quinta-feira, 17 de abril de 2025

 





Celebrar a Semana Santa, em 2025 

Padre João Medeiros Filho 

A Semana Santa nos faz relembrar o sofrimento de Cristo em tantos irmãos nossos, vítimas de injustiça, desprezo, abandono e engodo político. Em cada Tríduo Pascal, renovam-se o mistério da dor e a alegria da vitória. O Filho de Deus assumiu a nossa existência em tudo o que ela contém de esperança e desespero. Sua Morte é a manifestação da fragilidade de nosso ser e sua Ressurreição, o sinal da dimensão infinita do homem. Nossa história torna-se presente. Não celebramos apenas fatos do passado, e sim tudo o que somos. O Verbo Divino encarnou-se, quando se “fez homem e habitou entre nós” (Jo 1, 14). Sofrendo, Ele desmascara a estrutura injusta da humanidade. Ressurgindo, proclama a vitória sobre o pecado, simbolizado na destruição e na angústia humana. A Semana Santa – memorial da misericórdia divina – revive a resposta suprema de Cristo à tentação e ao desafio cotidiano do mal. Jesus provou sua solidariedade incondicional pelo ser humano. Por isso, deixounos o sacramento da Eucaristia: sinal inefável e permanente da Bondade divina. Jesus não tem somente palavras de conforto. Mas, entrega sua vida para selar a união do Pai com a humanidade. “Não vos deixarei órfãos” (Jo 14,18). A presença diária de Cristo em nossa vida está assegurada pelo Pão Eucarístico, que se torna nossa força. Ele caminhará ao nosso lado, como outrora fizera com os discípulos de Emaús. Ao se entregar como nosso alimento, Ele quis mostrar que tomar a refeição juntos representa partilha e comunhão. Convida-se à mesa quem se ama e considera. Eis o sentido da atitude do Redentor, que expressa sua plena doação, vivenciada na Quinta-feira Santa. Quem ama, serve e se doa. Esta é uma das lições do Senhor, antes de dar a sua vida pela salvação de todos. Ele revoluciona o conceito de importância e grandeza. Nobre, grande, importante é quem serve, não quem é servido. Devemo-nos lembrar constantemente das palavras de Jesus: “Estou no meio de vós, como quem serve” (Lc 22, 27). Eis o significado maior do Lava-Pés. Para os cristãos, amar é servir. Na Última Ceia, o Salvador recomenda: quem ocupa o lugar de honra, deve descer ao nível do ser humano para mostrar-lhe a sua dignidade. O Senhor ensina através de exemplos. Isto consiste também em ser Mestre. “Vós me chamais de Mestre e Senhor” (Jo 13,13). O Filho de Deus inaugura uma nova mentalidade pelo gesto insólito do Lava-Pés. A Semana Santa é a celebração da total doação divina. Esta, diante da lógica dos homens, chega a beirar à insanidade. E ninguém pode duvidar: é a “loucura de Deus” (1Cor 1, 25), traduzida e plenificada na entrega de seu Filho Único à morte, a fim de que ninguém se perca. A Paixão e a Ressurreição de Cristo são a prova maior de seu amor por nós. Jesus aceitou padecer e aniquilar-se na cruz para demonstrar nossa condição, o nada de nosso ser humano. Mas, Ele ressurgiu para revelar nosso destino e nossa vocação, sobretudo a magnitude divina que existe em nós. Para os cristãos, a cruz tornou-se símbolo de conversão e lugar de salvação. A Ressurreição significa os anseios de uma vida nova e busca da dimensão verdadeira de nossa existência. É fruto da clemência de Deus, que tudo recria. Assim é a Páscoa, também esperança e não apenas memorial. Dá-nos a certeza: Ele ressuscitou e não morre mais! Ensinou-nos que o amor, nascido do perdão, é mais forte que a própria morte, pois é Vida. Quem ama, fala muito do amado. É o testemunho. Por isso somos chamados a proclamar o Ressuscitado. Cabe-nos, pois, levar o Cristo à humanidade marcada por sinais de opressão e aniquilamento. No primeiro dia da semana (Jo 20, 1), Maria Madalena foi à procura do corpo do Salvador. Inicia-se assim a nova criação, nascida da alegria e da vitória. Somos vencedores e não derrotados, eis a mensagem central da Semana Santa! Feliz Páscoa, marcada pelo desejo de um Brasil melhor e um mundo sem guerras! “Por que buscais entre os mortos Aquele que está vivo?” (Lc 24,5)

 PRELÚDIO E FUGA DO TARIFAÇO

 

Valério Mesquita*

mesquita.valerio@gmail.com

 

Determinismo histórico dizem que existe. Há dezenas de casos tanto na política brasileira como mundial. Nunca foi tão fácil adivinhar a destruição do nosso planeta, num futuro não muito distante, vítima da poluição da atmosfera, dos mares e da natureza. Prever a paz na África, na Ucrânia e no Oriente Médio, por exemplo, é mero exercício de retórica. A gênese da questão palestina não é territorial, apenas, mas religiosa; desde o tempo do sultão Saladino e as Cruzadas do Vaticano. Óbvio ululante. Profecia é coisa séria. O dom de profetizar só ocorre com o apoio do Espírito Santo. Assim falou Malaquias. E antes dele, Zacarias, Ageu, Sofonias, Habacuque, Naum, Daniel, Oséias, etc., sem falar em Isaías, o maior deles. Não foram adivinhos mas profetas de verdade.

Após essa viagem de circunavegação polar em torno do assunto, chego a Natal, a “cidade” dos Reis Magos, adventícios, visionários, adivinhos e proficientes. Não se torna necessário recorrer a eles para distinguir ou antever recessão de Natal (Ribeira e Cidade Alta). Se assim fosse, eles teriam se estabelecido nas Rocas e deixado uma banca invejável de cartomantes e curadores. Baltazar, Gaspar e Belchior ficaram mesmo perdidos no deserto das arábias em vez das dunas da Redinha.

Não precisa ser profeta para chegar a conclusão que não emplacará 2030, sem que as avenidas de Natal se tornem intransitáveis. O número de veículos que circula já é maior, hoje, que a capacidade de sua malha viária. Estão financiando carros para pagar em sete anos (84 meses). Qualquer pessoa, com apenas um salário, sai de uma loja ou concessionária, sem avalista, lenço ou documento, dirigindo por aí. Quando acontecer uma crise econômica no país, quem vai para o beleléu: a financeira ou a seguradora? Já prevejo filas de carros abandonados nas vias públicas por inadimplentes enlouquecidos. Não desejo que isso ocorra, mas o calote vai ser geral.

Outro tema para o qual não se exige douta profecia está nas religiões. Algumas modificam o cristianismo ao seu bel prazer e conveniência. A boa nova para arrebanhar seguidores reside no apelo musical. A conversão está no tom. Jesus Cristo é fulanizado em forró, axé, lambada, brega, carimbó, swing e pagode. Em breve, em vez de MPB, surgirá a MPR (Música Popular Religiosa). Segundo os ruidosos desse mundo nada mais espiritual, após a palavra, que dançar um relabucho em alguns templos. Dizem eles que a unção é contagiante. Não precisa ser profeta para antever que essas religiões tendem a fazer desaparecer o Cristianismo. Não é por aí o caminho. Estão profanando o nome de Deus.

Não quero ouvir falar no desmonte da “Lava a Jato”, peça por peça. O velho Proudhon, o rabugento e radical filósofo francês doutrinava naquele tempo que a “propriedade privada é um roubo”. Mas, roubo mesmo meu caro “Proudha”, é o “tarifaço” compulsório e compulsivo dos juros dos cartões de crédito e emendas parlamentares. Pensei falar com o Procon, uma entidade fundada por Robin Hood para defender os fracos e oprimidos. Mas não há para quem apelar. Todos estão comprometidos. Até lá no S.T.F. Gilmar Mendes e Toffoli estão inocentando Antonio Palocci, confesso réu da Operação Lava à Jato.

Por isso, vou embora para Baraúnas. Lá eu tenho o SUS. Me alistarei no Bolsa Família e, quem sabe, no MST quando me sentir entediado. Quando volto? Não sei! Também não vou sofrer tarifaço! Quero, apenas, uma casa pequena de uma porta e uma janela. Lá vou ser eleitor dos Rosados. Desejo contemplar da janelinha aberta o vendedor de cuscuz e de munguzá. A simplicidade das coisas, da chuva caindo – quando o milagre acontecer – com goteiras pingando na sala sem móveis. Para trás, as notícias de pacientes que morrem nos corredores das UPA’s e hospitais. Nem PIS, nem whatsapp.

(*) Escritor.