segunda-feira, 26 de março de 2012


PAULO, simplesmente PAULINHO

Não era pessoa do meu cícrulo de amizade, apenas o conhecia do Banco do Brasil, mas sempre foi cordial comigo e me tratava pelo meu nome - Dr. Carlos Gomes.
Diariamente ficava nas cadeiras da lanchonete do Nordestão - Tirol e, quando mais apressado por ele passava, o tradicional gesto dos dois polegares erguidos.
Tomei conhecimento de sua morte por um texto de João da Mata Costa, postado pelo Sebo Vermelho.
Pouco sabia de sua história, mas o texto recebido dá uma pista de muita coisa de sua vida:

"Paulinho, Grande Paulinho...

Meu amigo de sebos e bares morreu. Ninguém sabe como. Morando sozinho não tinha ninguém para testemunhar o triste desenlace. O corpo só foi encontrado três dias depois da morte.
Um grande boêmio conhecia todos os bares. Inconveniente algumas vezes naquilo que a solidão aporrinha e dói.
Carente nos seus tantos anos de muita farra. Tomava cana e pagava bebida para todo mundo. Seu ultimo rastro ele deixou no sebo de Abimael quando no ultimo sábado esteve lá - como sempre fazia - tomando sua caninha com tangerina. A tangerina ainda estava lá, mas de Paulinho só a saudade e as muitas lembranças.
Galanteador brincava com todas as mulheres. A algumas ele propunha casamento. Dizia que daria tudo. Muito simpático e bonachão, conhecia bem a cidade que ele sorveu em largos tragos. Caia algumas vezes da cadeira.
Os donos de bar cobravam o que queria por suas doses. No antigo Bar do Nazi ele tinha a sua cota. Todos nós tentávamos regular a cachaça de Paulinho. Ele bebia todas e ficava inconveniente a partir da segunda lata de Pitu. Elogiava o peito da mulher do amigo. Dizia gostar de Lenita.
Outras vezes sacava a plenos pulmões: – eu quero o seu ...
Aposentado do Banco do Brasil ganhava bem para viver a sua solidão. De alguns lugares foi expulso. Certa vez isso aconteceu ao tomar banho nu na piscina da AABB. Outra vez mijou sobre os pratos vazios e copos de um bar.
– Porra, Paulinho disse um amigo!
E Paulinho ficava só, e sua pena não era maior porque tinha dinheiro para pagar tudo. Um dos maiores graus de loucura é quando alguém rasga ou joga dinheiro fora – dizem os entendidos. Certa vez Paulinho foi posto a teste e alguém o provocou – Quero ver você rasgar dinheiro! Pois, Paulinho rebolou dinheiro fora em plena Avenida Deodoro. Outra vez amanheceu nu numa calçada. Essa mania de bêbado ficar nu e lascivo, nunca entendi.
Enfim, Paulinho foi embora e nos deixou mais só. Alguns ficarão sem sua dose. Eu ficarei com a sua lembrança mais terna de alguém muito amigo e solitário. Inconveniente para alguns. Na ultima feira de livro na UFRN ele tomou todas e falava com cada pessoa ou aluno que transitava nos corredores. A cidade alta perde um dos seus últimos grandes boêmios.
Aquela laranja ninguém teve coragem de comer. A cerveja de hoje estava diferente, mesmo com todos os amigos. A caetana esgoelava suas garras. O cheiro de morte no ar e esse calor dos infernos de Dante."

Postado por SEBO VERMELHO às 15:27 (Domingo, 25 de março)

Para mim a imagem que ficou é um pouco diferente. Nunca o vi bêbado, mas sempre muito alegre. Parecia-me alguém que sobrevivia de crises passadas. Simpático. Sempre que passar pela lanchonete do Nordestão estarei estendendo o polegar em sua homenagem.

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