sábado, 10 de abril de 2021

 

Minhas Cartas de Cotovelo – verão de 2021-23

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes

      



        Hoje é o primeiro sábado após a Ressurreição e o Sol volta a ocupar o seu trono de luz e calor, na nossa querida Cotovelo, onde tenho a minha atual morada, em convivência com a natureza, ainda com alguma preservação, com os saguis, gaviões, passarinhos de toda ordem e camaleões.

       O único empecilho (êta palavrinha que me fez sofrer quando escrevi o meu primeiro livro, nos idos de 1970, onde coloquei como impecilho ou empecilio – não lembro mais) obrigando-me a corrigir livro por livro. Mas continuando o meu raciocínio, a única e grande dificuldade é o meu acesso ao mar, pois há cerca de 30 anos construí uma descida, com corrimão. Mas agora as pernas não suportam mais a descida e subida, senão com a ajuda de alguém.

       Na condição de um tanto deficiente, não perdi a esperança e comecei a bolar a possibilidade de construir uma rampa para deficientes e/ou cadeirantes. Fiz a medição e desenhei. Contudo, sem a experiência nesse tipo de equipamento, convidei o nosso Octávio Lamartine, Presidente da PROMOVEC para me ajudar.

       Não demorou muito, em 24 horas, ele foi comigo ao local, fez as suas considerações (inteiramente diferentes das minhas projeções) e ficou de trazer uma planta, dentro da métrica permitida, para evitar acidentes ou abusos daqueles que, não sendo deficientes, usam a rampa especial para fazer suas brincadeiras de ciclistas ou motociclistas, como fizeram com a Escada da Cultura, em Cotovelo novo.

       Estou ansioso que se concretize o meu novo sonho e, muitíssimo breve, possa concluir o equipamento, que será aberto ao público.

      

 

 


SEVERO: VOLTA PRA CASA?

 

Valério Mesquita*

Mesquita.valerio@gmail.com

 

 

Augusto Severo de Albuquerque Maranhão tem sido vítima de seguidas “desomenagens” no seu torrão Rio Grande do Norte. Primeiro, a Escola Estadual com o seu nome na rua Mipibu, ao lado da Academia Norte-Riograndense de Letras, sofreu, por alguns anos, danos contínuos, chegando a fechar e os alunos retirados. Tempos depois, recursos chegaram para recuperar. Antes, transferiram o aeroporto de Parnamirim construído inicialmente pelos americanos durante a segunda guerra mundial para o vizinho São Gonçalo do Amarante. O Trampolim da Vitória ficou vago e vazio. E o pior, o nome do patrono: esquecido.

 

O ciclo vicioso e nefasto não ficou por aí. A praça Augusto Severo na Ribeira, com um monumento erguido à memória do mártir da aviação, próximo ao teatro construído pelo seu irmão Alberto Maranhão, esteve na iminência de ser mudado para Dom Bosco. Somente agora, ante os protestos de vários segmentos da cultura, o nome do antigo logradouro voltou a denominação anterior (o nome original datado  de décadas era praça da República). Foi preciso um novo decreto municipal para ratificar.

 

No mapa da nomenclatura dos municípios potiguares retiraram o nome de Augusto Severo de Campo Grande. Mas, deixaram o de outras figuras de menor expressão, em diversos municípios do Rio Grande do Norte.

Em Macaíba, terra natal do aeronauta, onde passeou nas ruas, nasceu num sobradão no centro da cidade, hoje o largo é designado com o seu nome e existe no local um monumento erguido nos anos trinta. O casarão ruiu vítima do descaso. Nessa cidade, já descansam os restos mortais de Auta de Souza e Fabrício Maranhão. Mas, a pergunta que não quer calar é por que o projeto de trasladação das suas cinzas não retornam a sua verdadeira casa? Soube, através dos macaibenses brigadeiro do ar Louis Josuá Costa e do advogado Armando Holanda que tais iniciativas datam mais de dez anos, sem que os procedimentos tenham chegado a bom termo. E hoje, com os mesmos propósitos o assunto foi retomado.

 

Recentemente, com silêncio e desinteresse, as autoridades de Macaíba ouviram um grupo de macaibenses para trazer Augusto Severo a sua cidade. A falta de receptividade trouxe imensa tristeza e desalento a todos os conterrâneos. Ante a recusa oficial ele irá para o nosso vizinho Parnamirim, sem que isso represente nenhum demérito. Porém, Macaíba detinha a prioridade, o privilégio da natividade e da conterraneidade de Severo. Segundo o Dr. Armando Holanda, a decisão da volta do aeronauta já foi tomada com o apoio logístico das embaixadas da França, Estados Unidos e Itália, além da prefeitura de Parnamirim e do Ministério da Aeronáutica. Isto posto, ele não voltará a sua terra, como patrimônio cultural, telúrico, político, social e histórico de sua família e do seu invento, durante mais de um século. Até fizeram as contas. O orçamento atingirá oito milhões de reais. Nele constam restaurações de aeronaves, museu, mausoléu específico em local de realce e uma capela ecumênica no Parnamirim Field. 

 

Macaíba, a terra natal, já perdeu. Lá não será a sua última morada. Augusto não voltará para o lar. Vai para a casa do nosso vizinho. De todo modo, seja bem-vindo!

 

É sempre citada a frase que "o povo que não tem passado não tem futuro". Preservar a memória dos feitos heróicos, dos vultos importantes que emolduraram a tradição de um povo e de um município, exige-se sensibilidade, amor a terra e responsabilidade com a história que não pode ser esquecida. Como registro iterativo na crônica dos tempos, torna-se necessário dizer o que aconteceu e a perda sofrida. Coisa parecida ocorreu com o empório de Fabrício Pedroza (de 1850). O Ministério do Turismo liberou uma parcela de hum milhão de reais para o início da restauração. A grana aqui ficou na Caixa Econômica esperando que o governo passado a retirasse. Mas, o dinheiro voltou por falta de espírito público e descuido com o patrimônio histórico do Rio Grande do Norte. A Procuradoria do Estado do Rio Grande do Norte tem conhecimento desse fato do desvario do ex-governador.

 

A SOMA DE TODOS OS MEDOS

Valério Mesquita

“A morte é hedionda e a vida também”. Nesta frase de Marguerite de Yourcenar em “Memórias de Adriano”, perpasso o drama que vive Macaíba, minha terra, onde a juventude sem rumo da periferia está sendo dizimada pela droga. Toda semana, tomba no asfalto - como carcaça de animal no abatedouro - um adolescente. 

Na sexta-feira passada (02), ocorreram seis homicídios num intervalo de poucas horas. Foram dois homicídios no centro da cidade, onde é realizada a feira. Outros dois no bairro Campo das Mangueiras e o quinto no Loteamento Esperança. Numa região próxima, ao tentar entrar em casa, mais um jovem foi alvejado na cabeça e veio a óbito. Outras duas pessoas foram baleadas e sobreviveram ao atentado.

Como cidadão macaibense, quer queiram ou não, toma conta de mim o sentimento da dor de pai. Os bairros da cidade: Campo das Mangueiras, Alto do Vilar, Araçá, Alto da Raiz, rua do Fio, Alto do Ferreiro Torto e outros tantos ferrados pelo cartel, a tragédia virou rotina e impunidade.

Semanalmente, ocorrem tiroteios dignos das favelas do Rio de Janeiro. As vítimas, como de costume, são jovens. À noite, as ruas são tristes e desertas. As praças que pertencem ao povo, às famílias, hoje desabitadas, delas se apoderaram os traficantes como esconderijos prediletos. Os reforços e os esforços da polícia local não têm sido suficientes. Macaíba detém uma 3a. Companhia da Polícia Militar, além de uma delegacia civil, mas falta o padrão Fifa, entende? Elas não foram implantadas apenas para recolherem cadáveres e digitarem boletins de ocorrências! A população indefesa não vê muito interesse e empenho das autoridades municipais no sentido de enfrentar o problema. Pesa nas pálpebras da segurança pública de Macaíba o grude da indiferença.

Vejo a terra das minhas raízes perigosamente perdida e sem rumo. A cidade geme sob o peso dos escombros das más administrações passadas. Além de haver perdido muito de sua alma, ela e seus habitantes, são meros e casuais transeuntes inúteis, sem proteção e sem guarida. Quando revejo Macaíba, não me revejo mais, tal a promiscuidade e o abandono a que foi relegada.

O tráfico está migrando de Natal para essas cercanias. A droga está no quintal, à sombra das bananeiras, debaixo dos coqueirais. As manhãs, tardes e noites, as ruas e calçadas são tingidas de sangue de jovens vítimas da impunidade. Os costumes se barbarizaram. O sangue dos conterrâneos está contaminado pelo vício e pela mentira social da burocracia. É tempo de curar os cortes desfechados na carne do tecido comunitário. Os adolescentes não são escória, mas estrutura, promessa, futuro, classe social, mão de obra e ser humano. O jovem tomba inerte em Macaíba porque os governos não amparam, nem protegem. Os que me entenderam, leiam e reflitam.

(*) Escritor.



 

 

E o sorriso se foi

Tomislav R. Femenick – Jornalista e professor

 

Maria Goreth Bezerra Dias nasceu em Natal, no dia 05 de novembro de 1956. No dia 15 de junho de 1975, acrescentou o sobrenome Femenick ao seu nome. Faleceu no dia 08 de março de 2021, aos 64 anos. Suas cinzas foram lançadas ao mar em frente ao Forte dos Reis Magos, o principal monumento histórico do nosso Estado, objeto de suas últimas pesquisas, visando desenvolver um estudo cientifico, a ser publicado em uma revista que ela e umas colegas estavam projetando lançar, em setembro próximo.

Gorete Femenick era bacharel em Pedagogia, pela PUC-SP, e mestre em Psicopedagogia pela Faculdade Oswaldo Cruz, também de São Paulo. Sua dissertação abordou um tema, na época, ainda controverso: As artes plásticas como instrumento de desenvolvimento cognitivo da criança”. Não por acaso ela era artista plástica, com uma produção intensa de pinturas, em vários estilos, que vão do figurativo ao impressionismo. De volta a Natal, fundou uma escola voltada para formação de crianças, o Instituto Educacional Femenick. Aqui termina a sua “descrição oficial”, profissional, se quiserem.

Todavia Goreth era mais do que isso. Junto com um grupo de amigas e amigos, contribuiu para amenizar as lacunas sociais de algumas famílias, aqui na região metropolitana. Lotava seu carro de alimentos, livros e peças de artesanato e os levava para doação em comunidades carentes de Macaíba e Ceará-Mirim. Aproveitava a oportunidade para ensinar elementos básicos de higiene, economia doméstica, alfabetização e aprendizagem. Dizia que essa era uma tarefa que Deus lhe tinha dado. Só suspendeu essas atividades quando a saúde não lhe permitia mais continuar.      

Tivemos quase 46 anos de convivência, cumplicidade e, por que não, algumas divergências pontuais, como é comum em casais. De vez em quando me surpreendia com observações inusitadas. Estávamos subindo no elevador da Torre Eiffel, em Paris, quando ela, inopinadamente, disse que “bilhões de pessoas do mundo nunca sentiriam essa sensação histórica, pois nunca iriam a França, e muitos dos que iam somente viam a torre como um passeio turístico”. Uma vez, quando estávamos de férias nos Estados Unidos, um colega, professor da New York University, convidou-nos para visitar a Liberty Island, onde fica localizada a famosa Estátua da Liberdade. Goreth se recusou, dizendo que aquele era um monumento tendencioso. Significava a esperança de uma nova vida para os emigrantes brancos fugidos da Europa, em um país que, até recentemente, sacramentava o preconceito racial e a separação entre pretos e brancos. 

Em São Paulo e aqui em Natal, andava com marmitas de comida no carro, para dar às famílias que pediam esmola nos semáforos. Em Catanduva, no interior de São Paulo, reunia crianças em uma praça da periferia, para ler livros infantis de Monteiro Lobado. Foi voluntária na AACD-SP e no GACC-RN. Na Vila de Ponta Negra, com um grupo de vizinhas e amigas, ensinava às crianças dançar “dança de roda” e a tocar flauta de sopro. Nunca quis que divulgassem o que ela e seu grupo faziam.

Em toda sua vida, uma coisa foi sempre presente: o seu sorriso. Essa foi a opinião unânime, foi o destaque entre as lamentações dos seus amigos nas redes sociais. Esses grupos eram de temas os mais variados: culinária, psicologia, religião, artesanato, bordado, ensino. Tenho revisto suas fotos em álbuns e nos nossos celulares. Em quase todas lá está, de formas as mais variadas, em momentos os mais diversos, o seu sorriso.

Uma outra faceta sua era o fascínio pelo mar. Adorava tomar banho de mar, até quando não podia mais. Então tínhamos que a acompanhar, seguindo seus passos lentos pela areia e amparando-a na água rasa, quando ela apanhava a água do mar com as mãos e molhava o rosto. Sempre sorrindo. Depois ia tomar um suco de maracujá, de graviola ou uma água de coco. Estava proibida de tomar refrigerantes, quaisquer que fossem.   

 Eram muitos os atributos de minha esposa. Até há bem pouco tempo ela era a revisora dos meus escritos. Livros, artigos acadêmicos, artigo de jornais, laudos de perícias judiciais e de auditoria contábeis tudo passava por seu crivo. Corrigia erros de português; tirava, substituía e acrescentava palavras, colocava as muitas virgulas que eu omitia (e ainda omito), e até discutia comigo a temática e o propósito da matéria. Era encrenqueira, como devem ser todos os bons “copy desk”. Hoje essa função é de um amigo que mora lá em Campinas-SP. Tudo vai e volta por e-mail.

O problema de amar alguém é sentir a presença da ausência do ente querido. Por mais que eu pense em Deus, quando abro a minha janela e vejo o sol ou a chuva, acho que Ele poderia ter esperado um pouco mais para levar a minha Goreth.    

 

Tribuna do Norte. Natal, 07 abr. 2021.

  

 


 

domingo, 4 de abril de 2021

 

 

Minhas Cartas de Cotovelo – verão de 2021-22

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes

 



           Na paz da praia de Cotovelo, contemplo a verdadeira Páscoa, representada por inúmeros gestos de solidariedade da Comunidade, abrangendo a própria Cotovelo, pela generosidade da PROMOVEVC, através do seu Presidente Octávio Lamartine, da Professora Tereza Neuma, em nome do Rotary Clube Natal- Sul, da voluntária Tia Beta (Roberta Oliveira), dos moradores, proprietários e veranistas, da nova associação criada em Pirangi e comerciantes, como o Armazém Super Show, das Igrejas Cristãs, que vêm suprindo a população mais necessitada com complementação alimentar, neste momento de pandemia,

Tais gestos marcam efetivamente a comemoração da Páscoa, assim compreendida a celebração da igreja cristã em homenagem à ressurreição de Jesus Cristo.

Páscoa se origina da palavra em latim Pascha, que deriva do hebraico Pessach/Pesach, que significa “a passagem”. Essa “passagem” está descrita no Antigo Testamento como a libertação do povo israelita da escravidão no Egito. A Páscoa era celebrada pelos judeus para comemorar a liberdade conquistada pelo seu povo.

Já no Novo Testamento, a Páscoa é a celebração da passagem da morte para a vida, através da ressurreição de Jesus Cristo.

Hoje é o Grande Dia

Cristo vive

É a Vitória,

A Ressurreição.

É a Glória

Jesus volta ao nosso convívio

Apenas na simbologia litúrgica

Pois Ele jamais saiu do nosso lado.

FELIZ PÁSCOA A TODAS AS CRIATURAS VIVENTES E ÀS QUE ESTÃO, EM ESPÍRITO, JUNTO DO SENHOR, COMO A NOSSA THEREZINHA ROSSO GOMES. QUE SEJA AGORA O TEMPO DA VITÓRIA, DA FÉ, DA ESPERANÇA E DA SOLIDARIEDADE. SÃO ESSAS AS GARANTIAS DA VIDA PLENA, CRISTÃ E VERDADEIRA.