sábado, 15 de janeiro de 2011



J’ACUSE !!!

(Eu acuso !)


(Tributo ao professor Kássio Vinícius Castro Gomes)

« Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice. (Émile Zola)
Meu dever é falar, não quero ser cúmplice. (...) (Émile Zola)

Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do estudante foi ter que... estudar!).

A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes. Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O ápice desta escalada macabra não poderia ser outro.

O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos ambientes escolares.

Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de convivência supostamente democrática.

No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”. A coisa continuou: “Não reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis, pois “temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. Aliás, “prova não prova nada”. Deixe o aluno “construir seu conhecimento.” Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, “é o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal de contas, ele está pagando....

E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidêmica, travestida de “novo paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos que mudar ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter conhecimento é ser ‘crítico’.”

Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno – cliente...

Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que “o mundo lhes deve algo”.

Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar.

Ao assassino, corretamente , deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. A acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca:

EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;

EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a “revolta dos oprimidos”e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vítimas;

EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;

EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem tranqüilas, provas de mentirinha, para “adequar a avaliação ao perfil dos alunos”;

EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação de cursos superiores completamente sem condições, freqüentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;

EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;

EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual, finge que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;

EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu “tantos por cento”;

EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno “terá direito” de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo para o desespero de seus futuros clientes-cobaia;

EU ACUSO os que agora falam em promover um “novo paradigma”, uma “ nova cultura de paz”, pois o que se deve promover é a boa e VELHA cultura da “vergonha na cara”, do respeito às normas, à autoridade e do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do conhecimento;

EU ACUSO os “cabeça – boa” que acham e ensinam que disciplina é “careta”, que respeito às normas é coisa de velho decrépito;

EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;

EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição;

EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os professores sejam “promoters” de seus cursos;

EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela ocorrência dos incidentes maiores;

Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos -clientes, serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia.

Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de “o outro”.

A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo.”

Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor “nova cultura de paz” que podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.

Igor Pantuzza Wildmann
Advogado – Doutor em Direito. Professor universitário
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Recebido do Professor Adilson Gurgel de Castro (COM O MEU INCONDICIONAL APOIO)

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011


NOVAS CARTAS DE COTOVELO 04 (14/01/2011) *

Na vastidão do horizonte inalcançável o eu repousa no silêncio insondável, onde, na tarde vazia, busco o aconchego das leituras novas e das releituras de textos, frases, poemas ou simples palavras, como as trocadas nas Cartas entre Cascudo e Mário de Andrade.
Vejo, então, que o tempo não altera o enlevo da alma, fazendo num só instante o encontro de gerações.
Desafiou-me o Poeta: - o que é mais belo?
O instante em que o pássaro alça voo
Ou aquele em que, suavemengte pousa?

(Assis Câmara, Desafio - Destino dos Pássaros, p. 23)
A resposta não ouso proferir - prefiro a dúvida, como confessada por outro Poeta:
A missão da poesia
é revelar o amor.
Desilusão de pedra se desfaz
Se a palavra boa e bela penetra
o mármore
em ondas de calor.
A utilidade da poesia é revigorar a alma
por obra e graça de lábios
que sopram a vida
à transitória flor.

(W.D.Cavalcanti, Canova - Adiantamento da Legítima, p. 134)
Debruço-me e em extase de um momento, resgato o pulsar de um pensamento proclamado num passado bem distante:
Deixa o teu vulto esparso, alvo e dormente,
Tremer de frio, ó juriti da mata,
Pois vou fazer dos beijos a cascata
Em que te hás de embeber gostosamente.

(Abner de Brito, Enterro do Pecado - Belle Époque na esquina, TG, p. 197)
Esses devaneios chegaram no sentir da brisa, quando a tarde adormecia em sua claridade solar.
Estanco. Amanhã será outro dia para a praticagem do impossível em que sugere o mesmo Poeta W.D.Cavalcanti, e,
Retorno à ilha
como as próprias águas navegadas
que já me aguardam em outras margens
- transformadas.

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* Carlos Roberto de Miranda Gomes - escritor/veranista

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011



JOVENS ARQUITETOS COMEÇAM COM GESTO DE RECONHECIMENTO E GRATIDÃO

Recebi do meu irmão MOACYR, com grande orgulho e singular alegria, a informação de haver sido honrado pelos concluintes de Arquitetura da UFRN com o seu nome para a Turma 2011.
O gesto é por demais engrandecedor e justo para quem deixou os louros do Rio de Janeiro, onde já tinha nome, para fincar a sua tenda de trabalho no torrão potiguar.
Querido irmão, todos nós da família estamos orgulhosos e agradecidos aos jovens arquitetos, afirmando que a cidade de Natal e o nosso Estado só podem esperar desses novos profissionais da prancheta melhores dias e engrandecimento da ética. Começaram bem! PARABÉNS.
A propósito, transcrevo trecho do e-mail recebido de MOÁ: "O assunto Machadão já está esgotado, já encheu o saco de todo mundo e não tem mais jeito pelas razões já bastante conhecidas. Acontece que recebí ontem o convite em anexo, no qual os concluintes do curso de arquitetura e urbanismo da UFRN pretendem me prestar uma homenagem, dando meu nome à sua Turma, com os seguintes dizeres enaltecedores "SERÁ UMA HONRA CONTAR COM ALGUÉM QUE FEZ TANTA DIFERENÇA EM NOSSA FORMAÇÃO PROFISSIONAL, SERVINDO COMO EXEMPLO DO QUE SIGNIFICA A VERDADEIRA ARQUITETURA. TE ESPERAMOS NAS NOSSAS SOLENIDADES DE FORMATURA". Como a capa do convite traz a foto do Machadão, é lícito entender-se que a obra em comento é considerada pelos jovens arquitetos (e pelos velhos também, como o público em geral) como maior exemplar da arquitetura modernista do seculo passado, em nossa Capital, e, que, por traz do gesto generoso está um protesto mudo contra a brutalidade com que nossos (des) governantes tratam nossos legítimos valores. Não me sinto encorajado a divulgar o assunto, primeiro, para não parecer presunçoso, e, principalmente por não me achar com o direito de envolver esses jovens ainda puros, em polêmicas com velhas rapozas, capazes de dizimá-los facilmente por meio da poderosa força da corrupção somada à estupidez humana. Sem dúvida, se a luta não fosse tão desigual, daria uma boa reportagem. De qualquer forma, serve de consolo e registro para a posteridade."Desculpe irmão, mas eu não poderia deixar passar esse exmplo de nobreza desses jovens que, com a personalidade que demonstram não serão jamais atropelados pelos "vendilhões do templo".
PARABÉNS PARA VOCÊ E PARA ELES MAIS UMA VEZ.
Com o abraço do mano Carlos.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011



NOVAS CARTAS DE COTOVELO 03(11/01/2011)
*

No domingo do Batismo do Senhor, cujo evangelho li ainda em jejum, dei-me a meditações até o momento do café matinal. Após essa primeira refeição, em que pese o dia radioso de sol - um convite ao banho de mar, até necessário para refazer o corpo da insônia da noite passada, mercê dos decibéis desmedidos do Circo da Folia, recuei e escolhi aleatoriamente um dos muitos livros que trouxe na bagagem e deparei-me com "Notícias de Hontem", de Elísio Augusto de Medeiros e Silva, edição do autor pela Arquitetura das Letras, o qual passei a ler e, a cada página, aguçar a memória para momentos passados, alguns episódios que presenciei e ousei fazer anotações complementando o texto, até porque o escritor é um jovem nascido em 1953 e muito reproduziu o que ouviu dizer.
A escolha desse livro foi uma total felicidade para preencher os dias preguioçosos do veraneio, pois levou-me aos devaneios dos tempos vividos, como diria o amigo Eider Furtado, memorialista de estirpe. Ali me encontrei com a Ribeira velha de guerra, palco dos meus primeiros passos da infância, quando em 1948, vindo do interior, passava no destino do Cáis Tavares de Lira para chegar à Redinha, entrando na Agência Pernambucana de Seu Luiz Romão e na Loja 4.200 (ou 4.400), encantamento permanente nas vitrines com os brinquedos ali expostos (O cavalinho da vitrine lá da rua do Ouvidor - da música de Vicente Celestino).
Revivi a adolescência quando procurava uma casa com sinuca na Rua Dr. Barata, à portas fechadas para não dar bandeira aos comissários de menores; mais tarde dessa rua fiz caminho no início da atividade de representante comercial junto à Casa Lux de Seu Amaro Mesquita, Cyro Cavalcanti e Santos & Cia, de Chico Porto.
Relembrei as visitas às Livrarias Ismael Pereira e Internacional em busca de livros para desbravar os saberes iniciados na Faculdade de Direito da Ribeira.
Recompus na memória os programas da SAE no Teatro Carlos Gomes, o andar apressado na ladeira da rua do Sul, nas escadarias do lado do Saneamento em direção à Rádio Poti para dar tempo ao ensaio com a orquestra de Waldemar Ernesto.
Aliás, na crônica sobre a Rádio Poti houve esquecimento dos meninos prodígio de então: eu, Edmilson Avelino, Odúlio Botelho e José Filho, registrado apenas Agnaldo Rayol - desse assunto escreverei brevemente.
Quantas emoções, saudades e lembranças - a Praça Augusto Severo, a Escola Doméstica de Dona Noilde, os Cartórios, os alfaiates, o velho João Alves que fazia exposição das suas fotografias das sumidades que circulavam pela Dr.Barata no tempo da guerra, dos americanos, do Grande Hotel e do piano de Paulo Lira, da Castanhola, dos becos e pensões alegres, do Centro Náutico e do Sport, de Ricardo Cruz e Paulo Cunha, das farmácias e tipografias, dos boêmios, dos jornalistas, dos médicos e advogados famosos de Natal, do homem que fabricava botas, do chapéu Ramezoni (Casa Rubi de Seu Alfredo Mesquita), do meu sogro - o italiano Rocco Rosso da Oficina Brasil na Travessa Argentina, 45, bem próximo da travessa Venezuela, onde ficava o atelier de Souza Lelis, das aventuras no Porto, da Estação Ferroviária, do Cova da Onça, da Confeitaria do Português Olívio, das ruas Duque de Caxias, Chile e Frei (Padre) Miguelinho, dos Correios, da Alfândega, da Capitania dos Portos e da Junta Médica dos Doutores Feijó e Pelúsio. As prévias carnavalescas, os bondes, enfim, dos lugares e sua gente.
Mas o livro não trata só da Ribeira - faz incursões diversas de Natal e outras cidades - vale a pena ler essa gostosura!
A propósito, apesar de ter centrado quase tudo naquela bairro canguleiro, dois assuntos me chamaram especial atenção - o primeiro narrativo da chegada do primeiro automóvel ao sertão - é formidável e o seu desfecho é marcante - a geringonça provocou pânico na cidadezinha, apesar de ser apenas uma unidade. A igreja ficou cheia, a polícia mobilizada, as explosões do motor e o deslocamento do veículo, a 20 km/hora eram objeto de comentários sobre o vácuo dessa velocidade que poderia provocar deslocamentos - quando um rapazinho, apavorado desejava ir para casa e saiu em debalada carreira até chegar ao seu destino sujo (cag), tomou um banho, uma garapa e após isso alguém lhe advertiu: "Você nasceu de novo!".
O outro assunto é o da cigana - bem que eu gostaria de conhecê-la para saber dos seus vaticínios sobre o velho prédio da Faculdade de Direito - será que a UFRN vai reaproveitá-lo condignamente?
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* Carlos Roberto de Miranda Gomes - escritor/veranista

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

PARABÉNS THIAGO

Sexta-feira foi um dia de alegria para as famílias Lucena e Motta. O jovem Thiago de Lucena Motta, com apenas 16 anos, logrou aprovação no Curso de Direito da UFRN. Seus avós Luiz Marinho/Marlene e seus pais Ricardo/Lúcia lhe prepararam uma festa, contando com a presença maciça dos demais familiares e amigos.



Na foto vemos o novo acadêmico, junto deste velho professor da Faculdade de Direito de Natal e dos seus primos Matheus e Lucas.