sábado, 16 de março de 2024

LEIAM A BÍBLIA Valério Mesquita mesquita.valerio@gmail.com “Pois não me envergonho do evangelho de Cristo, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê. (Romanos 1.16).” Não li, em minha vida, tanto quanto gostaria de ter lido sobre autores das literaturas brasileira, francesa, portuguesa e inglesa – as minhas prediletas. Enveredei cedo pela política gastando o meu tempo e o latim. Mas selecionei e degustei obras preferidas. O tempo passou. Sem vocação para a advocacia não me interessei pelos filósofos e juristas. Admirava-os sem conhecê-los bem. As biografias dos grandes estadistas, os episódios marcantes da história da humanidade me alimentaram por algumas estações. Enfim, tenho do mundo uma visão humanista, política, administrativa e social. A chamada cultura bacharelesca sintonizada com o homem e o ambiente em que vive. Sou um provinciano saudosista ou memorialista, como queiram. A leitura da Bíblia, desde a fase adolescente, pouco me seduzia, mesmo tendo estudado oito anos no Colégio Marista, ao qual muito devo a minha formação educacional e espiritual. Estudava-se a história sagrada de forma pedagógica dos livros da FDT. Quase não se compulsava a Bíblia. Percebo, hoje, o quanto isso me fez falta. Agora, na maturidade, senti uma imensa sede da palavra dos evangelhos, dos profetas, dos salmistas e das epístolas do maior de todos os apóstolos: Paulo de Tarso, o que fora perseguidor dos cristãos, que contribuiu para o martírio de Estêvão e que estava ao lado da guarda pretoriana quando Jesus foi crucificado. Aquele mesmo chamado depois por Cristo para receber o Espírito Santo de Deus e se tornar o mais importante pregador do cristianismo em diferentes partes do mundo até os nossos dias. Ah! Como seria bom se ele pudesse pregar ao vivo, em Aparecida, São Paulo, perante os maiores dignitários deste mundo, realçando sempre acima dele, mais a Santíssima Trindade do que o homem mortal, como atualmente assim não agem certos pregadores sem humildade através do aparato humano, do show gospel, da cantoria vulgar, da banalização do nome de Jesus Cristo e de falsos milagres por intermédio da televisão comercial. Se lhe fosse dada a chance de exortar que: “Só há um Senhor, uma só fé e um só batismo”. E que há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. “Sede uns para com os outros benignos, perdoando-vos uns aos outros como Deus vos perdoou em Cristo. Sede imitadores de Cristo e que ninguém vos engane com palavras vãs”. (Efésios). Falta em muitos doutores das igrejas da modernidade o sentimento da humildade que o apóstolo Paulo detinha. Disse ele em Coríntios: “Sou o menor dos apóstolos e não sou digno de ser chamado apóstolo pois persegui a igreja de Deus”, apesar de Cristo viver nele. E se lhe dessem a oportunidade de falar na rede Globo para todo o Brasil e principalmente para o Rio de Janeiro: “Se esperamos um Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos. Pois, Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir os sábios, e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir os fortes. E Deus escolheu as coisas vis deste mundo e as desprezíveis, e as que não são para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele”. Por isso, hoje proclamo: leiam a Bíblia. Além de instruir, ela santifica. (*) Escritor.

quinta-feira, 14 de março de 2024

Sobre a expressão “de ovo virado” Padre João Medeiros Filho Este é um dos ditados bastante empregados por nossa gente. Consoante anotações do antropólogo e folclorista alagoano Théo Brandão, o dito popular é de conhecimento e emprego em vários estados brasileiros e algumas regiões de Portugal. De onde provém essa história de ovo virado? A sabedoria popular é de uma riqueza inestimável. As expressões, em geral, aparentemente desprovidas de fundamentos científicos e acadêmicos, partem da observação empírica. Uma vez criadas, caem como uma luva sobre a realidade individual ou coletiva. O adágio aqui aludido é de origem doméstica, nascido da observação do povo, especialmente do mundo rural. Há várias versões sobre a sua proveniência. A primeira delas seria uma analogia com o nascimento dos bebês, que durante um parto normal, colocam-se de cabeça para baixo, a fim de não trazer demasiado sofrimento à mãe. Da mesma forma, diz o saber popular que o ovo da galinha necessita estar com a parte mais fina para baixo, na hora de ser expelido. Caso esteja ao contrário, a ave passa por momentos dolorosos, podendo até morrer. A maioria das pessoas fica nervosa e mal-humorada ao sentir dor. Isto acontece inclusive com os animais. Daí, provavelmente foi criada a expressão: estar, ficar, acordar de ovo virado. Uma segunda interpretação para o axioma origina-se da experiência culinária. Ao fritar um ovo do tipo estrelado, a cozinheira vira-o para verificar a sua cocção e, às vezes, ele se parte. Isso causa descontentamento a quem o prepara e diante da situação em que pretendia um ovo inteirinho, fica chateado, tendo que refazer o trabalho. De acordo com certas fontes, uma terceira versão para o ditado está relacionada com a medicina. Tratase talvez daquilo que os médicos denominam torção testicular, muito dolorosa, conhecida popularmente no interior do país como ovo virado (torcido). Os urologistas poderão explicar melhor. A sabedoria popular emprega metáforas, partindo de situações rotineiras. Essa expressão está relacionada a situações indesejáveis e desagradáveis, das quais derivam aborrecimentos e mal-estar. O adágio aplica-se a muitas situações em diferentes aspectos da vida humana, notadamente nos relacionamentos funcionais. Existem pessoas com as quais é complicado lidar, sendo de difícil convivência. A elas encaixa-se bem o axioma citado. Estão sempre de mal com tudo ao seu redor, reclamando disso ou daquilo. Nada está bom ou lhes agrada. Geralmente, de semblante fechado, o sorriso não aflora em seus lábios. Tampouco se entusiasmam com o espetáculo da natureza e a beleza das crianças. Um gesto cordial de tais indivíduos é raro como chuva no deserto. Estar ao lado de alguém de constante mau humor é entediante. Mesmo diante de personagens de ovo virado, não se pode perder a alegria da vida, dom supremo de Deus. Lembremo-nos da recomendação do apóstolo Paulo aos colossenses: “Revesti-vos, de ternura, misericórdia, bondade, mansidão e paciência. Suportai-vos uns aos outros” (Cl 3, 12). Há os antipáticos funcionais. Alegam que, ao exercer a função de chefia ou coordenação, precisam estar sempre insensíveis e impermeáveis. Certos patrões, na convivência cotidiana com seus subalternos, acham que estes devem ser tratados com desprezo, não sendo merecedores de gentilezas. Equivocadamente, argumentam que devem evitar que se tornem familiarizados. Eis o conselho bíblico: “Desapareça do meio de vós todo amargor, toda ira e gritaria. Portanto, sede bondosos e compassivos” (Ef 4, 32). Em todas as partes do mundo, existem pessoas, que bastam subir um degrau social, funcional ou financeiro, mudam de personalidade, achando-se superiores. Um aforismo espanhol diz: “Si quieres saber cómo es fulanito, dále un carguito.” (Se desejas saber como é alguém realmente, dá-lhe um cargo, por menor que seja). Mostram sempre uma cara sisuda, como se tivessem engolido algo azedo ou intragável. O ser humano continua imaturo. Não consegue aceitar que a vida é efêmera e todos são iguais diante da realidade da morte. Consequentemente, deveria ser assim também diante da vida. Eis o que nos ensina Paulo, em sua Carta aos cristãos de Roma: “Que o amor fraterno vos una uns aos outros, com terna afeição, estimando-vos reciprocamente” (Rm 12, 10)