terça-feira, 11 de outubro de 2022

 

Professor Severino Lopes, o desportista      

 

 

Severino Lopes da Silva (Dr. Severino, Professor Severino) nasceu no município de Macaíba, em 1924. Conheci-o no começo da década de 1960, quando iniciava a minha jornada como profissional do futebol, na simpática e admirada equipe verde-branca do bairro mais popular e populoso da cidade, o Alecrim FC. Há relatos de que  foi um bom jogador, defendendo a equipe esmeraldina e, inclusive, em passagem em terras da Espanha, durante o tempo da sua pós-graduação; um atleta viril, brigador, duro nas jogadas, porém, um obediente e disciplinado jogador dentro das quatro linhas. Fizemos uma boa, sólida e fiel amizade no campo do futebol e da medicina.

Na época, o professor Severino já fazia parte como um dos abnegados cardeais do time “periquito”, chegando a sua presidência.                                                                         

Conseguimos juntos o primeiro bicampeonato oficial de futebol da cidade (1963/4). Em plena efervescência da disputa do título do bi, fui aprovado para fazer o curso de medicina; o tempo passou a encurtar, a apertar para poder conciliar a “bola e o estudo”. Porém, fui sempre aconselhado e orientado pelo professor, nas buscas das soluções.

Como seu aluno na cadeira de Psicologia Médica, relembro algumas passagens interessantes: ele gostava de convidar um grupo de estudantes para jogar uma “pelada” em sua fazenda, na Lagoa do Bonfim. O time dele nunca perdia (de maneira superesportiva). Sempre arranjava um jeito de sair vitorioso no final do embate. O local era super arenoso, com areia frouxa e muito quente (a pelada sempre começava depois das onze horas); convidava e levava alguns bons jogadores do time do Alecrim, de solado grosso, que corriam na areia quente e fofa, como se estivessem correndo em cima de um excelente gramado sintético em noite fria. Não dava outra, ganhava todas. Não sabia o que era derrota. Contam que, certa vez, convidou para uma arrojada peleja, um time de peladeiros, cujo goleiro era o bom e famoso Bastos (Alecrim FC); início de jogo, o goleiro intransponível, não entrava nada, nem vento! Preocupado, pensando em perder a longa invencibilidade, o professor Severino “deu uma de doido”, lembrou-se do valente e feroz cão da fazenda. Não deu outra, foi apanhar o cachorro e amarrou na trave do bom goleiro. O defensor arregalou os olhos e chispou, abandonando a trave. Aí, pegue a entrar gols e mais gols, final da peleja: uma senhora goleada, tendo como grande protagonista o valente cão artilheiro que ele chamava de Bozó II (alusão ao bom ponta direita Bozó do Alecrim FC, seu contumaz convidado). No final, todo mundo morto de sede, fome e muito bem derrotado, e ele sorrindo à toa, descascava pacientemente um abacaxi para distribuir com todos. Era pouco abacaxi para muitos derrotados e esfomeados.

Na nossa convivência no Magistério Universitário, ele na chefia do Departamento de Medicina Clínica, me indicou para a vice-diretoria do Hospital Universitário Professor Onofre Lopes, o que muito me honrou e enalteceu.                                           

No seu currículo, constam trabalhos pioneiros da mais alta relevância em prol da psiquiatria do Estado: a criação do primeiro hospital de psiquiatria – a Casa de Saúde Natal, (1956) – hoje, Hospital Psiquiátrico Professor Severino Lopes; o primeiro curso de residência médica em psiquiatria; a criação e fundação da Clínica Pedagógica Professor Heitor Carrilho, instituição de caráter filantrópico, onde presta atendimento eficaz e humanizado às crianças excepcionais, dando-lhes total apoio psicopedagógico, e a APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). O professor Severino sempre enxergou e usou o trabalho, o esporte e o lazer, como elementos fundamentais e coadjuvantes na terapia psiquiátrica.

Deixou um imensurável legado para psiquiatria do Estado, com a formação de gerações e gerações de seguidores. Sua imagem, sua figura, sua pessoa, suas ações jamais serão esquecidas.

Faleceu em 2002, aos 78 anos, vítima de infarto do miocárdio, na Casa de Saúde São Lucas; era portador de diabetes. Foi casado com a farmacêutica Isabel Fernandes de Góis Lopes, com quem teve cinco filhos: Carlos, Márcia, Marcos, Cláudio e Cláudia Lopes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário