sexta-feira, 3 de junho de 2022

 

POESIA NA PANDEMIA  -

DOIS POETAS EM DIÁLOGO POÉTICO-FRATERNAL:

 

HAVANA: FELIX CONTRERAS

NATAL: HORÁCIO PAIVA

 

FELIX CONTRERAS

Havana, Cuba

 

Pandemia

Es como la araña

callada

no tiene patas

se arrastra y come

lágrimas y amor

que acomoda

en un ataud. 

 

Pandemia

É como a aranha

calada

não tem patas

se arrasta e come

lágrimas e amor

que acomoda

num ataúde

 

Lúdico

          Desde  mi torre azul te procuro en las nubes

          y el viento que sopla en el  mar.

                                              Horácio Paiva

 

Sombrero de papel

(sobrante del carnaval)

Pistolas a lo John Wayne

(memoria de la infancia)

Botas (las de cortar caña)

El Palo de escoba

(brioso corcel)

Caminar de medio lao

(de tipo guaposo)

Pañuelo a lo Tom Mix

(el nasobuco)

Y, todo, carajo, 

para asaltar esa diligencia

Que no acaba de pasar.

 

Lúdico

                        De minha torre azul te procuro nas nuvens

                        e no vento que sopra no mar.

                                               Horácio Paiva

Chapéu de papelão

(que sobrou do carnaval)   

Pistolas a John Waine

(lembrança da infância)

Botas (de cortador de cana)

Um cabo de vassoura

(brioso corcel)

Caminhar cauteloso

(charmoso e decidido)

Lenço de Tom Mix

(como máscara)

E tudo isto, caralho,

para assaltar essa diligência

que não para de passar!

 

El sublime encanto de soñar

Cuánto diera por tenerte

aún en este ámbito corporal

en que besarte sea

numerosas veces

mirándote levantar tu blusa cuando

la soledad deja de flotar en el aire.

 

O sublime encanto de sonhar

Daria tudo para ainda te possuir

no domínio do corpo

em que beijar-te possa

milhares de vezes

vendo-te levantar a blusa enquanto

não mais flutua no ar a solidão.

 

Nasobuco  

Adoro los disfraces

pero no perdono al nasobuco

ocultar tu rostro en momentos

como este.

 

Máscara

Adoro os disfarces

mas não perdoo à máscara

ocultar teu rosto

em momentos como este.

 

Fiesta

En realidad

el rostro de Michelle 

hecho también para el aplauso

es ahora un disparate 

oculto en el nasobuco

pero cuando desemboque

de nuevo en la poesía

todo será una fiesta.

 

Festa

Na realidade

o rosto de Michelle

feito também para o aplauso

é agora um absurdo

oculto sob a máscara

mas quando de novo

desembarcar na poesia

tudo será uma festa

 

                                  (Traducão Horacio Paiva)

 

 H0RACIO PAIVA

Natal, Brasil

 

(A) Temporal

no dia a dia

da pandemia

assomam horas

vazias

 

na quarentena

uma centena

tudo se aquieta

nada porfia

 

e o poema

na verdade

é um brado frio

à liberdade

 

(A) Temporal

en el día a día

de la pandemia

asoman horas

 vacías

 

en la cuarentena

una centena

todo se aquieta

nada porfía

 

y el poema

en verdad

es un grito frio

a la libertad

 

A hora rasa

Não há mais onde abrigar-se

o quarto é um símbolo mudo

e a calmaria

sinal de perigo

 

os odres estão vazios

e muita cautela é preciso ao pisar

as nuvens de silêncios inflamáveis

 

outrora havia rumor de tambores

que anunciavam a chuva

mas os ventiladores pararam

 

o quarto está despido

sem sombras e sem luz

sem qualquer movimento de espera

exceto a expectativa

de que uma porta se abra

e exponha o jazigo                       

à exterioridade dos ruídos

 

 

 La hora vacía

No hay más donde abrigarse

el cuarto es un símbolo mudo

y la calma

señal  de peligro

 

los odres están vacíos

y mucha  cautela es preciso al pisar

las nubes de silencios inflamables

 

otrora había rumor de tambores

que anunciaban lluvia

pero los ventiladores pararon

 

el cuarto está desnudo

sin sombras y sin luz

sin cualquier movimiento de espera

excepto la expectativa

de que una puerta se abra

y exponga la yacija                        

a lo exterior  de los ruídos

 

Tempo endêmico

na pandemia

quase não se conta

o dia a dia

 

o tempo sangra

veloz e expõe

sua anemia

  

Tiempo endemico

 en la pandemia

casi no se cuenta

el dia a dia

 

el tiempo sangra

veloz y exhibe

su anemia

  

Era uma vez...

 Daquela vez vi a morte.

 

Agora ela me diz:

-  Não era eu, era uma máscara!

 

-  Ilusória, sempre ilusória...

Não passas mesmo de uma máscara!

 

 

Fue una vez...

Aquella vez vi la muerte.

Ahora ella me dice:

— No era yo, era una máscara!

— Ilusória, siempre ilusória...

No pasas de ser la misma máscara!

 

Aproveitemos a noite

É tudo puro ontem

marcado pelo engano

e isto também passará

 

Aproveitemos a noite

que se alonga

mas não quer afastar-se

 

Ninguém tomará nossa palavra

nosso estro

nossa musa

nem mesmo nosso amor

e a alguns até poderemos socorrer

 

Procuremos os jardins

antes ocupados pelos bem-te-vis

sanhaçus e rouxinóis

e agora visitados pelas sombras

pelo rocio e pelo piscar das estrelas

 

E preparemos o coração

para que não assuma o seu comando

a nostalgia

pois é certo que a aurora virá

mas quando vier

muitos terão partido

 

 

Aprovechemos la noche

Es  todo un puro ayer

marcado por el engaño

y esto tambiém passará

 

Aprovechemos la noche

que se alarga

pero no quiere apartarse

 

Nadie tomará nuestra palabra

nuestro estro

nuestra  musa

ni siquiera nuestro amor

y a algunos hasta  pudiéramos socorrer

 

Procuremos los jardines

antes ocupados por los  pájaros bien-te-vis

sanhaçus y ruiseñores

y ahora visitados por las sombras

por el rocío y el titilar de las estrellas

 

Y preparemos el corazón

para que no asuma su comando

la nostalgia

pues, es cierto que la aurora vendrá

pero cuando venga

muchos habrán partido

 

                                ((Tradução Felix Contreras)

 

ÍNDICE

Poesia na pandemia

Dois poetas em diálogo poético—fraternal:

Felix Contreras e Horacio Paiva:

 

FELIX CONTRERAS

Pandemia

Lúdico

O sublime encanto de sonhar

Máscara

Festa

(Tradução Horácio Paiva)

 

H0RÁCIO PAIVA

(A) Temporal

A hora rasa

Tempo endêmico

Era uma vez...

Aproveitemos a noite

(Tradução Felix Contreras)