sexta-feira, 30 de julho de 2021

 

 


Minhas Cartas de Cotovelo – versão de 2021-36

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes

       Apesar do inverno, continuo morando em Cotovelo, com idas a Natal, naturalmente, para cuidar das coisas oficiais de um chefe de família e de algumas atividades literárias - nada recomendável para um  homem de idade.

       Mas, é na mansidão da minha varanda praiana, que encontro tempo e silêncio para leitura – sou um bom leitor, escritor nem tanto. As leituras do “zap”, dos jornais que caem na minha bacia das almas (tomo emprestado termo muito usado pelo meu amigo WM), dos artigos, agora regulares da “Navegos”, publicados sob a batuta de Franklin Jorge e constato as muitas mudanças que acontecem por conta da pandemia.

       Notícias boas, algumas más (perda de amigos como José de Ribamar), modificações de comportamento de alguns intelectuais, depois que receberam um puxavante de orelhas com o artigo, sempre precioso, da lavra do nosso Padre João Medeiros Filho. Refiro-me ao recente “A arrogância em alta” e, agora, as Olimpíadas, que vêm roubando o meu tempo de dormir.

       No entanto, o que me move nesta Carta de hoje é o incêndio do Museu do Cinema ou mais precisamente, dos galpões da Cinemateca Brasileira de São Paulo, onde eram guardados cerca de um milhão de documentos e cópias de filmes. Isso doeu demais com o meu passado.

       Onde estarão os meus personagens preferidos das “Chanchadas” brasileiras, Oscarito, Grande Otelo, Ivon Curi, Ankito, Mazaroppi, Eliana Macêdo, Adelaide Chiozzo, Cyl Farney, Zezé Macêdo, Fada Santoro, Anselmo Duarte, José Lewgoy, Wilson Grey, Renato Resstier, dentre outros, enfim, da Atlântida, ou dos filmes românticos, épicos e dramáticos. Não queiram que me lembre de todos, pois as prateleiras da memória (dito de João Machado), já estão empoeiradas.

       Tive a cautela de adquirir muitos DVDs ao longo dos anos que reproduzem esses filmes do passado do cinema brasileiro, de faroeste, capa e espada, do cinema mudo, das grandes produções da Metro, os quais serão, doravante, um lenitivo para resgatar um passado que não passou (como dizia Prado Kelly).

       Lembro-me de um tempo em que as filas eram imensas no Cinema Rio Grande para assistir os lançamentos do ano, quando fazíamos uma pausa preparatória na pracinha Pio X.

       Ficaram soando na minha saudade as marchinhas de carnaval que embalavam toda a população e registravam a passagem dos grandes personagens do rádio.

       Deixem-me chorar alguns instantes, pois tenho algumas obrigações a concluir - estatutos de Academias: Curraisnovense de Artes e Letras, de História, Letras e Cultura Militar, fazer prefácios de livros e preparativos para o “lançamento” agora em agosto, do meu segundo livro, este ano” – O Circo Vive.

       Não relaxo o meu banho de mar, sentado em uma cadeira já recebendo, de mansinho, as ondas da beira do mar, contemplando as nuvens brancas, nas manhãs radiosas ou as vermelhas do crepúsculo de fim de tarde, tal qual fiz em uma noite longínqua de 1954, olhando a lua: sentado em uma cadeira, olhando a amplidão, senti dentro da alma uma grande inspiração. Inspiração de mulher, de anjo, de beija flor ... Tudo para a minha já namorada e agora eternizada THEREZINHA.

       Continuo participando das lives do Rotary, Conselho Estadual de Cultura, ACAL, ações sociais de Octavio Lamartine (PROMOVEC), Teresa Neuma (RC-Sul) e Casa de Caridade Irmã Dulce, da minha filha Rosa. Posso então dizer: .....  e se mundo houvera lá chegara (Camões).

       Sou um velho atrevido, enquanto ELE permitir vou vivendo. “Só deixo o meu Cariri, no último pau de arara”, (de José Guimarães – Corumba – Venâncio), gravada por muitos, inclusive o nosso Aldair Soares.