Padre João Maria,
apóstolo dos pobres
Padre João Medeiros
Filho
No centro da
Cidade do Natal, perto da Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, onde Padre
João Maria Cavalcanti de Brito foi pároco por mais de duas décadas, há um busto
do eminente sacerdote, modelado pelo escultor Hostílio Dantas, em 1919.
Decorridos quase cento e vinte anos do seu falecimento, em 16 de outubro de
1905, muitos devotos ainda recorrem à intercessão daquele que ficou conhecido
como apóstolo dos pobres, em busca de conforto espiritual. Eis a demonstração da
santidade de um sacerdote que viveu plenamente o Evangelho. Nascido em 23 de
junho de 1848 na zona rural de Caicó, hoje município de Jardim de Piranhas, continua
alimentando a fé de gerações que sequer o conheceram pessoalmente. Permanece vivo
e presente na memória de milhares de fiéis. Padre João Maria tocou o coração de
nosso arcebispo metropolitano, Dom João Santos Cardoso, que, pouco depois de aqui chegar, se empenhou em introduzir junto à Santa Sé o processo de beatificação do inolvidável presbítero.
Para se ter uma ideia de sua popularidade,
o sepultamento do pároco natalense reuniu quase toda a população da capital
potiguar, à época. No cortejo da matriz até o Cemitério
do Alecrim onde foi sepultado, estavam presentes desde o governador do estado, Dr.
Augusto Tavares de Lyra até o pastor evangélico da cidade. Além de sacerdote,
Padre João Maria foi uma espécie de médico e assistente social dos desvalidos,
aos quais atendia com carinho e solicitude. Percorria, a pé ou montado num jumentinho, os bairros pobres de sua
paróquia para levar mensagens de esperança aos miseráveis, medicar os doentes com
remédios caseiros por ele preparados e prestar conforto aos moribundos, ministrando-lhes
a unção. O seu lema era “Fiz-me tudo para todos” (1Cor 9, 22), conforme o ideal
do apóstolo Paulo. Este, de modo inspirado, escreveu o Hino à Caridade (1Cor
13), que marcou o antigo pároco da capital potiguar.
O ambiente cristão de sua família contribuiu
para despertar nele a vocação religiosa. Os amigos e párocos do Seridó ajudaram-no
a custear seus estudos no Seminário de Olinda (PE), para onde viajou aos 13
anos a fim de fazer o curso eclesiástico. Levava na parca bagagem uma carta de
apresentação de Padre Francisco Rafael Fernandes, mais conhecido como Visitador
Fernandes, pró-pároco de Caicó. Concluiu os estudos de Teologia no Seminário da
Prainha, em Fortaleza (CE). Ali, foi ungido presbítero, aos 30 de novembro de
1871, por Dom Luiz Antônio dos Santos, primeiro bispo da diocese cearense.
Exerceu seu ministério sacerdotal na terra onde nasceu, em Santa Luzia (PB),
Acari, Florânia, Nísia Floresta e Natal.
Sua compleição
era a de um sertanejo. Tez amorenada, queimada pela canícula nas longas e cotidianas
caminhadas que empreendia para cuidar do seu rebanho, sobretudo dos humildes e esquecidos.
Segundo os cronistas da época que registram sua inestimável obra de caridade, o
ínclito sacerdote tinha um olhar penetrante. Sorria pouco, mas de bom humor,
sendo extremamente simples e afetuoso. Bondoso e manso, muitos dos seus contemporâneos
o chamavam de “João de Deus”. Talvez se vivesse em nossos dias, estaria presente
e animando a Ronda Fraterna e a pastoral dos irmãos em situação de rua,
distribuindo a
sopa e os sanduiches com aqueles que promovem diariamente a “Ceia com Jesus”.
Em Natal, residiu na esquina da praça
que hoje leva o seu nome – outrora Praça da Alegria – e abriga o busto erguido
em sua homenagem. Tal recanto tornou-se o destino da romaria dos infelizes que
buscam algum tipo de consolo material ou espiritual. Era comum o venerável
sacerdote dar seu próprio almoço aos que estavam com fome. Conforme os jornais da época, costuma doar aos
enlutados o tecido que ganhava para fazer uma batina. Ofertava aos necessitados
a rede em que dormia, passando a noite no chão até ganhar outra, que acabava tendo
o mesmo destino. A mesada que recebia do irmão bem-sucedido (o jurista e ministro Amaro Cavalcanti, residente
no Rio de Janeiro) era repartida com os carentes. Viveu a recomendação do apóstolo Paulo:
“Mostrai-vos solidários com os irmãos em suas necessidades” (Rm 12, 13).
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