sábado, 24 de maio de 2025

 



– HOMENAGEM DE NATALÍCIO –

 

ALFREDO MESQUITA FILHO

 

Valério Mesquita*

Mesquita.valerio@gmail.com

 

Alfredo Mesquita Filho nasceu em Macaíba, a 23  de maio  de  1901. Filho de Alfredo Adolfo Mesquita e Ana Olindina de Mesquita. Fez os seus estudos preparatórios em Macaíba, Natal  e Recife,  quando  cursava  medicina, teve que retornar  à  Macaíba  por motivo  do  falecimento  do seu pai, ocorrido em  1929.  Passou  a  se dedicar  junto com os irmãos às atividades de comércio, agricultura  e criação. Na sua  infância, o desejo da  família  era  vê-lo padre.  Resistiu. Não foi para o seminário.

Em 1946, foi constituinte elegendo-se deputado estadual  pela legenda PSD. Reelegeu-se em 1950 e 1954, exercendo nesses períodos diversos cargos e comissões. Já em 1958, candidatou-se novamente  a  prefeito  vencendo as eleições, tendo este  sido  o  seu último mandato eletivo, até, 1963. Como deputado estadual a ele se credita o  esforço da  vinda  de inúmeras obras para os municípios  que  representava  na Assembleia,  tais como: Macaíba, São Gonçalo do Amarante, Bom  Jesus, Serra  Caiada  (Presidente  Juscelino), Caiada (Eloy  de  Souza),  São Pedro,  Ielmo Marinho entre outros. Não obstante seus 40 anos de  vida pública, 30 dos quais militou na Oposição. Mesmo assim, conseguiu  com os  governos escolas e estradas, além de junto com todos os amigos da época haver experimentado  o triunfo da  implantação  da  Escola  de Jundiaí e a construção da ponte da cidade de Macaíba. Sobre essa ponte há um episódio. A antiga ponte  de Macaíba havia  desabado. Como  deputado  pessedista cobrou do  governo  do  Estado (Dr. José Varela) a sua construção.

Como o erário estadual  não  podia  arcar  com   as despesas, teve que recorrer ao antigo Ministério de Obras e Viação.

Entretanto, ao  aguardar  a  resposta  da  bancada federal  do  seu  partido, recebeu espontaneamente a  ajuda  do  então deputado  federal,  Aluízio  Alves, udenista  que  se  prontificava  a conseguir os recursos. Tal  fato, no Rio Grande  do  Norte  calcinado  das brigas do PSD x UDN, em 1950, em Macaíba, aceitar apoio de um udenista era um opróbrio.

Houve cenas de tumultos, pressão e  rompimentos políticos. Mas, como Macaíba para Alfredo Mesquita era mais importante que  os  partidos, aceitou a ajuda, o dinheiro chegou e  a  ponte  foi construída e até hoje está lá. Em  1961, após a campanha de Djalma Marinho a  quem ajudou por haver o PSD se fracionado para apoiar dois udenista, vendeu a  sua  propriedade Uberaba, em Macaíba, por "treze  mil  contos"  ao fazendeiro  Adauto  Rocha,  a fim de poder pagar  os  compromissos  da campanha. As eleições de 1962, 1965, 1966 e 1968 quando, já doente, enfrentou  sua  última  campanha  política,  testemunham   a fidelidade do seu espírito partidário e sua dedicação exclusiva ao seu povo.

No dia 12 de abril de 1969, pobre mas querido pelos humildes,  morreu  Alfredo Mesquita. Nesse dia sua cidade  parou.  Não para  lhe dizer adeus, mas, para lhe garantir que ele e ela  formariam naquele  dia, mais do que qualquer tempo, um binômio  inseparável:  um pacto de identificação. Ele e ela. Abraçados permanentemente em  suas entranhas.

Se vivo fosse, estaria fazendo 124 anos.

sexta-feira, 23 de maio de 2025

 

Sermões e homilias

Padre João Medeiros Filho

Nos seminários e casas de formação eclesiástica, os futuros padres estudam homilética, uma disciplina voltada para a metodologia e as técnicas de pregação: homilias, sermões, panegíricos etc. No passado, os bacharéis em ciências jurídicas aprendiam retórica em função dos tribunais. Hoje, existem cursos específicos para ensinar a falar em público, como desenvolver o conteúdo, usar adequadamente as palavras, empregar a impostação de voz e gesticulação, levando em conta as diferentes profissões. Aqui no RN, alguns cursos fazem sucesso nesse ramo. Os profissionais da retórica são procurados especialmente por comunicadores, operadores do direito e candidatos em campanhas eleitorais.

Não é fácil falar em público, sobretudo diante de uma plateia heterogênea em termos de faixa etária, formação, nível intelectual etc. Tal é a assembleia das igrejas. Em geral, confundem-se sermão e homilia. Esta é uma palavra grega, que significa literalmente conversa em família. Trata-se de reflexão, comentário de cunho vivencial e meditação sobre um texto bíblico ou assunto espiritual. O sermão (étimo derivado do latim, indicando fala do púlpito) é um discurso adversativo, normatizador, abordando temas dogmáticos e éticos. Ambos diferem do panegírico (termo grego, significando elogio) que é uma peça laudatória. Na administração dos sacramentos e celebração da missa, requer-se uma homilia, pois se pretende algo reflexivo e mais próximo do coloquial.

Soe acontecer que os sacerdotes, em lugar de pronunciar uma homilia, fazem um sermão. E quando este deve ser proferido, acabam por realizar uma espécie de catilinária. Nos sermões e panegíricos cabe uma linguagem mais castiça, havendo lugar para os puristas da língua. A homilia deve ser enxuta, objetiva e pastoral. Nela deve brilhar o mistério eucarístico ou sacramental, e não o padre. O Papa Francisco recomendou: “A homilia não deve durar mais de oito minutos, porque depois desse tempo, a atenção se perde e as pessoas dormem.” Toda prédica exige cuidado e atenção. Apesar de quase sessenta anos de ministério sacerdotal, sempre procuro preparar minhas falas, sobretudo hoje com as redes sociais. Quando pároco em Caicó (RN), escrevia os tópicos e esquemas de minhas reflexões. Monsenhor Lucas Batista Neto ainda se recorda de meus cadernos, contendo sínteses e roteiros homiléticos. Preocupo-me em não repetir falas. A vida é dinâmica, por isso os conteúdos e formas necessitam ser atualizados.

Em Natal, há cerca de oito anos, após a missa de domingo, uma mulher gentil e esclarecida pediu para falar comigo. Pensei tratar-se de problema familiar ou confissão. Ela abordou o assunto das homilias. Naquele dia, Deus me inspirou. Fui conciso, objetivo e pautado no Evangelho. A senhora dissera-me: “Não costumo ouvir sermões e homilias. Uns são demorados e enfadonhos; outros, teóricos. Vários descambam para assuntos religiosamente irrelevantes. Em geral, os padres pregam mais de vinte minutos. Em um terço da exposição tratam de pecado, inferno e costumes. Durante o mesmo tempo, escolhem o pântano da política. Destinam os minutos restantes a um insistente pedido de dinheiro. E Deus onde fica, Padre?” Quanto à forma, comentou: “As pregações costumam ser recheadas de reprimendas, carões, sem propostas razoáveis.” Isso leva-nos a pensar.

Quando jovem presbítero, era arrebatado. Achava bela a retórica de alguns pregadores: Dom Nivaldo, Dom João Portocarrero, Monsenhor Walfredo, Padres Luiz Wanderley, Bianor Aranha e outros. Gostava das frases bem elaboradas, por vezes gongóricas, pronunciadas do púlpito. Deliciava-me, escutando a sinonímia e as metáforas. Encantava-me Padre Manuel Vieira, diretor do antigo Ginásio Diocesano de Patos (PB), orador brilhante, muito solicitado para falar em festas de padroeiros. Lembro-me de suas belíssimas palavras sobre a caridade, proferidas na Catedral de Sant’Ana, em Caicó. O povo vibrava com sua eloquência. A uma moça embevecida diante das palavras do orador, foi perguntado qual o assunto da pregação. Ela respondeu: “O padre disse tantas coisas bonitas, mas o assunto não sei.” Faz-me refletir o comentário de Mário Quintana sobre as falas eclesiásticas: “Nada das celestiais promessas ou das terríveis maldições. Se eu fosse um padre, citaria os poetas, porque a poesia purifica a alma... Um belo poema sempre leva a Deus!” O Livro dos Provérbios lembra: “A Palavra [sagrada] é a mais preciosa de todas as joias” (Pr 3, 15).