Viva as festas juninas!
Padre João Medeiros Filho
A teologia cristã ensina que as festas têm uma
dimensão sacramental, remetendo à felicidade do Paraíso Celestial. Despertam
sentimentos de júbilo e exaltação. Os festejos juninos, natalinos e dos padroeiros
de nossas paróquias são réstias do Infinito, acenos do Eterno, janelas da
Beleza inaudita e perene. Eles mostram
o lado bom da existência, em meio a tantos sofrimentos, dores e provações.
Os brasileiros estão se tornando tristes. Basta olhar seus rostos nas ruas e ouvir os
desabafos. Sempre foram sadiamente irreverentes, bem-humorados, enriquecendo o
folclore e o anedotário. Assim o diga nosso confrade Valério Mesquita,
colecionador exímio de “causos” verídicos. Numa maior ou menor escala, todos
têm sido afetados pela grave situação ético-moral e político-econômica pela
qual passa o Brasil. Os acontecimentos desconcertantes e absurdos, que vêm à
baila cotidianamente, fazem imaginar que se vive um pesadelo. Muitos ficam
paralisados, atônitos e impotentes, restando-lhes a indignação. Para os que têm
fé, há um convite à oração, suplicando dias melhores. Verifica-se uma inação
coletiva diante dos escândalos. As coisas não vão bem, mas os cristãos devem
revestir-se de fortaleza e coragem, dons espirituais que lhes são conferidos
por Deus. Os otimistas acreditam que o país
está sendo passado a limpo. Para outros, parece que a faxina sequer começou.
Segundo observadores, descobriram-se apenas ninhos de ratos escondidos nos
porões das instituições, roendo a nação, seu patrimônio e dignidade. Não falta
quem se regozije e tripudie dos cidadãos, amparado na “lacuna iuris”.
Iniciado junho, há uma oportunidade de euforia e lazer para muitos. O
brasileiro é, por índole, alegre. As festas juninas recordam o passado, ao
celebrar suas tradições. Demonstram que as decepções sofridas e as vilezas
vividas não conseguiram eliminar da alma o brilho da vida e o sorriso de seu
semblante. Na pluricultura que o enaltece como povo, tem-se a oportunidade de
construir o futuro. Existe a fé. Esta fortalece e faz lembrar as palavras de
Cristo: “Confiança, eu venci o mundo” (Jo 16, 33). As festividades juninas
demonstram a resiliência de uma gente que sofre, mas sabe alegrar-se e esperar
dias felizes. Neste mês, os tradicionais folguedos em honra de Santo Antônio,
São João e São Pedro podem trazer novo ânimo. Que o contentamento e a paz nos
arrebatem! É evidente que o fato de festejar, por si só, não proporciona a
solução de problemas estruturais. O pão está em falta na mesa de tantos, que tampouco se “saciam apenas
com o circo”, segundo a metáfora romana. A festa – como um rito que retira da
rotina – arrebata-nos das preocupações ou tristezas, mergulhando-nos naquilo
que a existência humana é chamada a ser: solidariedade e comunhão.
Nosso cotidiano, tão marcado pelas injustiças e desigualdades, passa a
ser enaltecido pela esperança da superação de problemas que nos afligem.
Festejando, seja com muitos ou parcos recursos, a alegria nos invade, revelando
que a vida pode ser boa e plena, como dom gratuito de Deus. A festa é um grito
no ar, dizendo que o existir humano é divino e os maus não poderão destruí-lo,
pois “só Deus é o Senhor da História”. Eis a mensagem cristã. Festejar é tornar a
existência humana valorosa e risonha, cheia de sentido e entusiasmo. E isso é
cristão, pois Jesus veio ao mundo para tirar o homem da violência e escravidão,
do desespero e da morte. “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em
plenitude” (Jo 10,10).
“Nada poderá
me abalar. Nada poderá me derrotar, pois minha força e vitória têm um nome: é
Jesus”, assim canta-se nas igrejas. A virtude teologal da esperança nos
fortalece, sendo capaz de construir um novo tempo. Isso não significa acabar
com as ambiguidades inerentes ao ser humano. Trata-se de fazer com que o Bem
floresça e o Mal, que tenta acabrunhar muitos, perca seu poder e vigor. A fé reafirma
valores, legitima o que nos dignifica, superando o que pode nos oprimir e
descaracterizar. Que este mês nos alegre e
faça de nossa vida uma festa maior, expulsando
o Mal e celebrando o que há de mais belo dentro de nós: a presença de Deus,
pois “Ele está no meio de nós.”