terça-feira, 5 de março de 2024

REVISTA GENEALÓGICA BRASILEIRA OS MIRANDA-HENRIQUES A vasta e prestigiosa família de minha mãe foi transplantada de Portugal para o Brasil no século XVIII. Fundou-a, no Nordeste, Francisco Xavier de Miranda Henriques, que, durante quase 19 anos, exerceu no Brasil os elevados postos de Capitão-Mór e Governador das Capitanias do Rio Grande do Norte (11 anos e meio), Ceará (4 anos) e Paraíba (3 anos). Era Cavalheiro professo na Ordem de Cristo. Moço Fidalgo da Casa Real, aparentado com as famílias mais ilustres do Reino. Os Mirandas–Henriques tiveram posição de excepcional relevo entre a nobreza lusitana. Desde o século XVII se entrelaçaram com a família dos Condes de Avintes. Uma neta do 1º Conde, Teresa de Borbom, filha do 2º Conde (D. Antônio de Almeida), casou em 1604, com D. Álvaro da Silveira e Albuquerque, que foi Governador do Rio de Janeiro, de 1702 a 1704, e faleceu em 1716. Entre outros filhos, tiveram Maria de Borbon, que casou com Antônio de Miranda Henriques, Senhor das Vilas de Carapito e Cadriceira, Comendador de Santo Estevão de Passos, na Ordem de Cristo e outras; foi Governador e Capitão General de Mazagão, do Conselho de Sua Majestade. Foram pais de José Joaquim de Miranda Henriques, que nasceu a 4 de dezembro de 1718, e casou com a Condessa Ana de Lima, viúva do 4º Conde da ilha – e de Manuel de Miranda Henriques, Cônego da Basílica Patriarcal, nascido a 30 de abril de 1722 (1). Sobre a origem desta família escreve o Visconde Sanches de Baena (Indice Heráldico, pág. LXXXVI): “Henriques, de Castela . Descende esta família, sem dúvida, de D. Fernando Henriques, filho natural do rei D. Henrique de Castela e de D. Brites Peres de Ângulo, que vindo para Portugal, foi neste reino tratado como filho de rei, e dele procedem os senhores das Alcáçovas, e por fêmea todos os Miranda Henriques, e muitas outras famílias; porque todos folgavam de aparentar com eles. São suas armas o escudo mantelado: os dois campos altos vermelhos, e em cada um seu castelo de ouro, o de baixo de prata com um leão vermelho.” Luís de Miranda HENRIQUES, “herdeiro da casa de seu pai”, comendador de S. Julião, Santo André de Sever, Santa Maria de Pena Águia e de Santa Eulália de Balzar, na Ordem de Cristo, casou , em 3 de dezembro de 1702, com Madalena Luíza de Borbon, irmã de D. Pedro de Mascarenhas de Carvalho, nascido em 1670, feito Conde S. Domil por D. João V, que o despachou para Vice-Rei da Índia, em 1732. Luís de Miranda Henriques foi coronel do Regimento da Armada e General de Batalha, posto em que serviu na guerra de 1704”. (D. Antônio Caetano de Souza, op. cif. vol. XI, págs, 910 e segs). O Rio de Janeiro foi governado, de 1633 a 1637, por um Miranda Henriques – Rodrigo – que foi Cabo Militar da Praça da Baía, Capitão da Companhia de Arcabuzeiros, e sucedeu a Salvador Correa de Sá e Benevides no governo de Angola, onde faleceu, em 1652. (Pizarro – Memórias Históricas do Rio de Janeiro, tomo II, PÁG. 250: Baltazar da Silva Lisboa – Anais do Rio de Janeiro, pág. 113, tomo I). Quanto às armas dos Mirandas-Henriques, assim se expressa G.L. dos Santos Ferreira (Armorial Português, Lisboa, 1925, pág. 167, I Parte); ________________________ (1)Sobre os Miranda-Henriques ler o Cap. XV do Vol. XVI da História Genealógica da Casa Real Portuguesa, 1743, de D. Antônio Caitano de Souza, intitulado “De D.Branca de Eça e sua descendência”, pág.764 “765 --- Henriques (de D. Fernando Henriques). De vermelho, com um castelo de ouro, de três torres; mantelado de prata, carregado de dois leões de púrpura, o da direita voltado (2). “Timbre --- O castelo do escudo, a torre do meio encimada por um leão de púrpura, sinte. O fundador da família Miranda-Henriques no Brasil, o velho Capitão-Mór, pertencia ao ramo Sandomil, isto é, à mais alta nobreza de Portugal. No perfil do Marquês de Pombal, Camilo Castelo Branco descreve (págs.17 a 41) o torneio havido em Lisboa, em 1738, por iniciativa do Visconde de Vila Nova de Cerveira, estribeiro-mór da Princesa do Brasil , o qual “convocou trinta e dois fidalgos da primeira grandeza, para festejarem o natalício da futura rainha D. Maria Vitória, com escaramuças militares, ao estilo africano, e corrida de touros pelos fidalgos mais peritos e celebrados nessa prenda”. Os nobres constituíam quatro grupos ou fios, de oito cada um, encabeçados por um guia. O 4º grupo era assim composto: GUIA Conde S. Miguel {D. Francisco de Meneses (Ericeira) [Visconde de Vila Nova de Cerveira (Teles) CAVALEIROS {D. Álvaro José Botelho (S. Miguel) { Francisco Xavier de Miranda Henriques (Sandomil) { D. Marcos de Noronha (Arcos) { José Joaquim de Miranda Henriques CONTRA-GUIA D. Luís de Souza (Calharis) Eis a alta Hierarquia do Capitão-Mór que, no ano seguinte àquela cavalhada, assumia o governo do Rio Grande do Norte, no qual se manteria por quase doze anos, austero, decente, de uma proibidade proclamada pelos documentos da época e pelos historiadores que têm apreciado a sua administração naquela Capitania e nas do Ceará e da Paraíba. Tendo assumido o governo a 18 de dezembro de 1739, deixou-o a 30 de maio de 1751. Foi muito combatido, em virtude, única e exclusivamente, de sua irredutível integridade, que não vacilava em contrariar interesses prejudiciais à causa pública. O Senado da Câmara de Natal chegou a representar a EL-Rei contra o Governador, um pouco desprimorosamente, diga-se de passagem, porque ele já estava aguardando substituto quando ocorreu a lembrança da representação: “Temos por notícia que se acha provido Pedro de Albuquerque e Melo para Capitão-Mór desta Capitania ... Diremos a V. Majestade que os governadores por estarem a mais de três anos causa grande descômodo ao povo, porque se afeiçoam a algumas pessoas e por razão destas fazem injustiças. “ (Tavares de Lira - História do Rio Grande do Norte, pág. 325). (2) “Em Espanha trocam a ordem do mantelado, tomando por lugar principal o mantel, e por lugar secundário o campo do escudo . Assim usam, em Portugal, a casa das Alcáçovas e os Miranda-Henriques.” As armas dos Miranda-Henriques ornam o teto do Paço de Sintra. (Anselmo Braancamp Freire – Os Brasões da sala de Sntra, vols.) Sobre ele escreveu o ilustre historiador norte-rio-grandense, desembargador Antônio Soares, na “República”, de Natal, 13 de julho de 1930: Miranda Henriques era Moço Fidalgo da Casa Real e contava, ao tempo da nomeação, 18 anos, 11 meses e 29 dias de serviço no Reino de Portugal e na praça de Mazagão, a princípio como soldado de Cavalaria no regimento de que foi Coronel-Brigadeiro o Marquês de Marialva. Em 1733, ainda em Mazagão, continuou voluntariamente no serviço da praça, como soldado infante, passando depois a cavaleiro, “acobertado com armas e à sua custa” –e outra vez soldado infante, ocupou o posto de capitão da infantaria, por patente do governador da dita praça, João Jacques de Magalhães. Em todo esse tempo, “sem nenhuma nota” -- diz a Parente Real – Miranda Henriques achou-se em várias ocasiões de combates travados contra os mouros, mostrando “valor e assistindo as suas obrigações com pontualidade e obediência”. Nos dois anos seguintes, entrou em novos reencontros, portando-se com abnegação e coragem. Em 1736, constando que uma embarcação moura achava-se ancorada para dentro do cabo de Azamor, o governador de Mazagão, Bernardo Pereira de Berredo, enviou, para capturá-la, dois barcos armados em guerra, indo um deles o capitão Miranda Henriques, que agiu “com grande valor e distinção”. A diligência foi executada com êxito, conseguindo os expedicionários , na mesma noite, a rendição da nau inimiga, que, com a guarnição de 28 homens e o seu carregamento de fazendas, foi, pela manhã, conduzida para Mazagão .” Miranda Henriques, deixando o governo do Rio Grande do Norte em 1751, regressou ao Reino, segundo se presume.Em 22 de abril de 1755, assumiu o Governo do Ceará, deixando-o em 11 de janeiro de 1759. Em 20 de abril de 1761, assumiu o governo da Paraíba, que deixou a 20 de abril de 1764. Era pobre , segundo o testemunho dos contemporâneos e segundo se infere da altiva carta que endereçou ao rei, em 20 de março de 1757, queixando-se das misérias que passava, com o ridículo vencimento de Cr.$ 400,00 anuais, tendo chegado ao ponto de tomar um empréstimo de Cr.$ 4.100,00 ao cofre dos órfãos, e se não fora a intervenção de seu secretário, Caetano José Correa, figuraria o nome da autoridade mais graduada da capitania entre os daqueles que mendigaram do governo esse pequeno obséquio (Barão de Studart – Notas para a História do Ceará). Endereçou uma petição ao Capitão General de Pernambuco, requerendo uma anuidade de Cr.$ 200,00 para residência, pois no Rio Grande do Norte tinha direito à aposentadoria, e no Ceará não a tinha, embora a tivesse o ouvidor. O Capitão General concedeu-lhe o favor pleiteado. Seu ato, porém, não foi aprovado, e Miranda Henriques foi intimado a restituir aquela importância ao erário. Durante os largos anos em que exerceu aquele cargo, em três Capitanias, não logrou nenhuma melhoria nos proventos que auferia: Cr.$ 400,00 anuais. Acabou, após uma permanência tão demorada no nordeste brasileiro, se afeiçoando à região, onde se fixou definitivamente, após a sua missão governamental na Paraíba. Adquiriu ali uma propriedade, tradicionalmente conhecida por “Bolandeira”, em Areia, proveniente de um primitivo engenho de descaroçar algodão. Seu primogênito e homônimo, patriarca sertanejo, era chamado “Xavier da Bolandeira’. Toda a família saída daquela terra mater passou a ser nomeada “Bolandeira”, como um título de nobreza, revivescência de velho costume feudal que vinculava à terra o destino de seus fundadores e povoadores. A família Miranda Henriques, no Nordeste, procede deste venerando Capitão-Môr, que faleceu em avançada idade, na Paraíba. Espalhou-se pelo Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco, e seus descendentes conservam aquelas virtudes esplêndidas que eram atributo do digno genearca. É uma grei imensa de fazendeiros, comerciantes, doutores, políticos, sacerdotes. Em Pernambuco nasceu Antônio Henriques de Miranda, e, na Paraíba, Manuel Lobo de Miranda Henriques, filhos de João José de Miranda Henriques, o segundo dos quais foi revolucionário em 1817, tendo permanecido preso nas Cadeias da Relação da Baía: Presidente das Províncias de Alagoas (1831) e Rio Grande do Norte (1833): deputado geral, eleito a e reconhecido, à Câmara nati-morta de 1842. Foi o pai de Aristides Lobo, que era, assim, um legítimo Miranda Henriques, nascido na Paraíba. Membro eminente desta família foi o Arcebispo D. Adauto Miranda Henriques, lustre do episcopado brasileiro, falecido em 1935. Era primo e amigo do meu avô materno, Augêncio Virgílio de Miranda Henriques. Em sua homenagem é que recebi, na pia batismal, o nome que eu tenho. Em uma de suas visitas pastorais pelo interior do Rio Grande do Norte, àquele tempo sob a jurisdição episcopal da Paraíba, fui por ele crismado, em Mossoró, onde residiam meus pais e avós. De S. Excia. Revma. recebi preciosas informações sobre as origens da família no Nordeste. Cartas infelizmente extraviadas quando transferi minha residência para o Rio de Janeiro. Da correspondência com que honrou, resta apenas um cartão, em que resolvia uma dúvida genealógica, assim redigido: “Exmo. Am.º e parente Dr. Adauto da Câmara. Afetuosas saudações. A causa da demora de minha resposta à sua prezada carta foi a pesquisa que fazer, sem nenhum resultado, infelizmente. Apenas fiquei certo do que supunha o Exmo. Sr. Dr. Soares (3), isto é, o chamado Capitão-Môr do engenho Bolandeira, na freguesia da Cidade de Areia, era o filho mais velho do Capitão-Môr que deixou o Governo desse Estado em 1751. Certamente esse título de Capitão-Môr seria de herança. Com os meus afetuosos cumprimentos, faço os mais sinceros votos de felicidade verdadeira ao nosso bom Deus. D. Adauto A. de Miranda Henriques. Paraíba, 12-VIII-1930.” Meu bisavô materno, Antero Frederico Borges de Miranda Henriques, era neto do Capitão-Môr e Governador Francisco Xavier de Miranda Henriques, entroncado, assim, na melhor gente lusitana. Faleceu quase centenário, em Parelhas, Rio Grande do Norte, aos 23 de abril de 1915, deixando uma descendência bíblica: 18 filhos, 110 netos, 119 bisnetos, segundo registrou “A República”, de Natal, noticiando o seu passamento. ________________________ (3)Desembargador Antônio Soares, escritor e linhagista, antigo Presidente da Corte de Apelação e da Academia de letras do Rio Grande do Norte. __________________________________________________ INSTITUTO GENEALÓGICO DO RIO GRANDE DO NORTE

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