quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

 

LE STYLE C’EST L’HOMME MÊME


Valério Mesquita


Dos ex-governadores do Rio Grande do Norte, nenhum teve tanto apreço por vereador como o saudoso Lavoisier Maia. Era o seu estilo. O velho Boileau já dizia que “le style c’est l’homme même”. 

O Dr. Aluízio Magalhães, saudoso secretário de Cultura do MEC e presidente do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) que Collor destruiu depois, havia visitado a nova passarela do Forte dos Reis Magos. Culto, falava quatro idiomas, escritor e intelectual dos mais lúcidos do país, comprometera-se com a restauração da Cadeia Pública de Mossoró, hoje Centro Cultural. Pediu-me para procurá-lo na primeira viagem que fizesse a Brasília, pois, com o projeto já aprovado, liberaria os recursos. Com vinte dias, fui a Brasília. Na sede do IPHAN, pela amizade que fizera com ele, fui logo conduzido ao seu gabinete. Encontrei-o falando fluentemente o francês com três senhores que o visitavam. Para não ficar ouvindo o que não entendia, aproveitei a presença da secretária a fim de me ligar com o governador do Rio Grande do Norte. Queria, na verdade, buscar reforço político instantâneo para a reivindicação que ia fazer, colocando-o em contato com o secretário de Cultura do MEC. Miriam, secretária de Lavô, transferiu a ligação: “Governador, aqui é Valério, estou em Brasília, no IPHAN-Pró-Memória...”. “Tá onde?”. Cortou o governador. “Brasília?”. Admirou-se Lavô e arrematou: “Mas, você viajou e não resolveu o problema do vereador Manoel Ferreira, do PDS!”. “Mas governador eu estou...”. “Manoel não pode sair do PDS”, interrompe Lavô em tom político-pedagógico. “Governador, quando eu voltar...”. “E volte logo!!”. “Mas desejo que o senhor fale com o Dr. Aluízio Magalhães, é sobre Mossoró, Mossoró!!”, enfatizei para despertá-lo.  

Aí ele abrandou. Esqueceu o vereador e lembrou-se da restauração do monumento. Depois, pensei comigo que o vereador Manoel Ferreira quase fazia o que Lampião não conseguiu: bagunçar a Cadeia Pública de Mossoró.

(*) Do livro "Pisa na Fulô - Anedotário Político e Social de Macaiba e Adjacências".



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