sábado, 30 de julho de 2022

 

A FOME NUNCA FOI A ESTAÇÃO
ALMEJADA PELO HOMEM...
ELA MATA DESNUTRINDO O QUE DE CIDADANIA POSSUI ESSE SER.
Felizes os que a viram de frente, e pelo descuido do seu olhar mortífero, tornaram-se
sobreviventes para na condição de pintores, pincelarem suas cicatrizes na tela viva ou de escribas para escreverem no pergaminho da história, o drama que o ser humano, de forma travosa consegue vivê-lo como vitima e ao mesmo tempo como sujeito que lhe impôs a sublime derrota, de não permitir que ela continui a ceifar vidas de inocentes.
As minhas veredas além de estreitas e espinhosas, elas sempre foram um paginar de relatos trazidos pelos meus ancestrais, principalmente os meus avós paternos. Coincidentemente nasceram na seca de 1898.
Ainda adolescentes, viveram na segunda década do Sec. XX, as terríveis secas de "Quinze " e "Dezenove". Na primeira, dizia minha avó Aninha: "ficaram só as amarras e os chocalhos". Na segunda, "já não havia mais teréns, a preocupação maior, era salvar nossa vida tão magrenha".
Os homens ganhavam os carrascais da caatinga, para colherem nos bancos de bromélias espinhentas (mancambira), os flocos de sua polpa para fazer "n'água e sá", o cuscuz. E de ressaltar que em muitas ocasiões, a água minguada, era colhida nos tubérculos existentes na raiz dos umbuzeiros, trabalho a cargo das mulher.
Nas secas de 1928, 31-32-33, meu pai menino.
Tempos depois, já com existência nossa, trazia um relato estarrecedor. Vovó perdera por fome e deficteria duas crianças, numa tenda na construção do Itans* em Caicó. Meu avô era tropeiro-tangerino, levara a família para as adjacências do canteiro daquela obra.
Então veio a década de cinquenta, começara com seca e fechara com o terrível ano de magrém, 1958. Quando, nasci para minha freguesia e para o mundo dos que tiveram o privilégio de entrar na lista dos desasnados.
De ressaltar que, fiz essa discorrência para dizer como sertanejo, que a fome ela é implacável com a vida. E na historicidade dos povos do bioma da caatinga, ela é um dos vetores de muitas vidas ceifadas. O outro são as epidemias. No momento esse vírus de destruição implacável, mais uma vez trazendo a morte a milhares por sua incursão direta e pela fome de milhares de pobres que não são assistidos pelo poder público .
Essa estação atual, é de longe a mais destruidora de vidas de todos os tempos em nosso País.
J.E.S.

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