quinta-feira, 29 de outubro de 2020

 


Vinte anos depois

Carlos Roberto de Miranda Gomes*

 

        No passar do tempo vamos vivendo inúmeras emoções – umas de conquistas, outras de perdas e mais as que a vida põe em nosso caminho.

        Neste dia 27 passado foi o aniversário do meu neto RAPHAEL ROSSO GOMES ISMAEL FLÔR, filho de Rosa Ligia e Ernesto, estudante de psicologia da UNI-RN, que adentrou nos 22 anos de existência. Resolvemos comemorar numa pizzaria, com todas as cautelas de saúde pública, posto que em sua residência existe uma Senhora enferma e não queríamos constrangê-la com qualquer barulho.

        Até aí tudo trivial, mas veio a dúvida – devo sair da rotina dos presentes? – uma roupinha (roupinha!  para quem tem mais de 1,80 e excede aos 100 quilos e já paquera Laura). Dei-me a pensar. Achei a solução, mas tive dúvida se teria capacidade de realisar a façanha.

        Com as mãos trêmulas e a pouca força dos braços, ousei retirar do porão do esquecimento um caminhãozinho, modelo de 20 anos atrás, faltando algumas peças, que há muito dormitava debaixo da escada da nossa casa de Cotovelo.

        Fiz a remoção e levei-o ao meu atelier e dei-me a trabalhar naquele brinquedo que tanto o encantou nos 2 anos de idade. Com régua e compasso fiz o desenho das peças faltantes, com o restinho do conhecimento que consegui guardar das habilidades oriundas de um cursinho de desenho por correspondência (curso Universal) e algum tempo auxiliando meu irmão Moacyr em seus projetos arquitetônicos.

        Tudo bom, mas projetar não é executar e as mãos trêmulas? Mas algo transcendental ocorreu – a lembrança de THEREZA, em nome de quem daria o presente, e logo as forças e a paciência foram aparecendo e cerrei, uma a uma, as peças faltantes. Concluída a tarefa iniciei a pintura seguindo as cores originais e apenas a carroceria estava sem cor, mas lembrei-me dos caminhões da minha infância, que tantas vezes vi passar defronte do mercado público de Macaíba e escolhi a cor verde escuro e a delicada miniatura ficou pronta.

        No momento da festa de Rapha fiz a entrega e com muita emoção minha senti que alguma coisa lhe tocou o coração: ”Vô meu caminhãozinho! – vou colocá-lo em meu quarto”. Discretamente saí de perto, pois meus olhos não resistiram às lágrimas atrevidas.

        E tudo correu bem na festa com os pais, este avô, a irmã Gabi, os primos Lucas, Victor, Carlos Neto; os tios Carlinhos e Teta, a amiga Conceição, a namorada Laura e, naturalmente a presença Dela, in memoriam. Não faltaria de jeito nenhum!

        Obrigado Senhor por mais esse dia de emoção. Um velho conta o tempo por dia vivido e ontem foi bom demais, ainda mais com a surpresa de verificar na manhã seguinte, após uma boa noite de sono, que a insulina estava inferior a 170, fazendo úmidos os olhos.

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* escritor