sábado, 9 de junho de 2018



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NOMOFOBIA: USO EXCESSIVO DE CELULAR PODE LEVAR À ANSIEDADE, TREMOR E ATÉ DEPRESSÃO 
Tempo no celular não significa vício, mas é preciso cuidado com as consequências 

Ansiedade, perda de contato com pessoas próximas, sentir-se mais feliz na vida virtual que na realidade, se preocupar com as curtidas e compartilhamentos de uma foto, e deixar de aproveitar os momentos da vida para postar uma selfie são alguns dos sinais de que você está passando do limite. Uso abusivo do celular pode se tornar um transtorno psicológico, chamado nomofobia, que pode desencadear em depressão, alertam os especialistas.
De acordo com a psicóloga do Programa de Transtornos do Impulso do Instituto de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo) Dora Goes, o abuso do uso de celular pode se tornar um transtorno, conhecido como nomofobia, do inglês “no mobile phobia” (medo de ficar sem o celular). O excesso não está relacionado ao tempo em que a pessoa fica no aparelho, mas aos prejuízos que o uso acarreta na vida.
— Muita gente usa o celular o tempo todo, mas ainda tem o controle da situação. Quando ela coloca em risco alguma atividade que faz ao usar o celular, quando não consegue se concentrar em outras atividades por estar focada no que está acontecendo no aparelho, aí já pode ser um problema.
Dora ainda explica que o transtorno é percebido quando o uso do celular passa a ter prejuízos na vida da pessoa. Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha em 2014, 62,5 milhões de pessoas acessam a internet pelo celular no Brasil. Ainda de acordo com o estudo, esse número aumentou mais de 20 milhões de 2013 para 2014. O estudo mostrou que, mesmo em casa, 52% das pessoas continuam acessando a internet pelo celular.
O pesquisador do Instituto Delete, empresa dedicada a orientar e informar à sociedade sobre o uso consciente das tecnologias, Eduardo Guedes afirma que a principal causa para o abuso no uso do celular é a ansiedade.
— Muitas pessoas usam o celular como muleta, porque se sentem sozinhas, e veem o celular como companhia. São ansiosas, têm pânico, e o celular faz o contato com o mundo.
Para o pesquisador, o principal problema é a substituição da vida social pelas relações virtuais, e isso se torna um círculo vicioso, que se agrava cada vez mais.
— Tivemos uma paciente extremamente ansiosa que trocou o vício do cigarro pela tecnologia. Ela teve problemas pulmonares por causa do cigarro e trocou o vício. Ela começou a jogar a fazendinha do Facebook, mas o grau de dependência era tanto, que se ela tivesse problemas de conexão com a internet, ela ia para a LAN house mais próxima à casa dela para fazer a colheita na hora certa.
De acordo com a psicóloga, os mais jovens, entre 13 e 25 anos, são os mais propensos a desenvolver o vício, idade na qual a opinião dos outros ainda é muito influente. Segundo dados de 2013 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 66% da população brasileira acima de 10 anos possuía telefone móvel.
Guedes ainda afirma que o uso abusivo das redes sociais acontece porque falar de si mesmo gera prazer. Segundo ele, em uma conversa normal, falamos de nós mesmos 30% do tempo. Nas redes sociais, falamos de nós cerca de 90% do tempo. E isso é alimentado pelas curtidas e comentários dos outros usuários.
Na visão da psiquiatra da USP, além do prejuízo social, das relações interpessoais, outra consequência negativa é a alteração do padrão do sono.
— As pessoas simplesmente não desligam o celular. Tem gente que dorme com o celular debaixo do travesseiro pra ver as mensagens durante a noite. Por isso, a alteração do padrão do sono também se caracteriza como sintoma, e mais do que isso, como consequência, porque isso afeta todas as demais atividades que a pessoa faz.
Consequentemente, tudo se torna uma cadeia de prejuízos, explica Dora. Já que, além de dormir mal, a pessoa acaba produzindo menos, seja no trabalho ou na escola, porque não teve um sono reparador. Falando em outras atividades, um dos maiores perigos é o trânsito, não só pelo fato de poder acabar dormindo ao volante, mas também pelo fato de não parar de ver mensagens enquanto dirige.
Além do vício e do padrão do sono, a psiquiatra explica que outras consequências da nomofobia podem ser a falta de concentração, problemas de visão (por causa da exposição à tela), sedentarismo, tendinite, problemas na coluna por causa da postura, e até na alimentação.
— O vício em tecnologia pode mascarar a depressão. Normalmente, a pessoa se sente mal por algum motivo externo e começa a se esconder nas redes sociais. O problema é que isso acaba virando um círculo, porque ela se isola ainda mais e se sente mais sozinha, e isso continua.
“Mostrar é mais importante do que o viver”
Dora acredita que as pessoas desaprenderam a viver. Para a psicóloga, muitos viraram reféns de curtidas e compartilhamentos.
— Ao invés de serem felizes, elas querem mostrar que são. O mostrar passou a ser mais importante do que o viver ou fazer. Isso faz com que a pessoa tenha menos prazer em viver a vida.
A especialista dá o nome de sociedade do espetáculo para este fenômeno. Para ela, as pessoas se sentem mal com a vida que têm, e precisam mostrar o que estão fazendo para agregar valor ao que fazem.
— Para mim, há uma deturpação do que agrega valor à vida ou não. Mas isso é retroalimentado, porque, quanto mais eu mostro, mais os outros querem ver. As pessoas deixaram de desfrutar do momento para postar. E fica um buraco, uma falta de sentido, e os likes e comentários preenchem esse vazio. Aí, quando vem o vazio de novo, eu posto outra vez. A pessoa se torna extremamente dependente da opinião dos outros. A noção de felicidade é instantânea.
Dora Góes ainda ressalta que quem convive com a pessoa que exagera no uso do celular percebe melhor a dependência.
— A pessoa até sabe que usa muito, mas normalmente perde o senso crítico de que está exagerando. Por isso, quem está convivendo com a pessoa percebe melhor e deve procurar ajudar.
Segundo Guedes, a questão é que, normalmente, se percebe quando o vício já está no último estágio, do conflito com pessoas mais próximas.
— Por isso que é importante o trabalho de conscientização para a prevenção. Porque o uso do celular ainda é socialmente aceito. Se você está no trânsito e vê alguém bebendo enquanto dirige, você se incomoda, mas se você vê a pessoa no celular ou digitando uma mensagem, ainda não é visto como um problema.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

quinta-feira, 7 de junho de 2018


O JUSTO E O INJUSTO

Valério Mesquita*

Ultimamente, jovens estudantes de nível superior em Natal têm visitado o Tribunal de Contas para conhecer as suas atividades e funcionamento. Desejam se informar da função constitucional, dos tipos de controle orçamentário e da prestação de contas dos seus jurisdicionados. Como órgão auxiliar do Poder Legislativo, o TCE é o seu instrumento valoroso e técnico. Possui, no entanto, significativa identidade horizontal, em nível de equivalência com os poderes constituídos, sobre cujas unidades administrativas, ele opera e fiscaliza. O grande Rui Barbosa, partícipe direto da criação do TCU, reconhece: “a criação de um Tribunal de Contas com corpo de magistratura intermediário à administração e à legislatura, coloca-o em posição autônoma, com atribuições de revisão e julgamento, cercado de garantias, pode exercer as suas funções vitais no organismo constitucional, sem risco de converter-se em instituição de ornato aparatoso e inútil”.
Essa corporação distinta julga as contas dos responsáveis por dinheiros e outros bens públicos. Esse julgamento é, por sua natureza, administrativo e tem o valor de apreciação contábil. Quanto aos agentes públicos responsabilizados, eles ficam sujeitos à jurisdição criminal. “Suas decisões, transitadas em julgado, podem ser revistas pelo Poder Judiciário, que as acatará não como se emanassem dos próprios juizes deste, mas enquanto forem conforme a lei”, no ensinamento do mestre do Direito, o professor Alfredo Buzaid.
Mas o entendimento em voga, ao qual me anteponho, e espero que um dia seja corrigido pelo STF, é justamente aquele que classifica conclusivamente a decisão política dos legislativos sobre o julgamento técnico dos tribunais. Sem retornar mais às ponderações externadas em textos anteriores, indago como pode o tribunal que julga as contas da execução orçamentária do poder político ver a sua decisão oficial e técnica ser fulminada por manipulações de entes partidários? Segundo o professor de Ciências das Finanças e ministro Aliomar Baleeiro “o papel do Tribunal de Contas é de órgão integrante do sistema político-jurídico de freios e contrapesos da constituição”. Significa dizer que somente o Poder Judiciário tem a legitimidade, em grau de recurso, de dirimir as dúvidas sobre a coisa julgada.
Essa competência abstrata dos poderes legislativos de imporem decisões finalisticas aos julgados dos TCEs, coloca em suas mãos mais poderes do que deveres. Deveres fundados em pressupostos fáticos, jurídicos, técnicos e formais. Exemplo gritante de julgamento faccioso vem de uma câmara municipal que aprovou recentemente as contas de um prefeito que teve, antes, as suas contas anuais rejeitadas pelo TCE, com ressarcimentos altíssimos ao erário lá no extremo norte do estado, onde, inclusive, o mesmo agente elegeu-se vice-prefeito do filho. Vê-se que a atividade humana, exercida na lide política é totalmente desprovida de controle. A conduta ultrapassa os limites da razoabilidade e da racionalidade, em detrimento da norma jurídica. Hoje o texto constitucional diminuiu a competência dos Tribunais de Contas, ao ponto de reduzir-lhe a possibilidade de deter a ação injurídica dos administradores. Os TCEs só poderão exercer plenamente as suas funções e cumpri-las na integridade quando puder conter a conduta ilegítima para que seja restaurada a moralidade na correta aplicação do dinheiro e do patrimônio públicos. Outro exemplo deprimente foi o do Poder Legislativo do Rio Grande do Norte, recentemente, por injunções políticas, ter derrubado a decisão unanime do TCE/RN das contas do Executivo relativas ao exercício anterior, sem conhecimento técnico e contábil do assunto.

(*) Escritor.

ANRL - CONVITE - DIA 8



RÉQUIEM PARA UM EXTRAORDINÁRIO SUCESSO

Em 1953, sob forte pressão da oposição política e midiática, mas com apoio de parcela de militares, o Presidente Getúlio Vargas consegue criar, no dia 3 de outubro, a Petrobrás.
Aumentam as pressões, deturpam-se fatos e envenenam-se reputações. Getúlio é levado ao suicídio em 24 de agosto de 1954. E prossegue, após 65 anos, a campanha contra a Petrobrás, embora ela não mais exista desde que Fernando Henrique Cardoso, Iris Rezende, Raimundo Brito e Luiz Carlos Bresser Pereira assinaram a Lei 9.478, em 6 de agosto de 1997.
Por que? Porque a Petrobrás seria mais uma empresa a competir, no interesse nacional brasileiro, no concentradíssimo universo do petróleo; um cartel mundial, hoje controlado pelo sistema financeiro internacional (a banca, como abreviadamente o designo).
Vejamos um pouco desta história, uma história de muitas mortes, corrupções, guerras e golpes de estado que nada fica a dever a outros cartéis de crime.
O petróleo é conhecido deste a antiguidade pelas exudações. Sucintamente o petróleo é um produto oriundo da matéria orgânica que sofreu, ao longo do tempo, as transformações e pressões físico-químicas e geológicas que resultaram no bem número um da civilização industrial sobre rodas.
Esta civilização foi criada nos Estados Unidos da América (EUA) e imposta no mundo inteiro pela mais intensa e bem sucedida campanha de comunicação de massa, com o suporte de agências de espionagem e golpes e das forças armadas estadunidenses.
O petróleo é a energia mais usada no planeta. Em 2016, ele representou, sob as formas líquida e gasosa, 57, 41% do que o mundo consumiu. Apenas na forma líquida superou um terço (33,28%), conforme dados da BP Statiscal Review of World Energy.
A história deste indispensável produto para a civilização do consumo (lembrar o uso de petroquímicos no seu cotidiano) passou por fases que, em síntese, definem onde se exerceu o poder sobre o petróleo.
Pode-se determinar que da origem de seu empoderamento, final do século XIX, até as crises da segunda metade do século XX, o domínio do petróleo foi do que a indústria denomina “downstream”, isto é, dos produtores de derivados, em oposição ao “upstream”, os produtores do petróleo bruto ou cru e do gás natural.
Isto fica claro ao se confrontar os preços do barril de petróleo cru, praticamente imutável ao longo de todo período de 1900 a 1974. Enquanto os derivados sofriam grandes variações, com as guerras, as demandas dos crescimentos e quedas das recessões.
Em dólares de 2013, podemos verificar que o preço do barril de petróleo ficou, no início do século passado, em torno dos US$ 15. Entre 1913 e 1923, quando os EUA deixaram de ser autossuficientes na produção de cru, US$ 20. Após esta data, com o domínio dos EUA de produções no estrangeiro, volta, até 1974, ao entorno dos US$ 15.
A partir daí o petróleo atenderá também ao “upstream”. Este fato levará a diversas oscilações com patamares mais elevados sendo de US$ 30, para os períodos de menor preço, e de US$ 50, para os de maior preço, com o máximo de US$ 115,22, em 2011, sempre a dólares de 2013.
Atualmente a banca domina a indústria do petróleo. A consulta aos maiores acionistas das empresas internacionais de petróleo indicará tão somente empresas financeiras. E este capital é constituído de investidores que nos remetem a empresas em paraísos fiscais.
A Petrobrás foi constituída para abastecer o Brasil de derivados. Logo teve diante de suas diretorias, por todos os governos, excluído o iniciado em 1995 e seus seguidores, os desafios das autossuficiências: na disponibilidade de reservas de petróleo, no processamento dos óleos nacionais e importados, na malha de dutos, terminais, frotas marítimas que levassem o cru e os derivados a todos os pontos do território nacional.
Também pelas deficiências das empresas privadas de distribuição, a Petrobrás criou a segunda maior empresa brasileira, a Petrobrás Distribuidora, que, durante todo período anterior a 1995, enfrentando as mais diversas crises, manteve o Brasil com produtos do petróleo.
Mesmo assim, a Petrobrás, lutando contra as permanentes campanhas da mídia, de governantes aliados ao capital estrangeiro, das espionagens, das sabotagens e toda sorte de mentiras a seu  respeito, de corruptos que se apossaram de cargos em sua estrutura organizacional, cumpriu as metas desejadas por Getúlio Vargas: tornou o Brasil inteiramente autossuficiente de petróleo, não apenas pela existência dos recursos naturais descobertos, mas pelo domínio integral das tecnologias desde a prospecção exploratória até a produção de derivados petroquímicos e  fertilizantes. Também, adiantando-se ao fim da era do petróleo barato (muito bem descrita pelo engenheiro Felipe Coutinho, “O Fim do Petróleo Barato e do Mundo que Conhecemos”, GGN o jornal de todos os brasis, 16/09/2017), a Petrobrás, com sucesso, ampliou para a área da bioenergia sua atuação: produzindo etanol da cana de açúcar e biodiesel.
E, ainda, foi para o exterior, demonstrando competência exploratória, ao descobrir grande reserva de petróleo onde as “majors” fracassaram (Majnoon). Por fim, como mais outra prova de capacitação, está produzindo, em menos de 10 anos de descobertos, 50% do petróleo brasileiro do pré-sal, uma fronteira tecnológica dominada.
Sadia econômica, financeira, tecnicamente, a Petrobrás está sendo destruída pelas legislações casuísticas, inconstitucionais emendas constitucionais e pela gestão de prepostos da banca.
O povo brasileiro, desinformado pela mídia antinacional e mentirosa, não vê, nem entende, que tão bem sucedida e competente empresa, seja fragmentada, vendida a preços verdadeiramente ridículos para o controle do sistema financeiro. E, por favor, não me venham com corrupção, pois a maior de todas é aquela praticada pela banca, como demonstra o judiciário brasileiro.
Réquiem ou revolução?
Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado 

terça-feira, 5 de junho de 2018

NOVO SÓCIO MANTENEDOR






O Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do 
Norte recebeu nesta segunda-feira, as visitas ilustres 
de DIDI AVELINO (Edilson Avelino), potiguar radicado 
no Rio de Janeiro, considerado a voz de veludo do 
Grupo Retrô de músicas de raiz, acompanhado do 
seu sobrinho Newton AVELINO, artista plástico, 
que foram recepcionados pelo Presidente Ormuz e 
Carlos Gomes. DIDI assinou sua inscrição como novo 
sócio mantenedor.

IMPERDÍVEL


COISAS DO BRASIL VARONIL....





PRESSIONADA POR NÃO TER PELE NEGRA, CANTORA ENTREGA CARTA E RENUNCIA PAPEL PRINCIPAL NO MUSICAL “DONA IVONE LARA – UM SORRISO NEGRO”
     Francisco Alves C. Sobrinho (Jornal MINHO DIGITAL - Portugal)

A cantora Fabiana Cozza, grande intérprete, admiradora e amiga da homenageada, renuncia ao papel de Dona Ivone Lara, agredida pelo fato de não ter a pele negra.
Eis a carta de Fabiana Cozza, ao renunciar ao papel de homenagem à falecida cantora brasileira Dona Ivone Lara no musical "Dona Ivone Lara - Um sorriso negro", que estava programado para ser lançado brevemente no Rio de Janeiro e excursionar pelo Brasil.
"Fabiana Cozza dos Santos, brasileira
Nascimento: 16 de janeiro de 1976
Mãe: Maria Inês Cozza dos Santos, branca
Pai: Oswaldo dos Santos, negro
Cor (na certidão de nascimento): parda
Aos irmãos:
O racismo se agiganta quando transferimos a guerra para dentro do nosso terreiro. Renuncio hoje ao papel de Dona Ivone Lara no musical “Dona Ivone Lara – um sorriso negro” após ouvir muitos gritos de alerta – não os ladridos raivosos. Aprendo diariamente no exercício da arte – e mais recentemente no da academia, sempre com os meus mestres - que escuta é lugar de reconhecimento da existência do Outro, é o espelho de nós.
Renuncio porque falar de racismo no Brasil virou papo de gente “politicamente correta”. E eu sou o avesso. Minha humanidade dói fundo porque muitas me atravessam. Muitos são os que gravam o meu corpo. Todas são as minhas memórias.
Renuncio por ter dormido negra numa terça-feira e numa quarta, após o anúncio do meu nome como protagonista do musical, acordar “branca” aos olhos de tantos irmãos. Renuncio ao sentir no corpo e no coração uma dor jamais vivida antes: a de perder a cor e o meu lugar de existência. Ficar oca por dentro. E virar pensamento por horas.
Renuncio porque vi a “guerra” sendo transferida mais uma vez para dentro do nosso ilê (casa) e senti que a gente poderia ilustrar mais uma vez a página dos jornais quando ‘eles’ transferem a responsabilidade pro lombo dos que tanto chibataram. E seguem o castigo. E racismo vira coisa de nós, pretos. E eles comemoram nossos farrapos na Casa Grande. E bebem, bebem e trepam conosco. As mulatas.
Renuncio em memória a todas negras estupradas durante e após a escravidão pelos donos e colonizadores brancos.

Renuncio porque sou negra. Porque tem sopro suficiente dizendo a hora e o lugar de descer para seguir na luta. É minha escuta de lobo, de quilombola. Renuncio pra seguir perseguindo o sol, de cabeça erguida feito o meu pai, minha mãe (branca), meus avós, meus bisavós, tatas...

Ao lado de vocês, irmãos.
Renuncio porque a cor da pele de Dona Ivone Lara precisa agora, ainda, ser a de outra artista, mais preta do que eu. Renuncio porque quero um dia dançar ao lado de todo e qualquer irmão, toda e qualquer tom de pele comemorando na praça a nossa liberdade.
Renuncio porque respeito a família de Dona Ivone Lara: Eliana, André, seu pai e todos os parentes e amigos que cuidaram dela até os 97 anos e tem sido duramente constrangidos por gente que se diz da luta mas ataca os iguais perversamente. Renuncio pelo espírito de Dona Ivone que ainda faz a sua passagem e precisa de paz.
Renuncio porque quero que este episódio sirva para nos unir em torno de uma mesa, cara a cara, para pensarmos juntos espaços de representatividade para todos nós.
Renuncio porque quero que outras mulheres e homens de pele clara, feito eu, também tenham o direito de serem respeitados como negros.
Renuncio porque tenho alma de artista e levo amor pras pessoas. Porque acredito num mundo feito de gente e afeto.
Renuncio porque não tolero a injustiça, o desrespeito ao outro, o linchamento público e gratuito das pessoas, descabido, vil, sem caráter, desumano.
Renuncio em respeito à direção e produção do espetáculo que tanto me abraçou, em respeito ao elenco que agora se forma e que, sensível a tudo, lutou por seu espaço e precisa trabalhar e criar em silêncio.
Renuncio por amor aos meus amigos artistas, familiares, irmãos que a vida me deu que também se entristecem, mas não se acovardam diante dos covardes.
Renuncio porque sou livre feito um Tiê, porque cantarei hoje, aqui, lá e sempre à senhora, Dama Dourada, minha amiga e amada Dona Ivone Lara.
Renuncio porque, como escreveu meu amado amigo Chico Cesar, “alma não tem cor”. E a gente chega lá.

Fabiana Cozza"