quarta-feira, 19 de julho de 2023

 A chaga do preconceito 

Padre João Medeiros Filho 

Segundo Albert Einstein, “é mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito.” Este consiste na opinião formada sobre algo ou alguém, antes de conhecer o objeto do juízo, sem fundamento lógico. Cristo testemunhou diversos tipos de posturas preconceituosas. Os Evangelhos e Atos dos Apóstolos relatam a diferença de tratamento dispensado aos seguidores do Mestre por parte de seus contemporâneos, pertencentes a movimentos religiosos. Antes de Jesus, já existia uma animosidade entre judeus e samaritanos (cf.João 4, 9). Os fariseus, escribas e hipócritas menosprezavam os discípulos do Senhor (cf. Mt 12, 3- 6). Ele mesmo era desdenhado. “Ora, não é Ele o filho do carpinteiro?” (Mt 13, 55). Contra essa forma de relacionamento se insurgiu o apóstolo Paulo: “Não há maisjudeu nem grego..., escravo nem livre, todos são iguais em Jesus Cristo (Gl 3, 28). O preconceito fica abscôndito nos porões da política e ciência, das etnias, culturas religiões etc. Em suas diferentes manifestações, leva ao desconhecimento da riqueza latente no outro. Ninguém é capaz de se renovar e aperfeiçoar sem diálogo e escuta serena do próximo. Não raro, a mídia denuncia condutas e situações, acentuadamente desiguais. Entretanto, tais iniciativas costumam ser seletivas, revestidas de carga ideológica e despidas do verdadeiro sentimento humanista. Providências legais e de cidadania acabam sendo diluídas, ignoradas e esquecidas. Urge construir uma base sólida de humanismo, capaz de promover a adequada compreensão e o respeito ao semelhante. Assim, pode-se tocar no coração de cada indivíduo, a partir de um amplo processo educativo. Não se muda uma mentalidade apenas por leis e decretos. É preciso atingir o âmago da alma, convencendo de que somos feitos do mesmo barro. O Livro dos Provérbios já lembrava: “O rico e o pobre têm algo em comum: o Senhor é o criador de ambos” (Pv 22, 2). O cristianismo poderá oferecer fundamentos essenciais de humanidade. O Sermão da Montanha contém uma interpelação sempre atual, conclamando contra as ofensas ao semelhante. Jesus orienta a não faltar com o respeito devido à dignidade da pessoa. Mas, por fragilidade emocional,soberba e apego às próprias convicções, o ser humano despreza as lições do Evangelho. Esquece o que ali se ensina: “Tudo, pois, quanto quereis que os outros vos façam, fazei, vós também a eles” (Mt 7, 12). O ser humano deve revestir-se de uma espiritualidade marcada de solidariedade e busca interior. “Só se vê bem com o coração”, afirmava Exupéry. O preconceito nasce da visão negativa e presunçosa sobre pessoas, situações e instituições. O cristianismo é luz, podendo contribuir para debelar atitudes intolerantes. Traz um conjunto de indicações que, se devidamente acolhidas, poderão mudarsentimentos perversos. É salutar a recomendação do apóstolo Paulo: “Não te deixes vencer pelo mal, vence antes o mal com o bem” (Rm 12, 21). Trata-se de um princípio basilar para neutralizar palavras e gestos discriminatórios. A orientação paulina abre um fecundo itinerário para enfrentar concepções e visões distorcidas. Assim, ao invés de excluir e marginalizar, priorizam-se o bem-estar e a paz do semelhante, mormente daqueles que carregam o peso da rejeição. Os postulados cristãos têm força para romper o círculo vicioso que aprisiona a sociedade em uma convivência ilusória, injusta e com dinâmicas excludentes. Na visão do cristianismo, o preconceito é diabólico teologicamente. Segundo os exegetas, o diabo é tudo aquilo que divide e exclui. Os gestos de aversão serão vencidos com o amor fraterno, como antídoto para discriminações de diferentes matizes. A lógica cristã não pode ser emaranhada e engolida por relativizações. Assim, a mensagem de Cristo cumprirá seu papel profético, capaz de levar a sociedade a mudanças. É fundamental assimilar os ensinamentos éticos e bíblicos, capazes de inspirar a renovação do tecido sociopolítico do Brasil, permitindo ao país livrar-se de uma convivência eivada de divisões e radicalismo. O preconceito é fruto da arrogância, já presente em Eva e Adão, sequiosos de superioridade. O apóstolo Pedro definiu a visão cristã: “Deus não faz distinção de pessoas. Ao contrário, aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença” (At 10, 34).

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