quarta-feira, 22 de setembro de 2010



ATOS FINAIS
Ciro José Tavares
In Além da Rosa- dos –Ventos, 1990


Navega-me Phlebas,
amargurada gênese fenícia de Eliot.
Submersos assistimos livros resgatados
às empoeiradas prateleiras da terra desolada
Um dia, quem sabe?
Teu galeão conduzirá
derradeiros utensílios e ossos.
Reserva-me parte da carcaça
para sepultar nas sombras velhos sonhos.
E cabides.
Cabides, sobretudo!
para exposição das roupas abandonadas e poídas.
Lava meu corpo com o sal das preamares oceânicas,
retirando o mofo transpirado através das brechas seculares.
Acorrenta-me aos milimétricos desenhos,
gravados nos mosaicos.
Quero-me, limitado, escalar pálidas paredes
e tocar roofs beijados de chuvas.
Viajo-te, Phlebas,
para que possas escorar tuas ruínas,
viajando minhas dores infinitas.

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