sexta-feira, 15 de outubro de 2021

 O DIA DO PROFESSOR

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes

 

    Hoje é um dia especial, pois que consagrado a uma das mais nobres profissões do universo, em todos os tempos.

    Impossível enumerar o nome de todos aqueles ou aquelas que me ensinaram o be-a-bá - isso estou resgatando em um livro que estou escrevendo, dando conta da minha passagem por esta dimensão da existência.

    A minha admiração pela profissão me concedeu a graça de ensinar, de uma maneira geral, por cerca de 50 anos, entre universidades, escolas e instituições, fazendo da minha vida um prazer sem tamanho.

    Hoje, já distanciado das salas de aula, fico emocionado quando vou, esporadicamente a um desses lugares onde ensinei e quando convivo com inúmeros professores atuais ao ser convidado para participar de algum seminário.

    Tudo o que eu possa dizer sobre a profissão será sempre pouco. Por isso, prefiro trazer a transcrição de alguns depoimentos lúdicos, poéticos e emocionais:



 

 

 

Minhas Cartas de Cotovelo – versão de 2021-44

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes

Esta pintura que fiz, corresponde à passarela que construí, com a colaboração de Octávio Lamartine na descida para a praia pela Rua Erith Correia, em Cotovelo, com o propósito de servir à comunidade, principalmente aos cadeirantes e pessoas com deficiências.

Para complementar essa construção, que tem atraído muitos banhistas, é necessário ser marcada na avenida principal, de forma horizontal, uma passagem de pedestres, uma vez que a passarela passou a atrair grande número de pessoas para banho ou prática de esportes, principalmente o surf.

Aproveito o ensejo para publicar entrevistas que Eugênio Rangel fez comigo sobre a Comunidade Pium-Cotovelo e um artigo do jornalista Franklin Jorge, na revista virtual “Navegos”, com o título “O homem mais feliz de Natal”  (https://www.navegos.com/o-homem-mais-feliz-de-natal/)

 








 O HOMEM MAIS FELIZ DE NATAL

Professor aposentado da UFRN, escritor e pintor de domingo, Carlos Roberto de Miranda Gomes é, como se dizia antigamente, um dos homens bons de Natal, cidade aonde viu a luz em 10 de setembro de 1939 pelas mãos da parteira Dona Adelaide, na residência de seus pais à Avenida Rio Branco, no clamor da 2ª guerra.

*Franklin Jorge

Sou um provinciano inveterado. Homem integralmente simples, inimigo da vaidade em todos os sentidos. Sou bom leitor. Dedicado inteiramente à família. Vivo da lembrança da minha saudosa esposa Therezinha que foi quem possibilitou todas as minhas vitórias e me deu alento às derrotas e a riqueza de quatro filhos, que se multiplicaram por muitos outros. Para ela dedico os últimos momentos da minha vida.

Seus pais, José Gomes da Costa, ele, magistrado, originário das terras de Taipu e D. Maria Ligia de Miranda, Senhora do lar, de ascendência aristocrática dos Albuquerque Maranhão e Miranda Henriques, dos quais herdei a lucidez interpretativa do Direito, amor à leitura, coragem de tomar decisões e a doçura, o carinho e o amor ao próximo, a pacificação e compreensão das pessoas de qualquer origem.

Leitor precoce, iniciou suas leituras com revistas em quadrinho (em particular a revista “Edições Maravilhosas”, que publicava em resumo e em quadrinhos, as grandes obras da literatura brasileira, por exemplo, O Moço Loiro, O Seminarista, O rio do quarto, a Pata da Gazela, O Guarani e muitos outros. (ainda guardo o que restou dessas revistas). Quando me impressionava com algumas dessas histórias eu pedia a papai para comprar o livro. Também no cumprimento dos deveres escolares (disciplina chamada dissertação e linguagem), comecei a escrever alguma coisa.

Posteriormente, com os primeiros namoricos, Miranda Gomes foi arriscando escrever poesias, geralmente de dor de cotovelo ou algo telúrico como também fiz artigos críticos sobre a conduta de pessoas que viviam ao meu redor. Quando entrei pesado nos livros passei a rabiscar resumos e comentários do que eu lia e, algum tempo depois, comecei a arriscar alguma coisa minha (composições). Nessa época eu recebi de presente o meu primeiro livro – Anos de Ternura, de A.J. Cronin e nunca mais parei de ler. Tenho uma boa biblioteca de autores nacionais, estrangeiros e, com carinho e orgulho, de autores potiguares.

Para ele, ler os inúmeros livros e textos de natureza técnica foram meios didáticos de melhor orientar seus alunos. No campo literário a publicação passou a ser uma recompensa apenas no campo intelectual e na satisfação pessoal de deixar registros de fatos e pessoas que se destacaram como exemplifico com os livros Testemunhos, em homenagem ao centenário de nascimento do Des. José Gomes da Costa – Ed. Sebo Vermelho – agosto 2002 (apoio da AMARN e IHGRN); Traços e Perfis da OAB/RN – Natal, Sebo Vermelho, 2008 e 2ª edição em 2017, pela OAB/RN; O Velho Imigrante (Il Vecchio Immigrante), Natal, Ed. Sebo Vermelho/Nave da Palavra (UBE/RN), julho 2012; Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão, Patrono da Cadeira nº 2, da Academia Macaibense de Letras, Natal, outubro, 2012; Uma pequena história, Natal, 2013; Um Século de Vida (homenagem ao General Francisco Gomes da Costa), Natal, 2013; participação no livro Letras & Imagens do Bem. Natal; participação na Antologia sobre o Desembargador Floriano Cavalcanti de Albuquerque, de autoria de Marco Aurélio da Câmara Cavalcanti de Albuquerque. Natal, infinita imagem, 2013; participação na Coletânea Construtores da Ágora Soberana Potiguar – múltiplas memórias (Professores do Atheneu), Natal; Edições Infinitas Imagens, 2014; O menino do poema de concreto - memórias de Moacyr Gomes da Costa, Sebo Vermelho – Edições, 2014; romance Amor de Verão – Sebo Vermelho Edições, Natal/RN, 2016; 90 anos bem vividos (homenagem a Moacyr Gomes da Costa), Natal-RN, – Sebo Vermelho Edições, 2017. As Confrarias e o Tempo. Natal: Sebo Vermelho – Edições, 2018, PROMOVEC – uma bela história, Natal/Cotovelo verão 2018/2019, ed. OffSet Editora, janeiro de 2019. Dados biográficos em entrevista ao Programas Memória Viva – volume II, Natal, Ed. IHGRN/Offset, antologia organizada por Armando Holanda, Joventina Simões Oliveira e Vicente Serejo, 2020. Artigo especial em homenagem a Therezinha Rosso Gomes, Rev. Da ANRL, nº 65, out-dez, 2020. Amor de Outono, Natal, Sebo Vermelho-Edições, Natal - maio de 2021. Livro O Circo Vive, Natal – Sebo Vermelho Edições, julho 2021.

Tenho trabalhos a publicar: pequenos ensaios sobre a Casa do Estudante de Natal, A história do América Futebol Clube, sobre Tonheca Dantas, Patrono da Cadeira 33 da ANRL da qual sou titular e pesquisa sobre os bairros do Barro Vermelho e Alecrim e a Igreja de São Pedro.

Seus pais foram seus primeiros incentivadores. Sempre me apoiaram nos estudos e alguns poucos amigos acreditaram em algum talento que parecia possuir.

A literatura retrata a vida, a história os sentimentos do mundo, e isso será eterno.

Seu último livro publicado, lançado de maneira performática e jovial, versa sobre o universo do circo, que representa um dos seus momentos lúdicos, de alegria, sobretudo, mas também de história de pessoas, de dificuldades e de tragédias e isso sempre me atraiu, pois vivi momentos especiais no interior e adolescência, pois os circos eram armando defronte da minha casa na Rua Meira e Sá, no Barro Vermelho e, por isso, havia alguma convivência com os dirigentes e artistas.

São muitas e variadas as lembranças que Miranda Gomes guarda da infância itinerante, a saber: das apreensões de seus pais pela situação em que Natal se encontrava no correr da II guerra, com ameaças de ser invadida. Veículos militares passando na frente da nossa casa da Rua Felipe Camarão.

Em 1945 a família foi morar em Angicos onde seu pai foi ser Juiz e nosso entrevistado teve a oportunidade de conviver com a paisagem bucólica das regiões onde morou. Lá, o que me impressionava era um Seminário em frente à nossa casa e um descampado onde se via o cemitério, onde ocorriam rajadas de vento levantando uma poeira infernal (redemoinhos). Em seguida morei em Penha (hoje Canguaretama) onde via a condução do gado de máscara para o matadouro, que corriam desordenadamente colocando medo nas pessoas. As idas a cavalo esperar papai na estação de trem. Levar duas vacas leiteiras de papai (Cravo Branco e Barcaça) para tomar banho no rio. Os caranguejos entrando debaixo da cama (a casa era em frente ao Mercado). Do pé de genipapo que diziam ser mal assombrado e isso me metia medo. Das festas de padroeiro(a), pastoril e boi de reis, quando fazia reverência ao Juiz com uma rodada defronte de papai, aí era pra quebrar, cheguei a molhar as calças. Posteriormente fomos morar em Macaíba onde eu já dominava melhor as coisas da vida e vivi os melhores momentos do começo da minha puberdade.

Alguns fatos o marcaram: a esperando do gazeteiro, em frente ao mercado, que trazia revistas em quadrinhos, suas primeiras leituras; os jogos de futebol no campo vizinho ao cemitério - (eu torcia pelo Cruzeiro) e lembro-me do goleiro chamado Galamprão, que tinha mãos agigantadas e segurava a bola com a palma de uma delas. As festas do Pax Clube e os filmes no Cine Independência.

Voltei a morar em Natal em 1948 e somente a partir de então passei a estudar em escola regular (Instituto Batista de Natal). Antes tinha professoras particulares e perdi alguns anos quando papai era transferido no ano letivo, interrompendo os meus estudos. Nas passagens eventuais por Natal ficava na casa de vovô João Gomes e lá havia sempre uma atração, por ser quase uma granja e ter uns ferros que seguravam o telhado e os meninos apostavam quem subia mais ligeiro e não mais saí daqui, passando a ter uma vida mais amena, pois o desenvolvimento começava a existir na cidade.

Tive uma infância feliz com meus pais, irmãos e irmãs; primos e primas e alguns amigos e apesar das dificuldades financeiras de papai, tive liberdade de viver com alguma regalia. Frequentava os campos de futebol levado por ele; o circo; cinema, fazendo viagens de trem. Pratiquei as traquinagens comuns da minha idade; jogos de biloca, pião, peladas de futebol e banhos nos rios das cidades por onde passei.

Tive facilidade em me adaptar às mudanças que encontrava nas cidades nas quais morei, entre 1945 e 1948. Retornando a Natal as coisas se modificaram um pouco em razão das maiores opções de divertimentos – cinemas, festas da mocidade, programas de auditório de rádio (fui cantor, ganhei prêmios e gravei discos), escola regular, tomar bonde em movimento, passeios de bicicleta, maior quantidade de amigos, estudo na Escola de Música do maestro Waldermar de Almeida. A exploração das cercanias da cidade. Tomar banhos de mar e na “maré” com meus amigos mais próximos – Marcelo, Benivaldo, Lito, Paulo Araújo, Eider, Geraldo Tavares e outros. Os jogos de sinuca (escondido dos comissários de menores), preferencialmente à noite na rua Dr. Barata. Os carnavais, com um boné de Capitão de navio e um colar havaiano; depois brinquei três anos no bloco Deliciosos na Folia, também no bloco “Feras” de pré-universitários, os carnavais memoráveis do Aero, América, Assen e Brasil Clube.

A cidade oferecia muitos divertimentos – festas com rodas gigantes e outros apetrechos próprios dos parques de diversão; missas no domingo na Igreja de São Pedro; os passeios de barcos e ioles no rio Potengi, os maravilhosos veraneios (nove) na Redinha e o seu aconchegante Clube e a patota do vôlei, das serenatas e das peladas. Também os passeios de bicicleta em direção do rio doce para flagrar os casais; as pescarias. Os encontros com as meninas na Praça Pio X, antes da sessão das 14 horas; os seriados das sextas-feiras no Cine São Luiz no Alecrim; os famosos lanches; as compras que, desde os 12 anos fui encarregado de fazer no velho mercado da cidade alta e na feira do Alecrim; em todas as fases, o companheirismo com os colegas de colégio, de faculdade, de trabalho e da vida militar.

De sua já dilatada e fecunda existência, tem extraído todas as lições que se possa imaginar. Da convivência com pessoas de todas as idades, gêneros, etnia, grau de conhecimento e educação, sobretudo nos meus 40 anos de magistério, reuniu um cabedal de prudência, tolerância, compreensão e experiência. E de uma vida familiar intensa, uma esposa dedicada e filhos maravilhosos, com as ressalvas óbvias das ausências, sou um homem feliz.



 

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

 



A OUSADIA DE CRIAR


Valério Mesquita*

 

Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão nasceu em Macaíba, em 02 de outubro de 1872 e faleceu em Angra dos Reis (RJ) no dia 1º de fevereiro de 1944. Um meteoro de luz incandescente, que já aos 20 anos de idade colava grau na Faculdade de Direito do Recife. Ocupou inúmeros cargos: promotor público, secretário de governo, deputado federal por dois mandatos e governador do Rio Grande do Norte, por duas vezes. Intelectual, publicou livros e colaborou com diversas revistas literárias. Fundador do Instituto Histórico e Geográfico do RN, em 29 de março de 1902. Era filho de dona Feliciana e Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão. Teve irmãos que também se notabilizaram como ele na história.

De compleição altiva, olhar sobranceiro, Alberto conduzia na palavra e nos gestos toda a obstinação de uma inteligência que escolheu a cultura como altar de sua crença. Naquele limiar do novo século era o homem esculpido, de ritmo inimitável de ascensão para a luz que surpreendeu até o irmão primogênito e líder Pedro Velho. E como primeiro impulso em favor das artes e da literatura, através da Lei 145 de 06 de agosto de 1900, proposta por Henrique Castriciano, estabeleceu a premiação de livros produzidos por autores domiciliados no Rio Grande do Norte. E, logo em seguida, inaugurou o teatro Carlos Gomes, hoje Alberto Maranhão, cuja renda do seu espetáculo inaugural foi revertida em favor dos flagelados da seca que se concentravam em Natal. O seu humanismo e nobreza de caráter alçaram-no à estatura de um Péricles de Atenas, tão expressiva foi a sua afirmação cultural com a obra administrativa que realizou.

No segundo mandato, fundou o Conservatório de Música, o Hospital Juvino Barreto, a Casa de Detenção, além da implantação da luz elétrica e dos bondes em Natal. Sem esquecer, ainda, a criação da Escola Normal e a reforma da educação, bem como, a edificação do Palácio do Governo na Praça 07 de Setembro. Uma visão global da obra de Alberto Maranhão me leva a dizer que ele foi um intelectual arrojado com uma intuição administrativa admirável, ao mesmo tempo que um dirigente operoso com uma visão cultural futurista para o inicio do século vinte. Conseguiu, até os nossos dias, irradiar uma luz tão forte sobre a sua personalidade política, ao ponto de merecer o respeito unânime de várias gerações, eternizado no tempo e no espaço.

Por tudo isso, no dia 04 de outubro de 2005, os restos mortais dele e de sua Inês, por iniciativa da Casa da Memória do Rio Grande do Norte, apoiada pelo Governo do Estado e pelo Conselho Estadual de Cultura foram trasladados para Natal. O homem não passa de uma extensão do espírito do lugar. Tudo se desfaz, menos os elos nativos que o prendem à terra. O homem será sempre prisioneiro de sua origem. Alberto Maranhão foi capaz de compreender o legado dos seus ancestrais e apaixonou-se pela causa pública no firme desiderato de dar glória ao seu Rio Grande do Norte. Nele se resume a dimensão da política no seu sentido aristotélico. Cito Pablo Neruda: “Ele sabia compartilhar conosco o pão e o sonho”. E a ousadia de criar.

 

(*) Escritor