domingo, 18 de dezembro de 2022

 


A PRIMEIRA ÁRVORE DE NATAL EM NATAL

 

                        Horácio Paiva *

                                                          

                                    Em sua “Acta Diurna”, de 8/01/1960, intitulada “Cinqüentenário da Primeira Árvore de Natal”, registra o mestre Câmara Cascudo uma curiosidade: a exibição, em 24 de dezembro de 1909, da primeira Árvore de Natal em nossa cidade. E diz, em detalhes explicativos: “Foi no salão do Natal Club, o primeiro, a 24 de dezembro de 1909, às oito horas da noite porque, naquele tempo, não se pensava nas vinte horas”.

 

                                    Renovo o registro ante a oportunidade da informação, já que vivemos, mais uma vez, neste ano da graça de 2022, o ciclo natalino, completando, no próximo 24 de dezembro, cento e treze anos da introdução, entre nós, dessa árvore especial, feita do brilho dos sonhos.

 

                                    Especula-se sobre qual a origem desse símbolo que, ao lado de tantos outros  -  presépio, Papai Noel, luzes ornamentais, ceia, presentes  -  interpretam a alegria do Natal.

 

                                    Tem-se que o costume de iluminar árvores no Natal surgiu no norte da Europa. Chegam alguns a atribuir a Lutero o pioneirismo. Contam que, em 1530, ele teve a ideia, ao apreciar a beleza dos pinheiros cobertos pela neve em noite estrelada. A cena teria inspirado, ao seu espírito místico e contemplativo, a homenagem que prestaria ao nascimento do Senhor. Em sua casa, compôs a árvore, com um pequeno abeto, algodões e lanternas.

 

                                    Já em 1605, em Estrasburgo, França, há o registro de uma Árvore do Natal erguida na via pública. Na América Latina, porém, o costume é de fins do século XIX e começo do século XX.  

 

                                    Na realidade, é um símbolo novo. A nossa mais antiga tradição natalina, decoração em torno da qual festejavam os nossos antepassados, é a do presépio, que segue a criativa idéia do pobrezinho de Assis, hoje com seus quase oitocentos anos de comemoração.

 

                                    E esse presépio que gerou presépios  -   ao longo dos anos da cristandade e até hoje  -   era um presépio vivo. São Francisco o fez representar numa gruta de Greccio, Itália, na noite de 24 de dezembro de 1223. Tudo era vivo: o menino Jesus, São José, Maria, os Reis Magos, os pastores e as pastoras, a vaca, o burrinho... e as miunças. Interpretava o menino Jesus o filho de uma camponesa local, que ali era Nossa Senhora.

 

                                    Não tenho dúvidas da beleza, da simplicidade e da forte emoção daquele espetáculo, pleno de ternura e devoção, protagonizado por gente do povo, sonhado e conduzido, em pureza e amor, pelo poverello, o “pobre de Deus”, São Francisco de Assis.

 

                                    Em poucos versos, sem ação verbal, mas tão-somente com a nota estática da contemplação, na simplicidade natalina, também construí um presépio, abstrato  -  mas iluminado pelo olhar de Maria:

 

NATIVIDADE

 

Luz na estrebaria:

sobre as dores do mundo

o olhar de Maria.

 

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(*) Horácio de Paiva Oliveira  -  Poeta, escritor, advogado, membro do Instituto Histórico e Geográfico do RN, da União Brasileira de Escritores do RN e presidente da Academia Macauense de Letras e Artes – AMLA.

 

 

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