sexta-feira, 19 de maio de 2023

 

BATALHA DE LEPANTO: EXEMPLO DE LEGÍTIMA DEFESA COLETIVA

- Horácio Paiva *

Estive em Bari, sul da Itália, cidade portuária na orla do Mar Adriático. Realizava minhas viagens vivendo a História. E ali o destino que me fazia sonhar era a Grécia, a começar pelo Golfo de Patras, onde, na Baía de Lepanto, ocorrera a famosa batalha entre cristãos católicos e turcos otomanos, islâmicos, que invadiam a Grécia e punham em alerta a Itália e, portanto, o próprio Vaticano.

De Bari, fiz o trajeto até a cidade de Patras navegando à noite, num navio de passageiros. No desembarque, pela manhã, encontrei a cidade em festa: havia passeata e comício do Pasok, Partido Social-Democrata Grego, do então primeiro-ministro Andréas Papandréu, que disputava eleição naquele ano contra a Nova Democracia, coligação de centro-direita (afinal vitoriosa).

Mas eu buscava o passado, e o trago aqui como um entre inúmeros exemplos históricos que bem simbolizam a utilização da legítima defesa coletiva, e este, a Batalha de Lepanto, ora narrado, a própria defesa da corporação eclesial católica e dos Estados papais, quando também em risco a vida daqueles que os dirigiam.

A memorável Batalha Naval de Lepanto ocorreu no Golfo de Patras, Baía de Lepanto, na costa da Grécia, no contexto histórico da expansão do Império Otomano e seu avanço sobre a Europa e o Mar Mediterrâneo (o antigo Mare Nostrum dos romanos). Em terra, os otomanos haviam chegado às portas de Viena e, em mar, conquistaram Chipre e avançaram sobre a Grécia, levando às repúblicas e reinos da Itália, inclusive aos Estados papais ali constituídos, iminente risco de ocupação. Entretanto, essa batalha marcou também o fim do avanço turco e da expansão islâmica no Ocidente.

Já em 1570, o Papa Pio V, sentia o perigo dessa possível invasão à Itália, com a ocupação do Vaticano e dos demais Estados papais, e clamava ajuda aos governantes cristãos ocidentais, conseguindo, no ano seguinte, com dificuldades inerentes à época, formar uma esquadra de defesa para o possível confronto militar, tendo a participação da República de Veneza, do Reino da Espanha, dos Estados Pontifícios, da República de Gênova, dos Cavaleiros de Malta, que passaram, juntos, a integrar a chamada Santa Liga.

A batalha, entre a Santa Liga e o Império Otomano, ocorreu no dia 7 de outubro de 1571, a partir das 11h30min da manhã e durou dez horas, com a vitória dos cristãos e hasteamento da bandeira do Papa, onde antes havia a bandeira dourada de Meca.

No Vaticano, o dia da batalha foi vivido integral e intensamente como dia de jejum e oração do santo rosário pelos fieis e o Papa, e diz-se que este chegou a ter uma visão sobrenatural da vitória, quando teria, quase em transe, exclamado: “Vencemos! Vamos dar graças a Deus pela vitória que acaba de conceder à nossa esquadra.” E essa data até hoje é dedicada a Nossa Senhora do Rosário (de início, a Nossa Senhora da Vitória), cuja imagem era conduzida na nau capitânia da esquadra da Santa Liga em Lepanto.

Uma curiosidade - dita, sobretudo, para os que, além da História e do Direito, amam também a Literatura: Cervantes, o genial criador do “D. Quixote de la Mancha”, também participou dessa famosa batalha. Ali ferido, sobreveio-lhe o apelido de “el Manco de Lepanto”.

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(*) Horácio de Paiva Oliveira - Poeta, escritor, advogado, membro do Instituto Histórico e Geográfico do RN, da União Brasileira de Escritores do RN e presidente da Academia Macauense de Letras e Artes – AMLA. 

quinta-feira, 18 de maio de 2023

 VII Congresso da Liga Contra o Câncer 

Daladier Pessoa Cunha Lima Reitor do UNI-RN e Romeica Cunha Lima Rosado Oftalmologista 

    Em suas palavras de acolhimento aos participantes do VII Congresso da Liga Contra o Câncer, realizado no Centro de Convenções de Natal, de 04 a 06 de maio/2023, o Presidente do VII Congresso da Liga, Dr. Ivo Barreto, afirmou: “Formamos equipes para que não tenha um vitorioso, mas todos vitoriosos, porque vestem o conjunto do espírito, harmonia, e dedicação à Liga”. Mesmo com esse apelo para que o sucesso do Congresso fosse creditado a muitos, o médico e um dos pioneiros da oncologia no RN, Presidente Ivo Barreto mereceu e recebeu justíssima homenagem dos integrantes das equipes, no encerramento do Congresso, em face da sua brilhante atuação e empenho, que garantiram o êxito desse magistral evento médico, com ênfase nas áreas humanística e técnico-científica. O grande médico e gestor Ivo Barreto demonstrou sua emoção diante da espontânea homenagem prestada pelos seus colegas, em destaque, as palavras da sua filha, médica Cristina Rocha. Registramos também a justa homenagem que foi prestada a um dos nomes de relevo na organização e gestão da Liga Contra o Câncer, o grande médico mastologista Maciel Matias, que participou da organização da Arena de Inovação em Saúde. Foi outro momento de muita emoção para o homenageado e para todos os presentes. Alusivo aos seus 50 anos de atuação médica, Dr. Maciel recebeu um quadro, do médico e pintor Francisco Iroshima. Escrever sobre a Liga Contra o Câncer, torna-se fácil para mim, por minha condição de ex-paciente. Em 2013, submeti-me a uma cirurgia para a retirada da próstata, devido a um tumor do órgão. Dois anos depois, precisei fazer aplicação de radioterapia no local onde se situava a próstata, a fim de completar a cura. Na Liga, recebi 33 seções de radioterapia pélvica, sob os cuidados da Dra. Rosa Maria Naja, como tratamento adicional após a cirurgia da próstata, feita dois anos antes. A Dra. Rosa Maria, que trabalha em tempo integral na Liga Contra o Câncer, reúne, em uma só pessoa, as qualidades máximas da profissão médica: competência, humanismo, atualização contínua, total cuidado com o doente, dedicação à profissão, além de outras virtudes. Aliás, esse elevado padrão profissional, parece permear os diversos setores de atuação da Liga, a começar pelos competentes e dedicados gestores da Instituição. Na sala de espera, no aguardo da chamada dos seus nomes para fazerem a seção da rádio, havia um clima de descontração, quando os presentes mantinham conversas amenas e alegres, uma espécie de partilha de coragem, de apoios mútuos e de ânimos. No meu primeiro dia da rádio, ao me sentar na sala de espera, um cidadão de pele negra e com cabelos brancos me reconheceu e veio conversar comigo. Era Geraldo, pedreiro, que trabalhou como auxiliar na construção de uma casa minha, 35 anos atrás. Relembramos fatos e pessoas daqueles tempos passados. Foi uma forte emoção reencontrar Geraldo depois de tanto tempo, os dois, agora, com o mesmo diagnóstico, no mesmo lugar e em busca dos mesmos intuitos. A Liga está certa na atenção igual para todos, pois todos são iguais. É bastante relembrar: “Do pó que fomos, ao que haveremos de ser.” Somente os soberbos e os tolos desprezam essa verdade. O Rio Grande do Norte está de parabéns pelo êxito do VII Congresso da Liga Contra o Câncer, de 04 a 06 de maio/23, um magistral evento médico-científico, de âmbito nacional, realizado por uma também magistral instituição, a Liga Norte-Rio-Grandense Contra o Câncer. Texto publicado na Tribuna do Norte, em 18/05/2023.

quarta-feira, 17 de maio de 2023

 PASSAGEIRO DE DEUS


"Veja que, ao final das contas, é  tudo entre você e Deus !"
 (Madre Teresa de Calcutá)


Se serei julgado pelo amor
minha medida é o amor.

O conhecimento
basta a vós, Senhor.

Quanto a mim
passageiro vosso
nas águas fazei-me navegar
de vossas leis sábias.


-  Horácio Paiva

terça-feira, 16 de maio de 2023

 

AMIZADES LITERÁRIAS



Diogenes da Cunha Lima



O livro cria parceiros. Muito já se diz que é o melhor amigo do homem. O companheirismo criado pela literatura ultrapassa o território da imaginação. A união de Batman e Robin continua presente no imaginário infantil.


Na vida real ou na ficção, a amizade literária é vasta e, algumas vezes, icônicas. Lembremos o Cavalheiro da Triste Figura Dom Quixote, o sonhador, sempre apoiado pelo amigo escudeiro pé-no-chão Sancho Pança.


Shakespeare escreve sobre amizade no desconfiado Hamlet com o confiável Horácio. O príncipe da Dinamarca, shakespeareano, não tinha dúvidas quanto à fidelidade do fidalgo. O chileno Pablo Neruda teve um companheiro solidário, em viagens e sonhos, o baiano Jorge Amado.

O famoso filme “O Carteiro e o Poeta”, baseado no romance de Skármeta, emociona a plateia de todo o mundo. O carteiro aprendeu com Neruda a fazer metáforas poéticas.


Câmara Cascudo era um fazedor de amizades, principalmente com os potiguares e com intelectuais, inclusive dos admirados pela leitura. Entre tantos, comemorava com vinho o aniversário de Verlaine. Era íntimo de Baudelaire e Rimbaud. A amizade com Mário de Andrade, com mútua influência, está expressa na correspondência por mais de duas décadas. A aproximação com seu primeiro editor, Monteiro Lobato, rendeu histórias e estórias. A falante boneca Emília não largava Narizinho, personagens lobatianos.


Larga correspondência revela-nos a cotidiana e inseparável amizade entre os poetas portugueses Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro. Também está documentada em cartas, a ligação estreita, intelectual e emocional, da ucraniana-recifense Clarice Lispector com o mineiro Fernando Sabino. O seu amor impossível pelo poeta Lúcio Cardoso, em revelações de encanto e frustração. Normalmente, o amigo aceita e respeita o jeito de ser do outro.


As amizades literárias tornam fraternas as relações. Os intelectuais congregam-se em academias e outras instituições. Fazem publicações de obras coletivas em revistas. Estimulam e potencializam a atividade dos companheiros. Os não integrantes gozam dos associados ao dizerem que estes formam “igrejinhas literárias” e “vivem em torres de marfim”.


A amizade, reconhecida como virtude pelos filósofos, é uma necessidade humana. Carece de zelo, cuidado, carinho e admiração. Temos amizades inesquecíveis, como a que tive (tenho) com o meu mestre Luís da Câmara Cascudo, os encantados Veríssimo de Melo, Dom Nivaldo Monte, Luís Carlos Guimarães, Nilson Patriota, Dorian Gray. Todos são amigos essenciais, que muito me ensinaram, em conhecimento e vida.


Não lembrarei dos amores tão parecidos com amizade, que são, no dizer de Machado de Assis, muito mais serena. Anotamos as amizades produtoras de alumbramento, das emoções de pessoas dedicadas à música e à poesia. Vivem Vinicius de Moraes e Tom Jobim.



domingo, 14 de maio de 2023



 HOMENAGEM ÀS NOSSAS QUERIDAS MÃES 

Mesmo recém-transplantado, não poderia deixar de levar uma palavra de afeto a todas as nossas mães: esposas, sogras, noras, bisavós, avós, tias, enteadas, segundas mães (madrastas), cunhadas, primas, sobrinhas, madrinhas, amigas etc. Um tributo especial às mães dos meus três doadores de córneas. Durante o mês de maio festejamos a Mãe Celestial, Maria Santíssima. No primeiro domingo celebramos Nossa Senhora Mãe dos Homens e no segundo nossas genitoras terrenas. Na primavera europeia, no mês em que as flores desabrocham, quis a Igreja comemorar a beleza da vida na pessoa da Virgem e de nossas mães, “rosas de Deus”, no dizer de Santo Agostinho. É justo esse preito de gratidão a todas as mães da terra. Desejamos exaltar o amor, a ternura e o carinho, a compreensão, o desvelo e a dedicação. E nada melhor para simbolizar e resumir todos esses sentimentos humanos do que a figura materna. Participante do mistério de Deus, representante do Divino entre os homens, ela encarna a bondade e expressa a vida sobrenatural e nosso destino de criaturas, filhas do Eterno e Infinito. O próprio Cristo, tendo dispensado uma série de realidades e bens terrenos, não se privou do colo materno e do sorriso meigo daquela que Ele nos legou para ser também a nossa Mãe. O Filho de Deus, melhor do que nós, sabia que o coração de uma mãe expressa muito bem a misericórdia divina para conosco. É esse lado divino de nossas mães, que neste segundo domingo de maio proclamamos. É a tradução do afeto de Deus num rosto humano, que neste dia exaltamos ao homenagearmos nossas mães. A grandeza do Criador não poderia deixar de ser acessível a todas as criaturas. Sua incomensurável bondade e sua infinita capacidade de amar e perdoar não poderiam ficar sem uma representação terrena, à disposição de todos os homens: simples, cultos, importantes, humildes, doentes, saudáveis, grandes e pequenos. Deus quis nos deixar um sacramento universal de seu amor e ternura: uma mãe. Que Maria Santíssima abençoe todas as nossas mães, as peregrinas na terra e aquelas que estão em sua companhia celestial. Como Mãe Divina, conhece melhor do que nós o coração das nossas queridas genitoras, imagem de Deus, ternura incomensurável e misericórdia infinita na face da terra. E que a bênção do Deus todo-poderoso, Pai, Filho e Espírito Santo, desça sobre vós e em vós permaneça para sempre. Amém. 

São os votos de Padre João Medeiros Filho

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ADOTO ESTA MENSAGEM COMO MINHA FOSSE, COM TODO AMOR E CARINHO, PARA AS MÃES VIVENTES E COM A SAUDADE ÀS QUE ESTÃO NA CASA DO SENHOR.