sexta-feira, 15 de setembro de 2023

 A medicina passo a passo


Daladier Pessoa Cunha Lima
Reitor do UNI-RN

Em Hamlet – quarto ato, cena 3 – Shakespeare usou a expressão: “As doenças desesperadoras se curam com medicações desesperadas”.  Ao longo do tempo, a medicina parece mesmo seguir o grande bardo inglês, na busca de tratar os diversos tipos de cânceres.  São medidas heroicas que, se causam transtornos ao bom funcionamento de órgãos e tecidos, precisam ser usadas para combater um mal maior.  Paracelso, médico do século XVI, que recebeu severas críticas mas também vivos aplausos, disse certa vez que todo remédio é veneno disfarçado.  O médico indiano Siddhartha Mukherjee, em seu livro “O Imperador de Todos os Males”, afirma que a quimioterapia do câncer, consumida pela feroz obsessão de eliminar a célula cancerosa, tem suas raízes na lógica contrária: todo veneno pode ser remédio disfarçado. Sabe-se que a terapia das doenças ditas malignas avançou muito, já tendo sido quebrado o tabu que as envolvia, embora ainda persista um certo temor. Porém, o temor é mais em relação aos efeitos colaterais das drogas usadas do que em relação à própria enfermidade.
Até o século XIX, a medicina teve um avanço lento, no entanto com grande significação para algumas áreas. Basta citar a descoberta das vacinas e da anestesia, o mundo dos micróbios foi exposto, a cirurgia tornou-se mais viável e menos traumática, enfim, o empirismo deu lugar a uma prática com base em métodos científicos.  Porém, a partir do século XX é que a medicina, seguindo a evolução da ciência, atingiu um alto grau de segurança, no uso de novas tecnologias, tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento.  Alguns avanços do passado, como as vacinas, passaram a ser usados de forma mais global, com efeitos fantásticos na prevenção de doenças, tais quais a varíola, a difteria e a febre amarela.  Com Salk e Sabin, já na metade do século XX, a pólio deixou de ser o pesadelo que era para os seres humanos.  Em 1921, na cidade de Toronto, no Canadá, dois pesquisadores – Frederick Banting e Charles Best – isolaram a insulina, e um novo alvorecer surgiu para os diabéticos de todo o mundo.
Penso que existem duas eras da prática médica, a pré e a pós-antibiótico. Quando menino, antes do uso desses medicamentos, quase sofri amputação de um dedo do pé, pois uma infecção se instalou em uma ferida causada por uma simples topada. A descoberta da quimioterapia antimicrobiana é o evento que mais benesses trouxe à prática médica.  O maior precursor da quimioterapia é o alemão Paul Erlich (1854-1915), que, em 1910, revelou para o mundo o tratamento da sífilis, com o produto Salvarsan. Em seguida, vieram as sulfas, por intermédio de outro alemão, Gerhard Domagk (1895-1964). No entanto, o primeiro antibiótico, a penicilina, deve-se a Sir Alexander Fleming (1881-1955), por meio de estudos revelados ao público no início da década 1930. Alexander Fleming deve ser considerado um dos maiores benfeitores da humanidade.  
Hoje, com a medicina regenerativa em plena evolução, inclusive com a possibilidade do crescimento de novas células em qualquer parte do organismo, algumas pessoas sonham com a imortalidade.  No entanto, a própria ciência, tal qual explicitado pelo Professor Siddarta Mulcherjee, da Universidade Columbia, em seu mais novo livro “A Canção da Célula”, diz que, apesar de tanto crescimento da ciência, algumas barreiras persistem frente a esse sonho ainda impossível de se tornar realidade.

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

 

RESENHA DA REUNIÃO DA ASSEMBLEIA GERAL DA ACADEMIA MACAIBENSE DE LETRAS REALIZADA NA RESIDÊNCIA DA VICE-PRESIDENTE ODILEIA GOMES DA COSTA, NO DIA 23 DE AGOSTO DE 2023.


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Aos 23 dias do mês de agosto de 2023, pelas 15,30 horas, na residência da Acadêmica Odileia Gomes da Coista, sita à Av. Nilo Peçanha, 301 – Edifício Desembargador Floriano Cavalcante, compareceram os Acadêmicos da Academia Macaibense de Letras Francisco Anderson Tavares de Lyra, Carlos Roberto de Miranda Gomes, Valério Alfredo Mesquita, Rui Santos, Racine Santos, Hailton  Alves Ferreira Mangabeira, Maria Luzinete Dantas Lima, Sebastião Palhares. Osair Vasconcelos, Carlos Alberto Josuá Costa e Odileia Gomes da Costa, tudo conforme convocação feita no grupo oficial de WhatsApp a seguir transcrito: ACADEMIA MACAIBENSE DE LETRAS, Caros Confrades, boa noite. Convido a todos a se fazerem presentes na próxima quarta-feira, dia 23 de agosto, a Assembleia Geral Extraordinária, que será realizada no edifício residencial Floriano Cavalcante, avenida Nilo Peçanha, 301 (Residência da acadêmica Vice-Presidente Odileia Costa), em primeira chamada às 16h e em segunda chamada às 16:30. Atenciosamente, Anderson Tavares de Lyra, Presidente da AML. Assembleia Geral da AML, Data: 23 de agosto de 2023, Local: edifício residencial Floriano Cavalcante, Av. Nilo Peçanha, 301, Hora: 16h. Para tratar de assuntos relativos à posse dos novos acadêmicos eleitos, com solenidade aprazada para o dia 13 de setembro próximo vindouro. Os trabalhos foram iniciados pelo presidente da AML que expôs a necessidade de cumprimento das disposições estatutárias, respeitando-se os prazos e os regramentos nelas contidos e que esperava que assim fosse seguido por todos. Em seguida foi levantado o assunto pertinente a notas publicadas na imprensa local dando conta de atos de excesso de poder do Presidente ao promover a eleição para a cadeira nº 8, cujo Patrono é o intelectual Edilson Cid Varela, sendo que essa cadeira já está ocupada pelo escritor Marcelo Augusto Medeiros Bezerra, tanto que o intelectual Tiago Tadeu, eleito para a referida cadeira, tomou a iniciativa de renunciar a cadeira, em documento de 18 de agosto do ano corrente. Na ocasião foi travado um debate sobre os documentos relativos ao fato em discussão, tendo o Acadêmico Carlos Roberto de Miranda Gomes apresentado cópia da minuta da ata do dia 27 de agosto de 2011 e do ato de posse ocorrido no dia 11 de setembro de 2011, além do que existem fotografias dando conta da referida posse do Acadêmico Marcelo. Todos os presentes tiveram a oportunidade de manifestação sobre o assunto, destacando-se os pronunciamentos dos acadêmicos Carlos Gomes, Rui Santos, Racine Santos, Carlos Josuá, Osair Vasconcelos, Odoleia Gomes e Valério Mesquita todos acatando os documentos apresentados como verdadeiros e comprobatórios de que Marcelo Augusto é o titular da cadeira, enquanto Hailton Mangabeira insistia em que fosse dado um prazo ao interessado Marcelo Augusto para enviar a sua defesa. O Presidente Anderson declarou que fez tudo de acordo com o Estatuto e que houve a manifestação escrita da Comissão de Inscrição sem nominar o preenchimento da cadeira 8 e afirmou que pretendia renunciar ao seu mandato, no que foi apartado pelo Acadêmico Valério Mesquita dando conta que o momento não era oportuno. Os demais presentes não se pronunciaram. Após um período de reflexão foi posto o assunto em votação e foi votado pelo reconhecimento de que a cadeira 8 pertencia a Marcelo Augusto, no que o Presidente e o Acadêmico Hailton Mangabeira acataram. Nada mais havendo a tratar foi encerrada a reunião, do que, para constar, foi lavrada a presente ata, que vai assinada pelo Presidente Anderson Tavares de Lyra e por Odileia Gomes da Costa, esta na condição de secretária da reunião, por designação da presidência.


_____________________________________ Francisco Anderson Tavares de Lyra, Presidente da AML


______________________________________Odileia Gomes da Costa, Secretária designada para a sessão.



PARA CONFERÊNCIA DOS QUE ESTAVAM PRESENTES

terça-feira, 12 de setembro de 2023

 

AS CORES DO JARDIM DE NOSSA CASA
Valério Mesquita
mesquita.valerio@gmail.com
Não há melhor maneira de visualizar a eternidade que de uma janelinha aberta sobre a imensidão dos campos. Mas, pra mim bastaria o simples repouso contemplativo sobre o jardim ou as árvores do quintal de minha antiga casa em Macaíba. Elas têm a força do resgate das estações. Quantos fatos idos e vividos não presenciaram? Quantos olhares perdidos no tempo não posso recolher do velho jardim, impregnados nas folhas, nas rosas, nas pétalas dos “dedais de ouro” ou no jasmim debruçado há mais de 60 anos sobre o muro da calçada, cansado de dá boa noite?
A estátua da Deusa Minerva, de louça portuguesa, chantada no centro do jardim e chegada com a casa há mais de 100 anos passados, ainda guarda ciumenta e sobranceira a beleza e o perfume das rosas. A maior e a mais antiga das rosas não está no jardim. Ela o fez. D. Nair, do alto dos quase 100 anos, ainda o cultivava, associando-o a sua vida através do doce mistério da contemplação nas manhãs de ressurreição. Câmara Cascudo imerso nas brumas dos 80 anos dizia que “era uma saudade em vida agarrada ao sonho de continuar a viver”. Não há força mais dramática na passagem do ser humano pela vida do que a do senso trágico da sua própria brevidade. Partilhei, com a minha mãe, todas as emoções de sua velhice. Os seus repentes, as suas fragilidades e, acima de tudo, o patrimônio indescartável de suas lembranças. “Meu filho, a velhice é um fracasso”, queixava-se sob o peso de suas deficiências. Ao me ver cercado de amigos, conversando política, ariscava um prognóstico incontestável: “O Partido Social Democrático (PSD) nunca perdeu uma eleição. Eu e Mesquita demos aqui em Macaíba brilhantes vitórias. E como está esse ano?”. Era a heroína política anônima, ainda crédula na grandeza do último milagre do velho PSD de 1950, revivendo e reinventando as emoções limpas e as ilusões que um dia viajou com ela.
Quanto fascínio não exerce sobre todos nós o vasto jardim da rua Francisco da Cruz, nº 39, Macaíba. E os momentos de desilusão, sofrimento, melancolia, próprios dos lideres políticos em tantos olhares dispersos de Alfredo Mesquita, não se perderam pelos canteiros, e eles, somente eles, ainda guardam hoje mágoas secretas e lágrimas furtivas de profundidade vital?
Lembro-me que certa vez, meu pai criou no jardim uma asa branca. Era fã das músicas de Luiz Gonzaga. Permanecia longo tempo com a ave entre os dedos após chamá-la. Conversava com ela. Era a sua paz cósmica satisfeita. Trágico e negro foi o dia em que encontrou em pedaços pelo jardim a asa branca de sua ternura. Adoeceu. O filho médico Carlos Mesquita veio vê-lo urgentemente. O jardim que se tornara berço, também se transformara em túmulo de sua franciscana devoção. A partir daí, no jardim, foi decretado estado de sítio que puniu todos os cães e felinos vadios de perto e da distância.
Todas as reações:
Geraldo S. Queiroz, Ivan Maciel de Andrade e outras 67 pessoas

 


Esperando o novo arcebispo 

Padre João Medeiros Filho 

O profeta Isaias põe nos lábios de Deus Todo-Poderoso asseguintes palavras: “Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, os vossos caminhos não são os meus caminhos” (Is 55, 8). Deus não se prende à vontade dos homens. Realiza o que lhes pode trazer alegria e paz. Está escrito no Evangelho de João: “O espírito de Deus sopra onde quer” (Jo 3, 8). A designação do novo arcebispo de Natal, anunciada em julho próximo passado, corrobora a afirmação bíblica. Convém registrar que as quatro sedes arquiepiscopais, integrantes do Regional Nordeste II da CNBB, são ocupadas por arcebispos oriundos de outros estados. Os metropolitas da Paraíba e do Rio Grande do Norte são naturais da Bahia. Os de Pernambuco e Alagoas são paraibanos. Atualmente, nas capitais brasileiras, apenas cinco prelados nasceram no próprio estado. “Importa que o pastor não siga uma vida, nem possua uma mentalidade de príncipe”, recomenda o Papa. As entrevistas concedidas pelo nosso novo antístite denotam simplicidade. Seu ministério episcopal foi exercido em duas dioceses, em meio à gente humilde, sedenta de Deus e do Evangelho. Na opinião de estudiosos, a indicação de Dom João dos Santos Cardoso faz parte do processo de renovação pastoral dasigrejas diocesanas. A Santa Sé, por meio de seus organismos, tenta aliar à mensagem evangélica as necessidades espirituais e socioculturais dos bispados. Assim, escolhem-se pastores que possam fomentar colegialidade e entendimento interno nas igrejas. O Concílio Vaticano II despertou uma abertura maior para o mundo. Durante quase sete décadas, a arquidiocese de Natal esteve sob a liderança de prelados provenientes do seu próprio presbitério, calcado em sua visão eclesiológica. Foi importante e providencial. Mas, a Sé Apostólica julgou relevantes novos rumos. O período de pastoreio dos potiguares – de 1954 a 2023 – foi propício à assimilação de muitos valores religiosos. Entretanto, segundo teólogos, era preciso manifestar outras faces da Igreja de Cristo. A história eclesiástica do Brasil vem mostrando isso. Por exemplo, em João Pessoa, após mais de sessenta anos (1894-1959) da mesma orientação pastoral, a Santa Sé resolveu mudar. Igualmente, pode-se verificar em outras dioceses brasileiras. Foi o caso de Caicó, onde de 1952 a 2006, os pastores provieram do clero natalense. Seja bem-vindo, Dom Cardoso. Enquanto pesquisador, ex-professor de uma instituição universitária pública, olhe com carinho para o nosso mundo acadêmico. Constitui uma das maiores paróquias de seu novo rebanho, contando com mais de setenta mil pessoas. Outrora, havia dezesseis padres dentre os docentes do ensino superior para cerca de dez mil alunos. A presença sacerdotal era marcante na academia, contribuindo para a formação de líderes e cristãos. Muitos ajudaram a construir o Movimento de Natal. Hoje, a Igreja arquidiocesana detém apenas um sacerdote e um diácono permanente inseridos no ensino universitário. Em 1929, Dom Marcolino Dantas (quarto bispo e primeiro metropolita do RN), natural da Bahia, ao assumir a diocese – compreendendo todo o território de nosso estado – encontrou uma população de aproximadamente seiscentos mil habitantes. Hoje, o arcebispado (sem as dioceses sufragâneas) conta com mais de um milhão e meio, sendo um dos maiores do Brasil em extensão geográfica e densidade populacional. Dom Marcolino empenhou-se na criação de dois bispados no solo potiguar. Hoje, pela sua população e superfície territorial comporta mais dioceses. Espera-se que o novo antístite, a exemplo de seu conterrâneo, aceite o desafio de propor a criação de novas circunscrições eclesiásticas. Nosso quarto bispo repensou também a formação do clero, simbolizada na construção do atual prédio do seminário. Há que olhar para a unidade da família norte-rio-grandense, clamando por harmonia, hoje ressentida por razões ideológicas. A pastoral das peregrinações pede atenção. Nossa Senhora é a Mãe da Igreja. A devoção a Maria merece ser aprofundada, mormente nos santuários.Cabe lembrar que foram devotos da Virgem Santíssima (como Otto Guerra, João Wilson e uma plêiade de marianos) os pilares da renovação da Igreja em Natal e do Movimento que leva esse nome. Dom João, a grei do Senhor carece cada vez de solicitude amorosa e paciente. Ela tem fome do Divino. Deseja-se que futuramente a história possa registrar: “Houve um homem enviado por Deus, cujo nome era João” (Jo 1, 6).

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

 


O TEMPO DE DEUS

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes

O tempo de Deus não é o nosso tempo! O tempo de Deus é perfeito, não há atrasos (Gálatas 4:4). O tempo de Deus está relacionado ao tempo oportuno para cumprimento do Seu propósito ou vontade. Não pode ser medido ou cronometrado, mas atua na nossa história consoante à Sua vontade.

A razão dessa premissa é ter chegado aos 84 anos de idade, isto é, 14 anos além da idade bíblica.

Família reunida, amigos atentos enviando mensagens e a minha saudade e solidão interior – faltava a peça principal dessa caminhada, a minha inesquecível THEREZINHA.

Tal qual um ator, sorri e fingi alegria. Contudo, a realidade chegou após às 21 horas quando voltei ao meu exílio voluntário para meditar e dormir. Consegui os dois até que nasceu o sol do dia seguinte, quando senti a realidade – continuava só.

Aqui não dou conselho para ninguém seguir o meu caminho, porquê ele parece patológico para muitos. Para mim foi uma escolha de amor eterno, onde a felicidade que foi vivida não se apaga.

Às vezes penso em fazer uma troca – todos os anos de vitórias, títulos e honrarias, por uma casinha modesta de praia com o espírito da composição de Chico Elion, sentido a brisa do mar, o regaço da lua, o calor do sol e pés molhados pela natureza do mar, como fora no passado na velha Redinha da minha adolescência, mas com a presença da mulher amada.

Sendo isso possível somente no sonho delirante, ponho-me a pintar, qualquer coisa que seja, para ocupar o grande espaço que resta da minha vida.

Constatei que se afastou de mim o espírito de Don Quixote e ficou o de Sancho Pança, até no aspecto físico.

Nada tenho a reclamar, pois o tempo é de Deus: “Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena”. Tem razão o poeta lusitano Fernando Pessoa!