Parabéns, Timbaúba dos Batistas (RN)!
Padre João Medeiros Filho
Segundo a Sagrada Escritura, “O Espírito sopra onde quer”
(Jo 3, 8). A metáfora bíblica mostra-nos que Deus age de forma livre,
surpreendente e inusitada. Não raro, chega a aturdir os seres humanos. Ele
seria pequeno demais se pudesse ser controlado por suas criaturas. É o que se infere
do recente evento, em que o jovem João Pedro de Araújo Soares conquistou a Medalha
de Ouro (em Matemática) na Olimpíada do Tesouro de Educação Financeira –
OLITEF/2025, promovida sob os auspícios do Ministério da Educação. O certame
destina-se a estudantes do sexto ano da educação básica à terceira série do
ensino médio. O agraciado provém da Escola Basílio Batista de Araújo,
localizada em Timbaúba dos Batistas. O diligente aluno sempre frequentou o
ensino público, em sua cidade de origem. Sou tentado a solfejar a música
italiana, quando afirma: “Sobre montes de pedras também nascem flores.”
Quem
diria que da pequena Timbaúba – distante trezentos quilômetros da capital potiguar,
uma cidade interiorana com menos de três mil habitantes (segundo os dados
censitários de 2024) – pudesse surgir um talento, motivo de orgulho para sua
família, sua cidade natal e o RN. Nós, humanistas e educadores, sentimo-nos
gratificados por existir jovens que levam a sério a educação, a arte e a
ciência. Numa sociedade em que tantos adolescentes enveredam pelo submundo das
drogas e do crime, é importante divulgar a existência de jovens estudantes,
como João Pedro, que dignificam a comunidade. O timbaubense não provém de
renomados colégios e instituições de ensino de tradição secular e prestígio
social da região e do estado. “A sabedoria é
mais preciosa do que todas as pedrarias e riquezas”, diz-nos o autor do Livro
dos Provérbios (Pv 3,13-15).
Há mais de seis décadas, conheci Timbaúba (ainda não era
paróquia). Fui Cura da Sé de Caicó e amiúde aparecia por lá para celebrar,
batizar, presidir casamentos e pregar na festa de São Severino Mártir, seu
padroeiro. Havia a tradição de hospedar os sacerdotes na fazenda de Hermógenes
Batista de Araújo (primeiro prefeito constitucional do município) e Dona
Lutgardes, irmã de Dr. Otto de Brito Guerra. Inesquecível o repouso no alpendre
da casa grande, testemunha de tantas histórias e confidências. Hoje, Timbaúba
surge novamente no cenário nacional como berço do ganhador da Medalha de Ouro
em Matemática de 2025. O município seridoense já era conhecido por outros registros.
Apresenta o maior índice nacional de endogamia (traço forte do judaísmo), um dos influenciadores da Síndrome de Berardinelli, com
incidência significativa também em Carnaúba dos Dantas e Povoado Santo Antônio da
Cobra (Parelhas). Os pesquisadores da Universidade do Rio Grande do Norte
acompanham tal distúrbio.
A gloriosa Timbaúba destaca-se pelos bordados, uma secular
arte que permanece desprotegida. A cidade mantém viva a tradição cultural das
famosas “dentelles de Bruges” e outros bordados típicos da região flamenga,
também como marca da presença holandesa no RN. O Seridó e Bruges são as duas
únicas regiões que produzem o verdadeiro bordado de Flandres. Infelizmente, a
produção seridoense é imitada grosseiramente por pessoas inabilitadas, voltadas
para o lucro, em detrimento da arte. Padre Pedro Neefs (holandês
de nascimento, brasileiro por adoção) manifestou preocupação com a
originalidade dos bordados. Por isso, organizou a Associação das Bordadeiras da
Serra de João do Vale (Jucurutu e Campo Grande). O parlamento potiguar deveria somar
esforços para proteger os bordados do Seridó, como herança cultural flamenga,
integrada à nossa realidade econômica e artística. Há necessidade de organizar
comissões técnicas no sentido de garantir a originalidade dos produtos.
João Pedro se insere nesse contexto científico, literário
e cultural de sua terra. Sua avó, Iracema Soares, foi professora de bordados e
patrona da Casa das Bordadeiras de Timbaúba. Esta cidade congrega um notável
número de genealogistas, do qual fazem parte João Pedro e seu genitor Arysson
Soares da Silva, membro de várias instituições culturais e científicas. João
Pedro, desde sua infância, volta-se para Arte, Ciência e Letras. Dessa mesma estirpe
descende Monsenhor Walfredo Gurgel e tantos vultos políticos, religiosos e intelectuais,
que engrandecem nosso torrão natal. Hoje, digamos como o salmista: “Dai graças
ao Senhor, porque Ele é bom, incomensurável é a sua misericórdia” (Sl 118/117,
1).
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