria.
E assim o jogo continuou até o seu final, ocasião em que a multidão dispersou feliz. Pelo que Tibério presenciou esse esporte logo ganharia muitos simpatizantes.


Meu caro Ormuz,
 
lendo no seu blog uma das "Cartas de Cotovelo", de nosso amigo Carlos Gomes, aqui no sossego da várzea do Pium, mas também diante do mar de Cotovelo, lembrei-me de um poema que lhe dediquei e que tem o título de "Genealogia". Nele fiz pequenas alterações de texto. Segue o "novo" original, com a velha dedicatória.
Com um abraço fraterno,
 
Horácio Paiva. 

GENEALOGIA


                                   A Ormuz Simonetti


Dos Oliveiras                   
sefarditas ibéricos
trago o sangue judaico
mas sou cristão
- nem novo nem velho –
por convicção.


Das margens do São Francisco
vejo as terras mais próximas
que lhes deu o sonho:
o planalto da Borborema
e o rio Espinharas
que bebe a seca dos sertões.


Dos Paivas                                    
que antes foram Baião
vem-me o sopro da poesia        
de João Soares de Paiva
o trovador primevo
que herdou do rio o seu nome.


Portanto posso dizer
que a dialética das águas
sempre me acompanhou
e que nem sempre sou o mesmo
embora meu destino
seja o mar.


                                   (Horácio Paiva, na ribeira do rio Pium)