terça-feira, 12 de setembro de 2023

 


Esperando o novo arcebispo 

Padre João Medeiros Filho 

O profeta Isaias põe nos lábios de Deus Todo-Poderoso asseguintes palavras: “Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, os vossos caminhos não são os meus caminhos” (Is 55, 8). Deus não se prende à vontade dos homens. Realiza o que lhes pode trazer alegria e paz. Está escrito no Evangelho de João: “O espírito de Deus sopra onde quer” (Jo 3, 8). A designação do novo arcebispo de Natal, anunciada em julho próximo passado, corrobora a afirmação bíblica. Convém registrar que as quatro sedes arquiepiscopais, integrantes do Regional Nordeste II da CNBB, são ocupadas por arcebispos oriundos de outros estados. Os metropolitas da Paraíba e do Rio Grande do Norte são naturais da Bahia. Os de Pernambuco e Alagoas são paraibanos. Atualmente, nas capitais brasileiras, apenas cinco prelados nasceram no próprio estado. “Importa que o pastor não siga uma vida, nem possua uma mentalidade de príncipe”, recomenda o Papa. As entrevistas concedidas pelo nosso novo antístite denotam simplicidade. Seu ministério episcopal foi exercido em duas dioceses, em meio à gente humilde, sedenta de Deus e do Evangelho. Na opinião de estudiosos, a indicação de Dom João dos Santos Cardoso faz parte do processo de renovação pastoral dasigrejas diocesanas. A Santa Sé, por meio de seus organismos, tenta aliar à mensagem evangélica as necessidades espirituais e socioculturais dos bispados. Assim, escolhem-se pastores que possam fomentar colegialidade e entendimento interno nas igrejas. O Concílio Vaticano II despertou uma abertura maior para o mundo. Durante quase sete décadas, a arquidiocese de Natal esteve sob a liderança de prelados provenientes do seu próprio presbitério, calcado em sua visão eclesiológica. Foi importante e providencial. Mas, a Sé Apostólica julgou relevantes novos rumos. O período de pastoreio dos potiguares – de 1954 a 2023 – foi propício à assimilação de muitos valores religiosos. Entretanto, segundo teólogos, era preciso manifestar outras faces da Igreja de Cristo. A história eclesiástica do Brasil vem mostrando isso. Por exemplo, em João Pessoa, após mais de sessenta anos (1894-1959) da mesma orientação pastoral, a Santa Sé resolveu mudar. Igualmente, pode-se verificar em outras dioceses brasileiras. Foi o caso de Caicó, onde de 1952 a 2006, os pastores provieram do clero natalense. Seja bem-vindo, Dom Cardoso. Enquanto pesquisador, ex-professor de uma instituição universitária pública, olhe com carinho para o nosso mundo acadêmico. Constitui uma das maiores paróquias de seu novo rebanho, contando com mais de setenta mil pessoas. Outrora, havia dezesseis padres dentre os docentes do ensino superior para cerca de dez mil alunos. A presença sacerdotal era marcante na academia, contribuindo para a formação de líderes e cristãos. Muitos ajudaram a construir o Movimento de Natal. Hoje, a Igreja arquidiocesana detém apenas um sacerdote e um diácono permanente inseridos no ensino universitário. Em 1929, Dom Marcolino Dantas (quarto bispo e primeiro metropolita do RN), natural da Bahia, ao assumir a diocese – compreendendo todo o território de nosso estado – encontrou uma população de aproximadamente seiscentos mil habitantes. Hoje, o arcebispado (sem as dioceses sufragâneas) conta com mais de um milhão e meio, sendo um dos maiores do Brasil em extensão geográfica e densidade populacional. Dom Marcolino empenhou-se na criação de dois bispados no solo potiguar. Hoje, pela sua população e superfície territorial comporta mais dioceses. Espera-se que o novo antístite, a exemplo de seu conterrâneo, aceite o desafio de propor a criação de novas circunscrições eclesiásticas. Nosso quarto bispo repensou também a formação do clero, simbolizada na construção do atual prédio do seminário. Há que olhar para a unidade da família norte-rio-grandense, clamando por harmonia, hoje ressentida por razões ideológicas. A pastoral das peregrinações pede atenção. Nossa Senhora é a Mãe da Igreja. A devoção a Maria merece ser aprofundada, mormente nos santuários.Cabe lembrar que foram devotos da Virgem Santíssima (como Otto Guerra, João Wilson e uma plêiade de marianos) os pilares da renovação da Igreja em Natal e do Movimento que leva esse nome. Dom João, a grei do Senhor carece cada vez de solicitude amorosa e paciente. Ela tem fome do Divino. Deseja-se que futuramente a história possa registrar: “Houve um homem enviado por Deus, cujo nome era João” (Jo 1, 6).

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