quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

 

Solenidade da Imaculada Conceição 
Padre João Medeiros Filho 
O dogma da Imaculada Conceição proclama Maria isenta de todo e qualquer pecado em sua trajetória terrena. Essa verdade teológica exalta a natureza do ser humano, plasmado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1, 26). A Virgem Santíssima representa a humanidade na pureza original de sua criação, revelando a vontade do Criador para os seus filhos. Nos albores da história, Ele desejou o ser humano capaz de difundir a verdade, praticar a justiça e fazer o Bem. Mas, esse plano fora rejeitado por Adão e Eva, que optaram pelo Mal, simbolizado na metáfora da serpente. A primeira mulher foi despojada dos bens sobrenaturais, gerando a morte. Entretanto, Maria concretizou o ideal concebido por Deus. A Virgem de Nazaré disse sim ao Onipotente, por isso teve o privilégio de conceber o Unigênito de Deus e trazer ao mundo a Vida. Maria foi a portadora da paz e salvação, vindas do Alto, enquanto a esposa de Adão causou tristeza, sofrimento e morte. No dia 08 de dezembro de 1854, o bem-aventurado Papa Pio IX proclamou, pela Bula “Ineffabilis Deus”, o dogma da Imaculada Conceição de Nossa Senhora. Por ele, os católicos deverão venerá-la como o templo santo e ilibado, onde Deus veio habitar. Exemplar único da humanidade, imune da culpa original e outras faltas, a Virgem recorda as origens de nosso ser, sem a rebeldia contra Deus. Este quis mostrar em Maria a criatura perfeita, nela oferecendo um modelo de vida. A Conceição Imaculada da Mãe Celestial é decorrência da plenitude da graça divina. Não há espaço para o Mal, onde o Altíssimo faz sua morada. A festa da Imaculada Conceição é também uma oportunidade de reflexão e convite à conversão. Quando dizemos não à Palavra Sagrada, afastando-nos de Deus e nos entregamos ao egoísmo e à iniquidade, assim nos despojamos de nossa filiação divina. Segundo o relato do Gênesis (Gn 2, 15s), Adão e Eva sentiram vergonha por estar despidos, após a desobediência ao Criador. Eles cobriram seus corpos, envergonhados de sua postura. Às vezes, também pretendemos nos esconder nas folhagens de nossas desculpas, escudos e subterfúgios para disfarçar nossa nudez diante do Onipotente. A busca desenfreada de dominação e prazer, a corrida desvairada pelas riquezas materiais são tentativas de ofuscar nossas ilusões e mentiras, entorpecer nossas consciências para não ouvir a voz do Senhor. Somos cada vez mais desafiados a escolher entre Deus e a serpente. Esta simboliza a impiedade, desobediência, arrogância, sede do ter e poder, que seduziram Eva e continuam assolando o mundo. Os cristãos são convidados a seguir o exemplo de Maria, tornando-se capazes de rejeitar os aliciadores dos tempos hodiernos. Eis uma escolha crucial em nossa vida. A devoção à Imaculada brotou cedo no solo fecundo da piedade popular. O Ofício de Nossa Senhora (compilado em 1670 pelo frade franciscano Bernardino de Bustis) é uma prova do culto e amor dos fiéis à Mãe dos homens, dádiva de Cristo no alto da Cruz. “Eis a tua Mãe” (Jo 19, 27). Antes da proclamação do dogma pela hierarquia eclesiástica, ele já era vivido pela fé dos católicos, na sensibilidade dos corações que desconhecem reflexões teológicas, mas percebem a ação amorosa do Pai Celeste. Nossa Senhora é a reconciliação de Deus com o ser humano. Nela foi recriada a humanidade, pensada com carinho na manhã primeira do universo. A teologia subsequente chama Nossa Senhora de Nova Eva, portadora da Vida. No ventre de Maria o Verbo se tornou carne como nós. Por isso, a celebração da Festa da Imaculada acontece durante o tempo litúrgico do Advento, quando se comemora o mistério da Encarnação de Cristo. A Virgem Santíssima foi a mulher escolhida para o Filho de Deus assumir nossa condição humana, sendo corredentora da humanidade. Maria é beleza divina presente na terra, riqueza celestial temporizada. Maravilha infinita acessível aos mortais, ternura sagrada estendida aos pecadores. Suprema misericórdia do Altíssimo revelada aos pequenos e imperfeitos, poesia do céu no prosaico dos homens. A Compadecida, segundo a belíssima expressão de Ariano Suassuna. “Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós."

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