terça-feira, 1 de julho de 2025

 



POUCAS E BOAS

RELEMBRANDO ROMILDO GURGEL

 

Valério Mesquita

mesquita.valerio@gmail.com

 

01) Romildo Gurgel foi um homem fiel às amizades e às inimizades também. Dele sempre se poderá dizer a penúltima palavra, mas nunca a última. Temperamento explosivo, Romildo era um verdadeiro vulcão. Lutou contra gregos e troianos para consolidar o Tribunal de Contas do Estado, nascido nos anos turbulentos das batalhas políticas do “verde” contra o “vermelho”. E como isso não bastasse, Romildo efetuou com talento e gênio e sem naufrágio, a perigosa travessia da Revolução de 1964, sob a mira dos canhões cuspidores de chumbo do General Meira Matos. Como uma sentinela de resistência, passava o dia e a noite no QG do TCE, preparando dossiês e relatórios, defendendo-se contra tudo e contra todos. Ao seu lado, o advogado Varela Barca emprestava o brilho de sua inteligência. Contra cada um dos detratores, Romildo vociferava invectivas e acusações sob o silêncio profissional de Barca. Não se contendo mais, Romildo explodiu: “Barca, Barca, comprometa-se, comprometa-se!!”.

02) O Tribunal de Contas do Rio Grande do Norte muito lhe deve apesar do inegável espírito contraditório e polêmico. Certa noite, num jantar, ouviu o comentário manso e pacífico do colega conselheiro Aldo Medeiros: “Ontem, Romildo, eu tive o prazer de almoçar com o General Meira Matos. Foram momentos agradabilíssimos”. Ao lado, Romildo, ferido, em guerra cansativa e mortal contra o militar, comentou desalentado: “Aldo, você é um homem feliz porque almoça com o General Meira Matos. E eu, o que posso dizer?”.

03) De outra feita, no corredor do prédio do Tribunal, Romildo, sobrecarregado de papéis, com o conselheiro Mota Neto, robusto, quartudo e irrequieto, ao lado do poeta e jornalista Sanderson Negreiros, boa vida e eterno aprendiz dos mistérios circundantes, fez a seguinte saudação: “Dr. Sanderson, a luta é grande. Motinha, você é a própria força da natureza!”.

04) Implacável com os inimigos, Romildo Gurgel atingia, por vezes, as raias do absurdo. Numa contenda com o comerciante Epifânio Dias, homem de bem e respeitável, usava o microfone da antiga Rádio Cabugi (que pertencia ao senador Georgino Avelino, seu parente), para insinuar que recebia cartas elogiosas do seu desafeto e lia um texto inverossímil, para a ira do seu inimigo ouvinte do programa.

 

(*) Escritor


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