quarta-feira, 2 de julho de 2025

 

Laivos de dicotomia, hipocrisia e farisaísmo

Padre João Medeiros Filho

Há pessoas eruditas, portadoras de títulos acadêmicos, bem-sucedidas social, intelectual e economicamente. Entretanto, na convivência cotidiana são irritadiças, agressivas, contraditórias, inconsequentes e imaturas emocionalmente. Não toleram críticas e são sequiosos de elogios e bajulação. Nelas, observa-se um conflito entre o racional e o emocional. Tais indivíduos beiram à bipolaridade e não se apercebem disso. Quando discursam, são eloquentes e precisos. Expressam-se com lógica. Arrancam da memória argumentos consistentes e citações apropriadas. Mas, no convívio diário se contradizem em sua postura social. Chegam a tratar os subalternos com indiferença, desprezo ou arrogância. Ignoram os nomes dos serviçais, tampouco dão a todos a mesma atenção. Segundo o apóstolo Tiago, “fazem acepção de pessoas” (Tg 2,19). E, o pior, declaram ser cristãos. Costumam mostrar-se alheios ou insensíveis diante de alguém em situação angustiante de saúde, em dificuldade financeira, afetiva ou psicológica. Afirma o apóstolo João: “Quem não ama o seu irmão a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê” (1Jo 4,20).

Certa vez, presenciei uma situação constrangedora na postura de uma senhora culta e admirada na sociedade. Quando se preparava para ir a um evento, não encontrou uma de suas joias favoritas (uma corrente de ouro com um pingente de esmeralda). Após intensa procura pela casa, desconfiou de uma funcionária – há quinze anos trabalhando ali – pressionando-a a devolver-lhe aquela preciosidade. A colaboradora negou com veemência o “furto”. Mas, todas as suas palavras e lágrimas foram inúteis. Nada foi suficiente para convencer a patroa de sua inocência. Com ofensas, gritos histéricos e xingamentos, ela foi demitida sob a ameaça de comunicação da ocorrência à polícia. Tal fato é recorrente em vários lugares. Muitos desconhecem a recomendação bíblica do hagiógrafo no Livro dos Provérbios: “Quão melhor é possuir a sabedoria do que o ouro, e adquirir a prudência, mais preciosa do que a prata” (Pr 16, 16). Vale lembrar ainda as palavras do Mestre da Galileia: “Não julgueis pela aparência. Julgai de acordo com a justiça” (Jo 7, 24).

No dia seguinte, a aludida senhora contou o episódio à filha, que acabara de retornar de uma recente viagem à Argentina. Perplexa, a moça reagiu: “Mamãe, o seu colar está comigo. A senhora não se recorda de que me emprestou para eu ir ao casamento de uma amiga?” Isto faz lembrar a admoestação do apóstolo Paulo: “Portanto, não julguemos mais uns aos outros. Em vez disso, tomai a decisão de não pôr no caminho do irmão qualquer obstáculo ou pedra de tropeço” (Rm 14,13).

Freud dizia que “não somos senhores em nossa própria casa.” Referia-se à eventual impotência do eu, em relação aos instintos e impulsos. Se o consciente é racional, o inconsciente é passional. Não é fácil manter o equilíbrio entre razão e emoção. A primeira habita o terreno do intelecto; a segunda, o do afeto. O desafio é evitar que a razão leve a decisões precipitadas e a emoção provoque atos com consequências nefastas. O ideal é não ser movido apenas por tais sentimentos. De acordo com a mitologia grega, todos têm um lado apolíneo e outro, dionisíaco. Apolo e Dionísio eram filhos de Zeus. O primeiro era o deus do bom senso, do equilíbrio e da razão; o segundo, a divindade do desvario, da bebida, das festas e farras. Contudo, nem sempre é fácil dosar exatamente sonho e realidade, delírio e sabedoria. Manter o equilíbrio é sinal de maturidade.

Às pessoas excessivamente emotivas recomenda-se sempre parar e refletir, conter a imaginação, segurar os arroubos, tentar ver a situação pela ótica do outro. Isso ajuda muito a não perder a serenidade e a constância. Já aos excessivamente racionalistas sugere-se visitar orfanatos, asilos e hospitais. Ali, poderão se deparar com situações passíveis de despertar compaixão e sensibilidade. Deus deseja de seus filhos sabedoria e bom senso. É clássico o pedido de Salomão a Deus, contido no Primeiro Livro dos Reis: “Dá, pois, a teu servo um coração que possa escutar..., capaz de discernir entre o Bem e o Mal” (1Rs 3,9).

terça-feira, 1 de julho de 2025

 



POUCAS E BOAS

RELEMBRANDO ROMILDO GURGEL

 

Valério Mesquita

mesquita.valerio@gmail.com

 

01) Romildo Gurgel foi um homem fiel às amizades e às inimizades também. Dele sempre se poderá dizer a penúltima palavra, mas nunca a última. Temperamento explosivo, Romildo era um verdadeiro vulcão. Lutou contra gregos e troianos para consolidar o Tribunal de Contas do Estado, nascido nos anos turbulentos das batalhas políticas do “verde” contra o “vermelho”. E como isso não bastasse, Romildo efetuou com talento e gênio e sem naufrágio, a perigosa travessia da Revolução de 1964, sob a mira dos canhões cuspidores de chumbo do General Meira Matos. Como uma sentinela de resistência, passava o dia e a noite no QG do TCE, preparando dossiês e relatórios, defendendo-se contra tudo e contra todos. Ao seu lado, o advogado Varela Barca emprestava o brilho de sua inteligência. Contra cada um dos detratores, Romildo vociferava invectivas e acusações sob o silêncio profissional de Barca. Não se contendo mais, Romildo explodiu: “Barca, Barca, comprometa-se, comprometa-se!!”.

02) O Tribunal de Contas do Rio Grande do Norte muito lhe deve apesar do inegável espírito contraditório e polêmico. Certa noite, num jantar, ouviu o comentário manso e pacífico do colega conselheiro Aldo Medeiros: “Ontem, Romildo, eu tive o prazer de almoçar com o General Meira Matos. Foram momentos agradabilíssimos”. Ao lado, Romildo, ferido, em guerra cansativa e mortal contra o militar, comentou desalentado: “Aldo, você é um homem feliz porque almoça com o General Meira Matos. E eu, o que posso dizer?”.

03) De outra feita, no corredor do prédio do Tribunal, Romildo, sobrecarregado de papéis, com o conselheiro Mota Neto, robusto, quartudo e irrequieto, ao lado do poeta e jornalista Sanderson Negreiros, boa vida e eterno aprendiz dos mistérios circundantes, fez a seguinte saudação: “Dr. Sanderson, a luta é grande. Motinha, você é a própria força da natureza!”.

04) Implacável com os inimigos, Romildo Gurgel atingia, por vezes, as raias do absurdo. Numa contenda com o comerciante Epifânio Dias, homem de bem e respeitável, usava o microfone da antiga Rádio Cabugi (que pertencia ao senador Georgino Avelino, seu parente), para insinuar que recebia cartas elogiosas do seu desafeto e lia um texto inverossímil, para a ira do seu inimigo ouvinte do programa.

 

(*) Escritor


domingo, 29 de junho de 2025

 



São Pedro – PRIMEIRO Papa da Igreja Católica, força viva da cristandade.(*)

São Pedro (1 a.C.- 67), foi um de seus primeiros discípulos e a quem Jesus determinou ser considerado o fundador da Igreja Cristã em Roma e o seu primeiro Papa.

Citado em todos os Evangelhos, tem no dia de 29 de junho a comemoração do seu dia, muito rico nos festejos brasileiros, notadamente no Nordeste.

Nasceu na Betsaida, na Galileia. Filho de Jonas e irmão do apóstolo André, seu nome de nascimento era Simão e era pescador.

Seu conhecimento com Jesus se fez com a interferência de São João Batista. No primeiro encontro Jesus o chamou de Kepha (pedra, em aramaico), Petros em grego. Nessa época de seu encontro com Cristo, Pedro morava em Cafarnaum, com a família de sua mulher.

Foi pela demonstração de fé que Simão (Pedro), enfrentando uma tempestade, andou sobre as águas junto com Jesus. Mas, quando sobreveio o medo afundou, sendo advertido pelo Mestre.

Ainda, pela sua fé em Jesus, não teve dúvida em responder a indagação e reconhecê-LO como o Messias (Evangelho de Mateus) “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Pedro, indiscutivelmente, exerceu uma liderança entre os apóstolos e, por isso, Jesus o escolheu para edificar a Sua Igreja

Nesta passagem, Jesus exalta a fé do apóstolo e o nomeia com o novo nome: Pedro: “Sois Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja” (Mateus, 16:18), recebendo as chaves do Reino dos Céus e representante da Igreja na terra.

Os Evangelhos narram que São Pedro foi o primeiro a entrar no túmulo de Jesus para constatar a ressuscitação, quando Maria Madalena informa que o corpo não estava mais lá.

No ritual da Igreja Católica, um cardeal deve escolher um novo nome quando se torna Papa, como ocorreu quando Simão recebeu a denominação de Jesus, para se chamar Pedro.

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(*) Pintura e texto de Carlos Roberto de Miranda Gomes