quarta-feira, 16 de julho de 2025

 RELEMBRANDO FRANCISCO FALCÃO FREIRE


Valério Mesquita*

Francisco Falcão Freire, mossoroense, calmo, hábil e de largas amizades pelo seu temperamento dócil. Seu Falcão, como era conhecido, foi casado com D. Albertina Cabral Falcão. Ele chegou a Macaíba como funcionário do fisco estadual. Eram os anos 40/50 e fez grande amizade com Alfredo Mesquita Filho, pontilhando caminhos políticos, ora convergentes, ora divergentes, sem nunca perder a afeição e o respeito mútuo. Foi coletor estadual em Macaíba por vários anos, tendo pontificado a sua atuação no governo de Dinarte Mariz. Falcão era um homem cordial tendo participado em Macaíba da vida social da cidade através do Pax Club além dos eventos esportivos. O seu traço característico foi o de conciliador, principalmente, nos embates políticos travados entre Alfredo Mesquita (PSD) e o seu genro e sobrinho Leonel Mesquita (UDN) em 1958 para Prefeito de Macaíba. Inclusive, foi um dos articuladores da reaproximação dos dois parentes no inicio dos anos sessenta, pacificando a política de Macaíba.
Aposentado, foi morar em Natal com a sua numerosa família que nunca deixou de reconhecer nele, a figura do pater-familia, líder e patriarca. Na política, não exerceu cargo eletivo, muito embora, tenha sido lembrado e sugerido para ser Prefeito de Macaíba em diversas ocasiões. A sua fleugma era de diplomata, “conselheiro da república de Macaíba”, sempre ouvido nos momentos de decisão e crise. Há muito mais a dizer sobre a sua personalidade e perfil funcional, cultural, social e político que não cabe no espaço de uma crônica de resgate de sua memória.
Mas, para concluir, não poderia olvidar uma história narrada por seu colega de fisco Jaime Alves de Oliveira que exibe, também, o seu lado espirituoso, inteligente e pragmático no trato das questões funcionais.
Terminadas as eleições de 1960, com a vitória de Aluízio Alves, Falcão foi exonerado da Coletoria, assumindo o novo coletor, Sr. José Humberto da Câmara. Iniciou-se um processo de “caça as bruxas” e Falcão foi intimado por uma comissão de inquérito sob supostas irregularidades, que teriam sido cometidas na sua gestão.
Iniciado o interrogatório, o presidente indagou: “Senhor Falcão, é verdade que o senhor recebia vales da firma Nóbrega e Dantas?”. É bom ressaltar que firmas algodoeiras, com poucas exceções, faziam despacho com vales para posteriores ressarcimentos em face das dificuldades atravessadas pelo comércio à época. Nóbrega e Dantas, pelos seus diretores, apoiavam Aluízio Alves. Falcão experiente e esperto levantou-se da cadeira, e, dedo em riste, dirigiu-se ao seu substituto: “Zé Humberto, você tem aí vales de Nóbrega e Dantas?”. O coletor do novo governo foi lá e veio cá, e, sem saída, esclareceu: “Eu tenho aqui uns vales”. Ao que Falcão, voltando-se ao Presidente da Comissão, afirmou: “Sr. Presidente está respondida a pergunta”. Nada mais foi dito nem perguntado. Quem da Comissão de Inquérito iria colidir com a poderosa empresa Nóbrega e Dantas, aliada política incondicional do Governo da Esperança. Francisco Falcão Freire nasceu em 1º de novembro de 1900 e faleceu em Natal no dia 23 de setembro de 1985.

(*) Escritor.

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